São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES

Ex-ministro cogita entrar com ação no STF para questionar isenção de Delgado em processo que deve ser concluído na semana que vem

Dirceu reclama de "parcialidade" de relator

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O deputado federal José Dirceu (PT-SP) protestou ontem contra o que considerou "parcialidade" do colega Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra o ex-ministro no Conselho de Ética.
Dirceu cogita, segundo seu advogado José Luiz de Oliveira Lima, adotar medida judicial para questionar a isenção de Delgado no processo que pode resultar na cassação de seu mandato.
Ele enviará reclamação formal por escrito ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), queixando-se do excesso de opiniões emitidas por Delgado.
Caso não haja resultado, Dirceu poderá entrar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) argumentando que o relator vem questionando a defesa ainda na fase de instrução do processo.
O protesto foi motivado por reportagem de ontem da Folha que revelou que o relator pedirá a cassação de seu mandato. A informação foi obtida junto a colegas de Delgado no conselho. Procurado anteontem, Delgado disse que não comentaria o teor do relatório e que atua com "isenção e sem prejulgamento". Ontem, repetiu: "Se eu tiver a convicção da inocência do deputado José Dirceu, não recomendarei a cassação. Se eu tiver a convicção de sua responsabilidade, recomendarei".
"As várias entrevistas que ele [Delgado] dá questionam rotineiramente as teses da defesa", disse Lima. "Não se trata de cercear a liberdade de expressão, mas de pedir um comportamento condizente com o de relator de um processo ainda em andamento."
Segundo Lima, já houve uma reclamação verbal a Izar. "Aparentemente não foi suficiente, então vamos formalizar por escrito. Se não surtir efeito, estudamos uma medida judicial."
Já existe uma medida judicial de Dirceu no STF, alegando que ele não pode ser cassado por quebra de decoro por não ter exercido o mandato de deputado federal até quatro meses atrás.
Delgado, que pretendia encerrar a fase de investigação ontem, deve fazê-lo na terça-feira. "Acabamos de receber documentos da CPI. Vamos analisar, abrir prazo para a defesa e concluir até a semana que vem", declarou.

Ataque à imprensa
Dirceu divulgou ontem carta na internet na qual diz sofrer processo de desrespeito a direitos civis. "Embora seja uma afronta aos direitos civis condenar alguém sem a caracterização incontestável de sua culpa, a tentativa de neutralizar os adversários mais operativos faz parte da luta política."
Ele rebate acusações de reportagem da revista "Veja" desta semana. Diz que seu amigo Roberto Marques nunca fez saque da conta de Marcos Valério no Banco Rural. Nega que tenha tido negócios com a corretora Bônus-Banval e afirma jamais ter influenciado em empréstimo para a ex-mulher Ângela Saragoça.
Dirceu diz que a revista o atacou de forma "leviana, capenga e pusilânime (...) com frases insólitas, mentiras e informações distorcidas", para caracterizá-lo como "culpado de qualquer coisa" que justifique sua cassação.
A Folha entrou em contato com a direção da revista "Veja" no fim da tarde de ontem, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição. (FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO e KENNEDY ALENCAR)

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