São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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DEPOIMENTO

Kalid nega ser doleiro de acusados

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, Jader Kalid, que nega ser doleiro e disse ser consultor financeiro, afirmou ontem que deu orientação a Ramon Cardoso, sócio do publicitário Marcos Valério de Souza, sobre como enviar R$ 2 milhões para o exterior.
Esse dinheiro, segundo Kalid, seria parte dos pagamentos feitos pelo PT ao marqueteiro Duda Mendonça relativos a dívidas da campanha eleitoral de 2002 e a serviços prestados em 2003.
Kalid negou, no entanto, que tenha feito depósitos em uma offshore -empresa em que os sócios não são identificados- de Duda nas Bahamas, a Dusseldorf. Em depoimento à CPI, o marqueteiro afirmou que recebeu R$ 10,5 milhões em esquema de caixa dois do PT nessa conta em 2003.
Duda e sua sócia, Zilmar Fernandes, entregaram à CPI cópias de faxes recebidos das empresas de Marcos Valério de Souza com comprovantes dos depósitos feitos no paraíso fiscal. Eles disseram que possuíam esses documentos porque em um certo momento os números não fechavam e foi preciso fazer um balanço.
Esses faxes registram como depositante apenas "Jader", que seria Kalid, segundo Geiza Dias, gerente financeira do publicitário Marcos Valério. Ele nega e diz que sua participação se resumiu à orientação dada a Cardoso.
"Eu achei o valor muito alto e sugeri que ele transferisse, através do sistema bancário, quantias abaixo de R$ 500 mil. Eu mostrei o caminho viável, seguro. Eu disse que era muito arriscado usar doleiros porque eles estavam sendo fiscalizados, já tinha o caso Banestado", disse Kalid.
Quanto aos faxes, ele também justificou como uma consultoria financeira. "A Geiza estava reclamando que tinha uma mulher muito grossa ligando para ela, dizendo que o dinheiro não entrava na conta. Ela não agüentava mais a mulher xingando", disse Kalid. O sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), perguntou se essa mulher era a sócia de Duda. "Tudo indica que é", disse ele.
Segundo o consultor, a gerente financeira teria pedido ajuda a ele porque não falava inglês e teria lhe enviado por fax os comprovantes de depósito no exterior. Depois ele teria apenas enviado de volta para ela, também por fax.
Em depoimento à PF, Marcos Valério disse que Kalid foi indicado por Zilmar para sacar os cheques destinados a Duda Mendonça. Já Kalid negou ontem conhecer Duda, Zilmar e o próprio Marcos Valério. Além de Cardoso, o consultor disse que também prestou serviço para Cristiano Paz, outro sócio de Marcos Valério.
Para Kalid, Marcos Valério o citou como participante do esquema para "blindar" os reais operadores. Ele disse ainda não acreditar que Duda abriu a Dusseldorf a pedido de Valério para receber os R$ 10,5 milhões, porque o custo de manutenção de uma offshore é muito alto. "Só para abrir custa U$ 4 mil e a taxa de manutenção anual é de R$ 2 mil", disse Kalid.
Kalid dominou a condução da maior parte de seu depoimento, arrancando gargalhadas do sub-relator, que conduzia as perguntas, e da platéia. Ele gastou parte do tempo dando uma espécie de "consultoria financeira" e palpites nas investigações da CPI.
Antes de Kalid, a CPI ouviu Haroldo Bicalho, que também negou ser doleiro, apesar de ter sido preso na operação Farol da Colina, da Polícia Federal, o que foi considerado "um equívoco" por ele. Bicalho também disse que não conhece Marcos Valério, apesar de ter relações próximas com Cardoso e Cristiano Paz. Para Fruet, os depoimentos não trouxeram novidades às investigações da CPI.


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