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SUDAM
Empresa beneficiária de repasses de autarquia usava notas fiscais de firmas de fachada para obter recursos públicos
Justiça torna indisponíveis bens em MT
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Justiça do Mato Grosso tornou indisponíveis os bens do empresário Agnaldo Brum, de seus
sócios e de sua empresa, a Superfrigo Indústria e Comércio S/A.
Beneficiária de repasses superiores a R$ 9 milhões da Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), a Superfrigo se valeu de notas fiscais fraudulentas para comprovar supostas despesas.
A indisponibilidade dos bens
foi determinada na última terça-feira pelo juiz Julier Sebastião da
Silva, em decisão liminar, a pedido do procurador da República
Pedro Taques. O procurador investiga a Superfrigo há mais de
dois anos.
A contabilidade que a Superfrigo entregou à Sudam baseia-se
principalmente em notas fiscais
de serviço das construtoras Civilfrig, Instaltec e Tecnial. Eram empresas de fachada, criadas exclusivamente para fornecer notas fiscais à firma de Agnaldo Brum.
Depois de receber os repasses
feitos com dinheiro público da
Sudam, as firmas de fachada realizavam depósitos em outra empresa, chamada Fribom. O dono
da Fribom é o mesmo Agnaldo
Brum. Duas das construtoras de
fachada, a Civilfrig e a Instaltec,
pertenciam a Gilson da Silva, um
"laranja" de Agnaldo Brum, segundo o Ministério Público.
A sede das construtoras funcionariam numa casa de aparência
humilde, localizada na Cohab São
Gonçalo, em Cuiabá. Em depoimento, Gilson da Silva apresentou-se como simples pedreiro.
Silva disse também que os documentos fiscais das empresas
haviam desaparecido. Juntas, a
Civilfrig e a Instaltec receberam
mais de R$ 6,2 milhões. Apesar de
existirem desde 1993, nunca haviam declarado Imposto de Renda. Só se apresentaram ao Fisco
em 1998, depois que as investigações do Ministério Público já estavam em estágio avançado.
Para o Crea de Mato Grosso, as
duas construtoras não existem.
Elas não possuem nenhum engenheiro, arquiteto ou técnico em
edificações registrado. Também
não recolhiam INSS e FGTS. A
construtora Tecnial, que recebeu
R$ 5,6 milhões, pertence a um arquiteto chamado Ernesto Galbiatto Neto. Funciona em uma casa
de aparência modesta, no bairro
Morada do Ouro, em Cuiabá.
A exemplos das outras duas
construtoras, a Tecnial não recolhia FGTS e INSS, não possuía registros no Crea. Embora existisse
desde 1995, só começou a recolher
Imposto de Renda a partir de novembro de 1997.
O empresário Agnaldo Brum
juntou ao processo cópias de supostas autorizações para que as
gráficas Mita e Porto Seguro, ambas de Cuiabá, confeccionassem
as notas fiscais da Tecnial.
A pedido do procurador Taques, a Receita Federal visitou a
gráfica Porto Seguro, cujo proprietário declarou jamais haver
feito negócio com a Tecnial. A Receita também procurou a Mita.
Concluiu que a empresa não existe. Seu CGC não consta do cadastro do Fisco. A Prefeitura de Cuiabá também informou que a Mita
não figura em seu cadastro.
"Qual a finalidade disso tudo?",
pergunta o procurador Pedro Taques na ação em que pediu ao juiz
a indisponibilidade dos bens de
Brum, de seus sócios e de sua empresa. O próprio Taques responde: "Desviar grandes somas dos
recursos obtidos (da Sudam)".
A Sudam tem recebido várias
denúncias de irregularidade na liberação de recursos. Um dos projetos investigados é o da Usimar,
em São Luís (MA). O projeto, cujo
valor total é de R$ 1,380 bilhão, recebeu dinheiro da autarquia sem
a contrapartida da Usimar.
Em 26 de novembro, a Folha
publicou documento no qual o
projeto informa ter adquirido R$
102 milhões em máquinas e equipamentos que não existiam. Os
documentos mostram que a Usimar incluiu no rol de sócios a Celesc (Centrais Elétricas de Santa
Catarina). O chefe do Departamento de Contabilidade da Celesc, José Braulino Stähelin, negou
qualquer vínculo com a Usimar:
"Desconheço essa Usimar. O volume do investimento (R$ 58,7
milhões) é muito grande. Não há
hipótese de isso ser verdadeiro".
Com a revelação das irregularidades, o secretário-executivo do
Ministério da Integração Nacional e ex-chefe da Sudam, Maurício Vasconcelos, pediu afastamento temporário do cargo.
Colaborou a Redação
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