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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

As prontas providências

Os últimos dias da semana foram inundados por uma torrente de declarações/ promessas formidáveis de José Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Aloizio Mercadante e outros símbolos do neopetismo. Foi, e o provável é que continue pelos próximos dias, o que se chama de ação coordenada.
Por seu teor, as afirmações valem tanto quanto a comunicação feita por Lula, ao meio do ano, de que ali começava a retomada do crescimento. Como atitude, proporcionam, por si sós, uma explicação de toda a natureza do governo Lula.
O teor e a atitude decorreram de que todos os reflexos da opinião pública -pesquisas, mídia, entrevistas populares e manifestações- reafirmam a unanimidade das preocupações nacionais com dois problemas: desemprego e criminalidade. Sobre o primeiro, o governo recebeu duas informações, uma indicando o agravamento em setores importantes de São Paulo (São Paulo é o país do governo, o resto são sobras inevitáveis), e a outra confirmando por sondagem, mais uma vez, a crescente inquietação popular com o desemprego. Como se esperaria, o governo reagiu de imediato.
E como se esperaria que um governo respeitável reagisse a tal situação? Por certo, em resumo, acionaria os ministros adequados -Fazenda, Trabalho, Planejamento, Indústria, talvez um ou outro mais- para definirem modos emergenciais de provocar empregos e, como complemento, um plano de prazo mais longo.
Como reagiu o governo Lula? Convocou à Presidência um só, que na concepção governamental vale por todos: Duda Mendonça.
E assim saiu Antonio Palocci para uma reunião estimulante com empresários (paulistas, é claro). E o silencioso Luiz Gushiken saiu a comunicar "à população" que "o desenvolvimento vai se iniciar agora". E José Dirceu a avisar que "o pau vai comer" na universidade (a pública, que a outra é bem protegida). E Aloizio Mercadante a prometer benesses do Imposto de Renda "para o ano que vem". E por aí afora.
O assunto criminalidade recebeu tratamento mais simples, porém tão próprio do governo Lula quanto a convocação de Duda Mendonça. As verbas esperadas pela Polícia Federal, para intensificar a fase produtiva em que está, continuaram trancafiadas, para engordar o êxito poupador do ministro Antonio Palocci, que conta com um grupo de policiais para lhe dar segurança pessoal permanente.
No ar
Na competição para venda de aviões de caça à FAB, negócio em que os citados US$ 700 milhões são apenas o aperitivo, um dos concorrentes conquistou, ou adquiriu, um apoio de influência global, entendendo a influência da TV na opinião pública e, ainda maior, no comando do governo.
Até repórter já foi mandado à fábrica na Suécia, para reportagens cuja exibição é de finalidade meramente "jornalística".
Risco
Não é recomendável levar muito a sério as afirmações, passadas ou renovadas, de que foram destruídas as fitas de gravações ilegais em Santo André, com diálogos telefônicos entre pessoas citadas no caso Celso Daniel.
A destruição, por se tratar de material proveniente de "grampos" ilegais, foi decidida pelo juiz Rocha Mattos, um dos presos da Operação Anaconda sob acusação de venda de sentença e outras excentricidades não só judiciais.
A mesma destruição de fitas, mesmo se comprovável, não se precisa dar antes de providenciadas cópias.


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