São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

As sombras percebidas

É a dois coronéis, possivelmente da reserva, que está sendo atribuída a coordenação do trabalho de espionagem e levantamento, não só no Maranhão, de providências e situações destinadas a prejudicar a candidatura de Roseana Sarney.
O trabalho chefiado pela dupla de coronéis é o mesmo que foi parcialmente detectado no Maranhão e comunicado ao senador José Sarney, que o levou ao conhecimento de Fernando Henrique Cardoso, sem obter resultado algum, cerca de duas semanas antes da operação da Polícia Federal na empresa de Roseana e Murad.
Não é certa, ainda, a condição dos agentes, se ligados à Abin, sucessora do SNI criada por Fernando Henrique, se contratados. Em qualquer caso, Márcio Fortes, secretário-geral do PSDB, é dado como incumbido de contatos com os agentes. Para quem lhe conhece o cadastro, o envolvimento de seu nome não surpreende.
Os senadores Eduardo Suplicy e Heloísa Helena formularam um requerimento ao ministro da Justiça para que remeta ao Senado todos os documentos que, por qualquer modo, tenham relação com o que se passou na empresa de Roseana e Murad -relatórios, cópias de fax, registros de telefonemas, datas de pedidos e ordens. O esperado é que o governo invoque o segredo de Justiça, em que está posto o processo que autorizou a operação, para negar o envio dos documentos. Mas as informações pedidas não são do processo e, sim, da maneira como foi realizada a operação, o que não está sob segredo de Justiça.
O requerimento soma-se a numerosos indícios, tendentes a avolumar-se ainda mais nos próximos dias, para configurar a crescente propensão de políticos oposicionistas e pefelistas no sentido de investigação parlamentar das condutas da Polícia Federal, do Ministério da Justiça, do PSDB e alguns dos seus dirigentes, do candidato José Serra e de Fernando Henrique no episódio centrado na candidata pefelista.

A novidade
O PFL foi muito mais longe, em dois sentidos, do que era admitido nele, e assim mesmo com relutância. A reunião oficializadora do rompimento já transcorria, e comentaristas de jornais falados ainda adotavam a desconfiança que já se encontrara nos jornais impressos, sobre a extensão das disposições pefelistas. Os dois sentidos são prenúncios inquietantes para o governo e agravam muito a enrascada em que está.
A unanimidade do apoio ao rompimento, na minuciosa consulta feita pela direção do PFL aos seus parlamentares e principais figuras, é um caso de unidade partidária raro, se houve outro assim por aqui. A extremada devolução de todos os cargos em todos os níveis, inclusive de indicados não filiados (parentes, amigos, cabos eleitorais), significa que Fernando Henrique terá mais dificuldades com o PFL do que poderia presumir, se tivesse percebido que a crise era crise.
Alguns que só participaram da unidade partidária por força das circunstâncias, como o governador Hugo Napoleão, prevêem que o governo vai retaliar em cima dos governos estaduais pefelistas. Não seria tão simples, porém. Se fizer algo caracterizável como retaliação, Fernando Henrique perde, na Câmara e no Senado, todas votações de projetos de interesse do governo.
Já vale a pena prestar um pouco de atenção nos fatos políticos e congêneres.

Aproximação
Entre as hipóteses sob exame em circuito fechado: Anthony Garotinho como vice de Luiz Inácio Lula da Silva.



Texto Anterior: Outro lado: Assessoria diz que pefelista não atende a ligações
Próximo Texto: No ar - Nelson de Sá: Em notas de 50
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.