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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Elogio de Lula foi senha para tirar Berzoini
Em entrevista, presidente criticou precipitação e disse que não via "necessidade de tomar nenhuma decisão política agora"
Petista reconhece que a crise
do dossiê foi uma das razões
que impediram sua vitória
no primeiro turno e diz que
operação foi uma "cretinice"
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
MALU DELGADO
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em provável tentativa de
mostrar distanciamento da decisão que afastou Ricardo Berzoini da presidência do PT, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, candidato à reeleição, defendeu ontem pela manhã, antes do anúncio da saída, a permanência do petista no cargo.
Em entrevista a rádios do
Nordeste, no Palácio da Alvorada, Lula disse que a decisão sobre Berzoini -a quem chamou
de "homem importante no PT"
e "quadro político de muita envergadura"- era do partido,
mas fez um discurso cauteloso:
"Eu não vejo necessidade de tomar nenhuma decisão política
agora, enquanto você não desvendar esse processo [da compra do dossiê]. Eu não vejo isso
[afastamento de Berzoini] ajudar em nada nesse momento".
Mas ele classificou a tentativa de compra do dossiê de uma
"cretinice" que impediu sua vitória no primeiro turno.
Pouco depois, começava a
reunião da Executiva do PT para discutir o futuro de Berzoini
e adotar "punição exemplar"
contra petistas que se envolveram na tentativa de compra do
dossiê contra tucanos. O discurso de Lula foi considerado
por petistas a senha para que
Berzoini entendesse o real desejo do presidente. "Lula elogiou todos os ministros que demitiu", explicou um petista.
"Os sinais dele são sempre
transversos", afirmou outro.
Ao elogiar Berzoini, Lula
criou um ambiente político para dar legitimidade ao afastamento. No início da tarde, auxiliares de Lula ainda tinham dúvidas sobre o efeito da saída de
Berzoini. O temor era deixar
transparecer que a troca de comando do PT pudesse ser vista
como atestado de culpa: Berzoini seria o elo entre o caso do
dossiê e a campanha de Lula.
Essa ponderação foi feita na
reunião da Executiva. Os petistas concluíram que a oposição
usaria a saída de Berzoini como
um fato negativo, mas faria o
mesmo se ele fosse mantido no
cargo. A "faxina" no PT oferece
a Lula um amparo ético no debate, segundo os petistas, e dá
tranqüilidade aos filiados.
Ao explicar a decisão, Berzoini negou ter sido pressionado
por interlocutores de Lula e rebateu a tese de que dá um atestado de culpa: "As ilações podem ser feitas. O que eu estou
manifestando é uma posição
pessoal, de responsabilidade
militante e de total abertura
para as investigações".
Ex-ministro de Lula, Berzoini deixou a coordenação geral
da campanha petista no último
dia 20, após revelação de que
seu ex-secretário Oswaldo Bargas procurou a revista "Época"
para tentar publicar material
contra tucanos. Bargas integrava a campanha de Lula e está
envolvido no caso do dossiê.
Lula deu a entender que a
saída de Berzoini poderia ser
um movimento precipitado:
"Quando houve a crise [do
mensalão] no ano passado, as
pessoas diziam: o PT acabou, o
PT acabou. Pois bem, foi a legenda mais votada outra vez,
em uma demonstração de que o
povo sabe separar o joio do trigo. O partido pune quem é culpado e a vida continua", disse.
Em Petrolina, ao defender o
ex-ministro Humberto Costa,
Lula citou a máfia dos sanguessugas quando queria mencionar o esquema dos vampiros:
"A questão dos sanguessugas
começou em 2001, quando Serra era ministro. Oitenta por
cento das cidades [envolvidas]
são do PFL e do PSDB", disse.
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