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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Duhalde quer empresários em viagens

ENVIADO ESPECIAL A ABU DHABI

Eduardo Duhalde toma posse formalmente apenas no dia 16 deste mês, mas já atua na prática como presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul.
A função do ex-presidente argentino será dar caráter de representação institucional mais perene para a associação comercial.
Para ele, os presidentes de países do Mercosul devem levar empresários sempre em suas viagens internacionais.
É o que acontecerá no ano que vem, quando o presidente argentino, Néstor Kirchner, visitará a China, em maio. Haverá na comitiva homens de negócios da Argentina, do Brasil e, a depender do desejo de Duhalde, também do Uruguai e do Paraguai.
Para Duhalde, as relações entre Brasil e Argentina nunca foram tão boas. Ele fala com frequência com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
No momento, o ex-presidente argentino está incorporado à delegação do presidente brasileiro num giro de nove dias a cinco países árabes -Síria, Líbano, Emirados Árabes Unidos (onde se encontram hoje), Egito e Líbia.
O brasileiro faz sempre questão de tê-lo ao lado nos eventos mais importantes.
"Serei um mandatário dos presidentes dos países do Mercosul", afirma Duhalde.
O cargo que vai ocupar dará à associação comercial, pela primeira vez, um peso político que jamais teve. Antes, havia decisões e encaminhamentos nas esparsas reuniões de cúpula. Depois, os burocratas tinham dificuldade para conseguir fazer andar o que havia sido decidido.
A seguir, entrevista concedida por Eduardo Duhalde à Folha na sexta-feira:

Folha - Qual é o significado desta viagem a países árabes do presidente Lula e do sr., que está integrado à delegação brasileira?
Eduardo Duhalde -
Primeiro, tem o aspecto simbólico. Argentina e Brasil sabem claramente que essa relação é necessária. No ano passado, na única viagem grande que fiz, para a Rússia, convidei empresários brasileiros. Temos uma idéia comum: a de promover e fazer nossa região conhecida. O Mercosul.
Além disso, agora estou ansioso para sair promovendo o Mercosul, inclusive não apenas acompanhando outros presidentes. Mas acompanhando empresários dos nossos países, de setores específicos, de alguma atividade, para inter-relacioná-los. Esses encontros propiciam contatos que podem resultar em vendas importantes.

Folha - O cargo que foi criado no Mercosul e que o sr. ocupa tem qual função exatamente?
Duhalde -
Os presidentes rotativos que ocupam o cargo a cada seis meses não têm tempo para se ocuparem dessa tarefa. Decidem coisas e não há quem possa segui-las. Mas eu terei todo o tempo para reunir-me com os Parlamentos ou com os empresários quando houver problemas a serem resolvidos. Serei um pouco um mediador, porque, às vezes, há reclamos legítimos de algum país.
Muitas vezes, um problema não tem sido resolvido porque falta tempo para alguém tratar do assunto, e não porque o reclamante não tenha razão. Os chanceleres têm muitos outros temas para tratar. Então, tem de haver uma pessoa, que neste caso serei eu, que estará falando diretamente com os presidentes para que as decisões sejam seguidas.
O mandato é de dois anos, renováveis. Minha posse oficial é no dia 16 deste mês, em Montevidéu, no Uruguai.

Folha - O que o sr. tem conversado com o presidente Lula sobre essa nova atividade que vai desempenhar?
Duhalde -
Vamos ter uma reunião no dia 15 de dezembro, antes da minha posse formal. Falarei com todos os presidentes do Mercosul. Vou saber com clareza o que me encomendarão. Serei um mandatário dos presidentes dos países do Mercosul.
Terei de saber até onde poderemos chegar no campo da integração. Não tomarei decisões por conta própria. E tenho a facilidade de falar com todos os presidentes quando for necessário.

Folha - Como estão as relações entre Argentina e Brasil? Estão mesmo boas, melhores do que nunca, como se diz?
Duhalde -
Creio que estamos no nosso melhor momento. Na época dos presidentes José Sarney e Raúl Alfonsin também havia força de vontade. Mas era muito embrionário. Agora, o que vejo, é uma grande vontade política de união. Antes não se via isso tão claramente.

Folha - A que se pode creditar esse fato?
Duhalde -
Porque historicamente os nossos países sempre corriam para os Estados Unidos quando a economia estava frágil. Agora, entende-se que, apesar das dificuldades das nossas economias, temos de estar juntos.

Folha - De que forma o governo argentino pode fazer algo na área internacional para promover a região?
Duhalde -
Está prevista uma visita grande do presidente Néstor Kirchner na China, em maio do ano que vem. Dentro do Mercosul, trabalha-se para que empresários de determinados setores, dos países associados, possam ir junto. E devem ir não apenas os da Argentina e do Brasil, mas também os empresários do Paraguai e do Uruguai.

Folha - Neste giro internacional pelo mundo árabe o presidente Lula tem sido enfático sobre Iraque e outros temas correlatos. O sr. acha que isso é positivo ou que pode causar algum tipo de constrangimento em relação aos Estados Unidos?
Duhalde -
Minha posição é igual a do presidente Lula. Todos sabem que coincido nisso com ele.


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