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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Sob suspeita, Rocha Mattos já ameaçou juízes

DA REPORTAGEM LOCAL

Vivendo uma situação parecida há 11 anos -quando também foi investigado por supostas irregularidades envolvendo um processo judicial, mas não chegou a ser preso-, o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, da 4ª Vara Federal, ameaçava denunciar outros juízes de São Paulo, até por envolvimento com drogas.
"Eles podem até me estragar a vida, mas eu levo muita gente junto", afirmou Rocha Mattos no ano de 1992, uma conversa gravada por ele com um interlocutor identificado apenas como "Henrique". Essa gravação de 11 anos atrás foi apreendida pela Polícia Federal no apartamento do juiz, em São Paulo, com outras cinco fitas -quatro das quais não teriam interesse para a Operação Anaconda, segundo a polícia.
Na conversa com "Henrique", Rocha Mattos conta que conseguiu armazenar material que poderia ser usado contra magistrados que estivessem contra ele. Em 1992, o juiz federal foi afastado do cargo, para o qual voltou três anos depois, por supostamente haver ameaçado, por carta, o então presidente do TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo, Homar Cais. Essa foi a gota d"água, mas Rocha Mattos já vinha sendo questionado por decisões que teriam beneficiado o ex-governador Orestes Quércia.
"Eu agora vou atacar, vou metralhar, viu? (...) Estou tranquilo. Porque até consegui levantar muita coisa de estarrecer, viu? Tô com muita coisa na mão", diz o juiz, no telefonema.
Rocha Mattos também comemorava anúncio feito pelo então presidente da República, Fernando Collor, de que 50 juízes estavam na mira do governo por causa de decisões polêmicas envolvendo cobranças previdenciárias.
"Eu agora não vou nem passar perto da Justiça para não me contaminar com os colegas corruptos do Cível", diz Rocha Mattos. Indo além, para a incredulidade do interlocutor, o juiz diz que colegas seus estariam envolvidos com uso de entorpecentes.
"Você sabe que tem aí juiz envolvendo até com tóxico, né?", acusa Rocha Mattos.
A mesma fita registra uma série de três telefonemas com ameaças de morte ao juiz feitas por um mesmo homem. Não fica claro, na conversas, qual a razão das ameaças. Rocha Mattos confronta o interlocutor. "Eu fui delegado de fronteira. Não tenho medo de você, não, viu?", diz o magistrado, ex-policial federal. "Você não falou que já matou não sei quanta gente? Então, posso matar também", responde o homem, que diz conhecer o cotidiano do juiz e o fato de ele ter "quatro filhos".
"Você é grande mas não é dois. De repente, você leva um tombo e cai. Tá entendendo?", ameaça.
"Eu só estou lhe dando um último aviso: toma muito cuidado, hein", diz o homem.
Na segunda fita que a polícia diz ser de interesse para as investigações, um homem com forte sotaque italiano conversa com uma pessoa identificada como policial federal. É uma gravação de 50 minutos, na qual o homem narra detalhes de uma denúncia feita por outra pessoa a respeito de um grande esquema de corrupção no porto de Santos (SP).
As denúncias envolvem policiais federais, funcionários da Receita Federal, juízes federais e comerciantes da Galeria Pagé, no centro de São Paulo. (RV)



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