São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2000

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JANIO DE FREITAS

As sobras da briga

Briga de políticos não é coisa que se leve a sério, se nem os próprios a levam. Os senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, porém, estão levando a sua briga ao nível em que as consequências se tornam imprevisíveis, postas fora de controle por um e por outro. É o que pensa a ampla maioria dos mais perspicazes e experientes no Congresso. E não há ressalva a lhes fazer. Nem crítica à distância em que se puseram, para evitar as sobras.
Daí a curiosidade, ou mais do que isso, para ver o que Fernando Henrique Cardoso colherá ao se envolver, sem motivo identificável, na briga já tão inflamada e que em nada lhe diz respeito. Alguma sobra já é tido como certo que levará.
Na troca feroz de acusações de improbidade, a vez está com Antonio Carlos, que atribui ao adversário influência em irregularidades na Sudam, a Superintendência da Amazônia, por ter indicados seus na diretoria acusada. A Sudam é uma longa história de corrupção e chega a parecer que só foi criada para isso mesmo. Só mesmo no Brasil a Sudam duraria tanto tempo. E, brasileiramente, sem um só caso de punição judicial ou outra.
Ministro da Integração Regional, Fernando Bezerra tomou as medidas de praxe, como foi feito a cada um dos incontáveis escândalos provocados pela Sudam. A atitude do governo estava tomada, portanto, na medida suficiente para não ir até onde devia, nem ser incluído nas acusações. De repente, Fernando Henrique entra no ringue: a apuração das denúncias terá que ir até o fim, rigorosa, e por aí em diante.
Talvez nem se tenha dado conta, na necessidade compulsiva de falar, ou de se ouvir, mas tomou partido na briga. Em detrimento do presidente do PMDB que não lhe tem faltado e continua lhe sendo indispensável. Fortalece o lado de Antonio Carlos quando no PMDB começa, afinal, um movimento pela ação partidária em defesa de Jader Barbalho.
Investigação de improbidades, todo o país sabe, não é com o governo Fernando Henrique nem com o próprio. Mas se a promessa de investigação não for cumprida, Fernando Henrique terá pela frente Antonio Carlos e seus centuriões. E, se houver alguma investigação, o caso não será menor.
Fernando Henrique não terá atinado com um pormenor: ainda que Jader Barbalho ou outro tenha indicado diretores da Sudam, só o fizeram porque o governo Fernando Henrique lhes conferiu esse privilégio. E, com indicações ou não, as nomeações são de responsabilidade de um ministro e do presidente da República.


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