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RIO DE JANEIRO
Comerciantes da cidade natal do governador Anthony Garotinho pressionavam fiscalização estadual
Multas de ICMS diminuem em Campos
ISABEL CLEMENTE
enviada especial a Campos (RJ)
Os comerciantes de Campos,
onde o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), foi prefeito por duas vezes, conseguiram, depois de muito pressionar
o governo, reduzir a ação fiscalizadora do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) no município em outubro.
Por não aceitar essas pressões, o
secretário Carlos Antônio Sasse
(Fazenda) pediu demissão. Nos
primeiros 30 dias sem sua gestão,
o número de multas lavradas em
Campos caiu 37% em outubro.
A pressão teve o apoio do prefeito de Campos (a 298 km do
Rio), Arnaldo Vianna, vice de Garotinho que assumiu o posto
quando o então prefeito saiu em
campanha, no ano passado, e intercedeu pelos comerciantes.
Dados obtidos pela Folha mostram que o número de autos de
infração no município, que vinha
subindo desde julho, recuou. Em
julho foram 64, em agosto, 76, em
setembro, 122, e em outubro, 77.
A Folha esteve na cidade em
duas ocasiões. Os 23 fiscais de
renda que lá trabalham são concursados, ainda não têm estabilidade e ganham um salário próximo a R$ 5.500. Alguns deles não
quiseram se identificar por medo
de perder o emprego. Eles se diziam inseguros e sem respaldo
para trabalhar, já que o governador dissera que os afastaria. Os
depoimentos foram colhidos antes da chegada do novo inspetor,
Cláudio Borba, semana passada.
Em setembro, quando foi registrado o recorde de autos de infração, a arrecadação de ICMS em
Campos, que vem subindo na
comparação com 98, caiu em relação a agosto. Foi a segunda pior
do ano (R$ 1,128 milhão) -a do
Estado como um todo atingiu o
terceiro recorde consecutivo.
Em resposta a solicitação da Folha, a Secretaria de Fazenda prometeu passar os dados de outubro, mas não o fez alegando não
tê-los fechado até sexta-feira.
O coordenador de Comunicação Social, Carlos Henrique Vasconcelos, informou que o governo considera os números de autos
de infração em Campos "absolutamente normais", dentro de variações já previstas. "A arrecadação do Estado permanece em curva de crescimento, e a queda em
Campos não revela nenhum
afrouxamento da fiscalização."
Segundo ele, "não tem sentido
os funcionários se sentirem inseguros, porque têm todo o respaldo para punir os sonegadores".
O antigo inspetor de Campos,
Anselmo Garcia, foi exonerado
do cargo há dez dias, transferido
para outro departamento.
Há um mês, quando Sasse pediu demissão, Garcia colocou seu
cargo à disposição. Sua equipe estava sendo acusada pelos comerciantes de Campos de praticar extorsão. Nenhuma denúncia foi
formalizada. Desde então, Garcia
não deu mais entrevistas.
O presidente do sindicato dos
fiscais de renda do Rio, Joaquim
Monteiro, defende que uma investigação seja feita para apurar
se houve "excessos" dos fiscais.
O novo chefe da inspetoria,
Cláudio Borba, está orientado
"para agir com profissionalismo e
bom senso, nem com mais nem
com menos rigor", afirmou Luís
Carlos Magalhães, chefe de gabinete do novo secretário da Fazenda, Fernando Lopes.
Segundo Magalhães, não houve
ordem para diminuir a fiscalização, e seria até natural o ritmo da
ação ter caído em Campos, em razão da crise que houve.
A carta de exoneração de Sasse,
responsável por uma das principais bandeiras do atual governo
-o aumento consecutivo da arrecadação de ICMS-, foi entregue dois dias depois de sua ida a
Campos, em setembro, para ouvir, por determinação de Garotinho, os comerciantes locais.
Segundo os comerciantes e o
prefeito de Campos, Sasse não
atendeu às reivindicações: troca
de fiscais e ação fiscal instrutiva
(com mais prazos e alertas).
Para o prefeito, havia uma ação
mais rígida em Campos do que
em outros municípios por ser a
terra do governador. Ele acha que
com o abrandamento da fiscalização, os comerciantes têm a obrigação de manter a arrecadação.
"Caso contrário, vou cobrar.
Eles queriam que a fiscalização
fosse suspensa até a equipe de fiscais ser trocada, mas jamais vou
pedir vista grossa porque isso está
errado", disse Vianna.
O presidente do CDL (Clube
dos Dirigentes Lojistas), Marcelo
Mérida, disse que a maioria dos
autos lavrados "era fruto de erros
de burocracia, e não de sonegação". Para ele, o momento econômico não "comporta um empresário ser multado por isso".
Como a demissão de Sasse não
era esperada, os comerciantes resolveram aguardar e não denunciar ninguém por extorsão.
Por considerar suspeitos os fatos que cercam a exoneração de
Sasse, o deputado estadual Paulo
Melo (PSDB), presidente da Comissão de Orçamento da Assembléia Legislativa do Rio, pretende
colher fatos para pedir a abertura
de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). "Vejo indícios contundentes de um protecionismo exacerbado."
O governo informa não ter recebido notícia de problemas semelhantes aos de Campos em outras
cidades fluminenses. Segundo a
Secretaria da Fazenda, "todas as
inspetorias tiveram acréscimo de
autos de infração".
O episódio em Campos, de
acordo com o chefe do gabinete
do novo secretário, "não foi apurado definitivamente".
Procurado várias vezes, Sasse
negou os pedidos de entrevista.
Apenas confirmou que, há cerca
de uma semana, durante conversa telefônica com Garotinho, foi
convidado para voltar a trabalhar
com o governo, sem detalhes.
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