São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento, acusado de cobrar "pedágio" ilegal de produtores, divulga documentos de solidariedade
MST busca apoio externo contra denúncia

DA REPORTAGEM LOCAL

Sob pressão em razão de denúncias de que cobra um "pedágio" obrigatório de produtores rurais assentados, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) está buscando declarações de apoio entre personalidades estrangeiras.
O movimento está sendo investigado pela Polícia Federal, que tem suspeitas de que esteja forçando pequenos agricultores a pagar uma taxa de 3% sobre os financiamentos que recebe do governo federal para projetos.
Ontem, o movimento divulgou três documentos de solidariedade e apoio à cobrança da taxa. O MST é visto com simpatia por várias organizações e intelectuais estrangeiros.
Assinam os documentos o renomado linguista norte-americano Noam Chomsky, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a prêmio Nobel da Paz Rigoberta Menchú e a Fian, organização não-governamental com sede na Alemanha que se define como "defensora do direito humano a se alimentar".

Contribuição voluntária
A carta de Chomsky é endereçada ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann.
"Venho expressar preocupação com as notícias de que o governo estaria oprimindo o MST por receber contribuições voluntárias de seus membros, prática comum adotada internacionalmente por sindicatos e muitas outras organizações", diz o professor.
Chomsky diz que "espera" que a intenção do governo não seja criminalizar o MST. "O MST tem realizado um trabalho extraordinário de mobilização popular e defesa dos interesses da população mais pobre e sofredora, para resolver o grave problema de grande concentração de riquezas que convive com uma imensa pobreza", afirma o professor.
Já o documento divulgado por Menchú, que se notabilizou por defender os interesses de povos indígenas na América Central, diz que a Nobel da Paz "denuncia com indignação à comunidade internacional os atos antidemocráticos em que o governo brasileiro tem incorrido com o objetivo de acabar com as organizações que têm como bandeira a justa luta campesina pelo acesso à terra".

Líderes assassinados
Por sua vez, a carta da ONG sediada na Alemanha, também endereçada ao presidente, diz que o governo brasileiro "conduz ampla ação coordenada de repressão e desmoralização dos movimentos sociais de luta pela terra, em especial o MST".
Os documentos de Menchú e da ONG Fian citam números iguais: condenam o fato de dez integrantes do MST terem sido assassinados neste ano e de 180 líderes sem-terra estarem sendo processados criminalmente.
Também criticam o fato de o governo federal ter atrasado a liberação de crédito para plantio de 250 mil famílias de produtores já assentados.
A Folha tentou localizar dirigentes do MST ontem, mas não teve sucesso.


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