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JANIO DE FREITAS
Perigos do cansaço
Foi uma sorte que ninguém,
nem mesmo uma das moças em
fuga descontrolada da pancadaria entre sindicalistas, seguranças e parlamentares, ultrapassasse a área da Câmara para a do Senado, onde a ordem
do senador Antonio Carlos
Magalhães aos jagunços da casa era a de recepcionar a pancada e a tiro todos os suspeitos
de estar "invadindo" a área senatorial.
Sorte dos fugitivos e sorte não
menor do próprio senador, que
se pôs como mandante de uma
tragédia que, não fora evitada
pelo acaso favorável, teria os
ingredientes para produzir, no
país, efeitos à maneira de outros tiros assassinos na história
brasileira.
A sorte, porém, não enfraquece a eloquência da ordem
de Antonio Carlos como demonstração do desatino, da
prepotência, da arrogância, da
ausência de ética, da falta de
respeito humano, do desprezo
por princípios e da incivilidade
que predominam no atual
Congresso.
As cinco ou seis dezenas de
sindicalistas que ocuparam
uma comissão da Câmara, berrando refrões com certos dados
biográficos do deputado luso-baiano José Lourenço, cometeram em seguida a invasão
do plenário, teoricamente exclusivo dos parlamentares. Os
sindicalistas talvez não soubessem da exclusividade, sendo
então a baderna que ali fizeram, ela sim, caracterizadora
de invasão violenta. E o que
vale perguntar é se não seria
também simbólica.
Quantos não seriam os já
cansados de só receber do Congresso mais e mais opressões e
restrições aviltantes; e já cansados de ver a outra baderna
do Congresso, a do máximo de
vadiagem com o máximo de
"dar e receber", quantos não
seriam os desejosos de fazer o
mesmo que os 50 ou 60 sindicalistas? Milhares ou milhões?
O onipotente
Complemento da quinta-feira de truculência na Câmara,
nada como mais uma tramóia
parlamentar para maior solidez da ilegalidade que entremeia e envolve tudo na "reforma da Previdência".
Presente à comissão especial
da "reforma", o deputado Inocêncio Oliveira ajudou com seu
voto a aprovação do parecer
governista. E teve o voto computado pelo José Lourenço que
o próprio Inocêncio Oliveira
indicou para a presidência baderneira da comissão. Mas só
os integrantes da comissão poderiam votar, e Inocêncio Oliveira não era da Comissão.
Ao saber que a corregedoria
da Câmara recebera uma denúncia sobre sua contribuição
para a maior ilegalidade, Inocêncio Oliveira foi direto ao
corregedor Severino Cavalcanti, com sua explicação: "Eu me
autonomeei para a comissão
ali mesmo".
O corregedor e o presidente
da Câmara, Michel Temer, não
faltarão com mais uma prova
da sua elástica, da sua infindável tolerância. Quando se
trata de algo favorável ao governo, claro.
Queremos bis
Merecem todas as homenagens os atores que se uniram e,
com sucessivas idas ao Senado,
conseguiram restabelecer os direitos autorais e patrimoniais,
que o texto em votação pretendia transferir dos autores e artistas para os contratantes dos
seus trabalhos.
Foi uma bela exibição de
consciência profissional e de
defesa da cidadania.
Ex-quercista, ex-fleurysta,
hoje fernandista, o deputado
Aloysio Nunes Ferreira não
conseguiu emplacar o seu texto, mas não lhe faltarão ocasiões de mostrar utilidade global.
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