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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Para Bruno Daniel, políticos mentiram sobre necropsia e negaram tortura; Murad nega e Greenhalgh não foi achado

PT criou obstáculo à investigação, diz irmão

Daniel Guimarães/Folha Imagem
Bruno Daniel Filho, irmão de Celso Daniel, com os volumes do processo que tramita na Justiça


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O professor de economia Bruno Daniel Filho, 51, irmão do prefeito assassinado de Santo André Celso Daniel, afirmou ontem que o PT criou "obstáculos" para evitar que a investigação chegasse aos mandantes do crime e disse que políticos mentiram para a família da vítima. Entres esses políticos, os deputados federais Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), nomeado pelo partido para acompanhar o caso, e Jamil Murad (PC do B-SP).
As críticas do professor ocorreram um dia depois de o Ministério Público denunciar o empresário Sérgio Gomes da Silva como um dos mandantes do assassinato, ocorrido em janeiro do ano passado. Ele distribuiu uma nota em nome dos quatro irmãos do prefeito e falou pela família.
O obstáculo criado pelo PT, segundo Bruno Daniel, está na manutenção da versão de que o crime foi ocasional. "Desejamos que a sociedade tenha elementos para pressionar aquelas instituições que até agora se omitiram ou obstacularizaram a busca da verdade e justifiquem seus atos", diz o texto da nota.
Segundo o professor, entre essas instituições está o PT. "A crítica é contra o PT como um todo", disse. Questionado sobre os motivos que levaram o partido a criar obstáculos para não se chegar aos mandantes do crime, ele desconversou: "Vocês têm de perguntar para o PT".
As mentiras contadas por políticos à família do prefeito assassinado, segundo o professor, referem-se à necropsia do corpo. Os deputados Greenhalgh e Murad -na época deputado estadual- acompanharam o trabalho dos peritos do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo.
Bruno Daniel disse que os dois deputados, questionados pela família da vítima, negaram a possibilidade de o prefeito ter sido torturado. Segundo denúncia elaborada por promotores de Justiça de Santo André, o corpo apresentava hematoma na cabeça e marcas de queimaduras nas costas, o que reforça a tese de tortura.
"Eles mentiram para a família", sustentou o professor. Mas ele também não quis falar sobre os motivos que teriam levado os deputados a tomar tal medida. "São perguntas que eu não sei responder", afirmou Bruno Daniel.
Para o professor, o PT cometeu um "erro histórico". "Eu estou com o PT desde a sua fundação, e fico desconfortável com isso. Politicamente, isso é ruim para o país. Eles não cumpriram com sua obrigação legal", disse.
Em depoimento prestado ao Ministério Público paulista, o médico João Francisco Daniel, outro irmão de Celso Daniel, disse que o vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza e os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto extorquiam dinheiro de empresários para financiar campanhas eleitorais do PT.
Segundo ele, os recursos eram encaminhados a Gilberto Carvalho, então secretário de Governo de Santo André e hoje chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que os repassava ao então presidente do PT, José Dirceu, coordenador da campanha de Lula. João Francisco disse ter ouvido de Carvalho que ele entregou R$ 1,2 milhão da suposta propina a Dirceu.
Em 1º de julho de 2002, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim rejeitou abertura de inquérito criminal contra Dirceu e seu indiciamento.

Quebra de sigilo
Bruno Daniel afirmou ontem que a família pretende pedir à Justiça no começo da semana a quebra do sigilo no processo que tramita no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo) -o corpo foi encontrado em Juquitiba, que fica na área da comarca.
Segundo a família do prefeito, o sigilo foi pedido pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, que estava com o Celso Daniel no momento em que ele foi capturado, na zona sul de São Paulo, no dia 18 de janeiro de 2002.
"Essa quebra do sigilo vai permitir que a sociedade possa acompanhar o processo e saber o que levou a família a acreditar que a investigação feita pela polícia é falsa. Só queremos transparência no caso", disse.
Investigações do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, concluíram que o prefeito foi sequestrado por acaso e que foi morto porque os criminosos temiam ser reconhecidos.
Para Bruno Daniel, existem falhas das investigações nos três pontos fundamentais: na captura, na suposta permanência no cativeiro e nas circunstâncias da morte. Segundo a família, laudos sobre a morte também precisam ser concluídos. Bruno Daniel reclama, por exemplo, da ausência da radiografia do corpo do prefeito. "O laudo da necropsia fala que ele morreu ou em consequência de traumatismo craniano ou por causa dos tiros. Falta a radiografia para saber isso."



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