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40 ANOS DO AI-5
Com pressão a 22, Costa e Silva pôs médico na ante-sala da "missa negra"
Rondon Pacheco afirma que não houve clima para debates na reunião decisiva
DA ENVIADA A UBERLÂNDIA (MG)
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM UBERLÂNDIA (MG)
Momentos antes da reunião
do Conselho Nacional de Segurança que sacramentou o AI-5,
a pressão do presidente Arthur
da Costa e Silva estava nas alturas. Um médico ficou de prontidão na ante-sala, para qualquer
emergência. Mas o presidente
parecia querer mais motivos
para preocupar os médicos, revela Rondon Pacheco, então
chefe da Casa Civil do governo.
"Quando entrou na reunião,
ele [Costa e Silva] ainda falou
para mim: "Dr. Rondon, estou
precisando da minha pressão a
21'", recorda Pacheco, que, naquele momento, acabara de informar o presidente que o ato
ainda estava viciado.
Com a pressão a 22 por 13,
Costa e Silva iniciou a reunião
pedindo que cada um dos 23 integrantes do conselho dissesse
"o que pensa e o que sente". Às
17h do dia 13 de dezembro de
1968 celebrou-se, ao som de sirenes, a "missa negra", como o
jornalista Elio Gaspari, no livro
"A Ditadura Envergonhada",
definiu aquela reunião. Tudo
para manter Costa e Silva no
poder, segundo Pacheco.
O fim da cerimônia fora traçado pelo presidente, que bateu
na mesa e disse que "a decisão
estava tomada" antes de ouvir
os ministros. Segundo Pacheco,
não houve clima para debates
ou troca de impressões: "Nós
estávamos tão tensos".
Restava aos signatários do
ato deixar a própria marca.
Chama a atenção os votos dos
três mineiros integrantes do
Conselho de Segurança: quem
não foi contra, foi moderado, ao
contrário de ministros como
Jarbas Passarinho (Trabalho),
que mandou "às favas todos os
escrúpulos de consciência" ao
se posicionar a favor do AI-5.
O primeiro voto daquela reunião das 17h foi um "não". O vice-presidente Pedro Aleixo defendeu o estado de sítio em vez
da aplicação do ato. Ele argumentou que dessa forma era
possível prevenir, com uma
medida constitucional, as "perturbações" que tiravam o sono
do presidente e do ministro Gama e Silva (Justiça). Foi o único
"não" daquela tarde.
Outros dois mineiros integrantes do conselho acompanharam a moderação do vice-presidente. O tradicional jeito
mineiro de fazer política, dissimulado para uns, conciliador
para outros, deu o tom de 3 dos
23 votos naquela sexta-feira 13.
Pacheco disse estar diante de
uma encruzilhada. Não concordava com o ato, mas sabia que o
governo não conseguiria dois
terços do Congresso para votar
o estado de sítio.
"Os mineiros foram os mais
moderados", disse ele, que propôs também a vigência de um
ano para o ato, sugestão descartada por Orlando Geisel, então
chefe do Estado-Maior.
Outro mineiro, ministro Magalhães Pinto (Relações Exteriores) fez jus à fama. No fim de
seu voto, disse que se sentiu
mais constrangido assinando o
AI-5 do que quando ajudou a
deflagrar o golpe de 1964.
O ministro Gama e Silva
(Justiça) foi o último a falar. O
autor da primeira e mais radical versão do ato deveria ter falado, de acordo com o protocolo, antes de Magalhães Pinto. O
presidente quebrou o cerimonial, deixando-o por último.
Segundo Pacheco, todos sabiam das idéias radicais de Gama e Silva. "A rescisão do habeas corpus foi idéia dele. O Pedro Aleixo se pôs contra. O Gama queria demitir todos os ministros do Supremo. É muito
além do habeas corpus."
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