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DEPOIMENTO
Kalid nega ser doleiro de acusados
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à CPI dos Correios, Jader Kalid, que nega ser
doleiro e disse ser consultor financeiro, afirmou ontem que deu
orientação a Ramon Cardoso, sócio do publicitário Marcos Valério de Souza, sobre como enviar
R$ 2 milhões para o exterior.
Esse dinheiro, segundo Kalid,
seria parte dos pagamentos feitos
pelo PT ao marqueteiro Duda
Mendonça relativos a dívidas da
campanha eleitoral de 2002 e a
serviços prestados em 2003.
Kalid negou, no entanto, que tenha feito depósitos em uma offshore -empresa em que os sócios
não são identificados- de Duda
nas Bahamas, a Dusseldorf. Em
depoimento à CPI, o marqueteiro
afirmou que recebeu R$ 10,5 milhões em esquema de caixa dois
do PT nessa conta em 2003.
Duda e sua sócia, Zilmar Fernandes, entregaram à CPI cópias
de faxes recebidos das empresas
de Marcos Valério de Souza com
comprovantes dos depósitos feitos no paraíso fiscal. Eles disseram que possuíam esses documentos porque em um certo momento os números não fechavam
e foi preciso fazer um balanço.
Esses faxes registram como depositante apenas "Jader", que seria Kalid, segundo Geiza Dias, gerente financeira do publicitário
Marcos Valério. Ele nega e diz que
sua participação se resumiu à
orientação dada a Cardoso.
"Eu achei o valor muito alto e
sugeri que ele transferisse, através
do sistema bancário, quantias
abaixo de R$ 500 mil. Eu mostrei
o caminho viável, seguro. Eu disse
que era muito arriscado usar doleiros porque eles estavam sendo
fiscalizados, já tinha o caso Banestado", disse Kalid.
Quanto aos faxes, ele também
justificou como uma consultoria
financeira. "A Geiza estava reclamando que tinha uma mulher
muito grossa ligando para ela, dizendo que o dinheiro não entrava
na conta. Ela não agüentava mais
a mulher xingando", disse Kalid.
O sub-relator de movimentação
financeira, deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR), perguntou se
essa mulher era a sócia de Duda.
"Tudo indica que é", disse ele.
Segundo o consultor, a gerente
financeira teria pedido ajuda a ele
porque não falava inglês e teria
lhe enviado por fax os comprovantes de depósito no exterior.
Depois ele teria apenas enviado
de volta para ela, também por fax.
Em depoimento à PF, Marcos
Valério disse que Kalid foi indicado por Zilmar para sacar os cheques destinados a Duda Mendonça. Já Kalid negou ontem conhecer Duda, Zilmar e o próprio Marcos Valério. Além de Cardoso, o
consultor disse que também prestou serviço para Cristiano Paz,
outro sócio de Marcos Valério.
Para Kalid, Marcos Valério o citou como participante do esquema para "blindar" os reais operadores. Ele disse ainda não acreditar que Duda abriu a Dusseldorf a
pedido de Valério para receber os
R$ 10,5 milhões, porque o custo
de manutenção de uma offshore é
muito alto. "Só para abrir custa
U$ 4 mil e a taxa de manutenção
anual é de R$ 2 mil", disse Kalid.
Kalid dominou a condução da
maior parte de seu depoimento,
arrancando gargalhadas do sub-relator, que conduzia as perguntas, e da platéia. Ele gastou parte
do tempo dando uma espécie de
"consultoria financeira" e palpites
nas investigações da CPI.
Antes de Kalid, a CPI ouviu Haroldo Bicalho, que também negou
ser doleiro, apesar de ter sido preso na operação Farol da Colina, da
Polícia Federal, o que foi considerado "um equívoco" por ele. Bicalho também disse que não conhece Marcos Valério, apesar de ter
relações próximas com Cardoso e
Cristiano Paz. Para Fruet, os depoimentos não trouxeram novidades às investigações da CPI.
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