São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Para Alencar, a manobra contra CPI deve ter tido "alguma razão superior", já que o PT sempre primou pela vontade de investigar

Vice diz ser "pessoalmente" favorável à CPI

Charles Silva Duarte/"O Tempo"
José Alencar, vice-presidente, chega a Belo Horizonte (MG)


DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O vice-presidente José Alencar disse ontem em Belo Horizonte ser pessoalmente favorável à instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as ações do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.
"Se fosse me basear em mim, teria que ser a favor da CPI", disse Alencar. "Mas minha condição hoje é: primeiro, sou aliado, nosso partido é atualmente da base do governo; segundo, sou o vice-presidente da República; terceiro, não participei dos acontecimentos porque, circunstancialmente, estava afastado nesse período."
O vice-presidente chegou ontem pela manhã a Belo Horizonte, onde ficará descansando por uma semana. No dia 21, Alencar passou, em São Paulo, por cirurgia de emergência para retirada da vesícula biliar. Em seguida, contraiu uma pneumonia.
Alencar recebeu alta no dia 1º de março, mas foi orientado a permanecer na capital paulista por uma semana, para continuar com os exercícios respiratórios.
Dizendo-se informado sobre o caso apenas por meio de notícias veiculadas pela imprensa, afirmou que a decisão sobre a CPI cabe ao Congresso Nacional.
O governo é contra a abertura da CPI por alegar que o caso Waldomiro ocorreu em 2002, antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil e homem da confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro foi flagrado em gravação de 2002 pedindo propina e contribuições para campanhas a um empresário do ramo de loterias.
Na época da gravação, presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), na gestão Benedita da Silva (PT-RJ). Com a divulgação da fita, foi exonerado a pedido do Planalto, onde trabalhava desde o início da gestão Lula.
Um pedido de CPI dos bingos, que abrangeria o caso Waldomiro, foi apresentado ao Senado com as assinaturas necessárias. Uma manobra estimulada pelo Planalto, no entanto, barrou a CPI: os líderes dos partidos governistas anunciaram que não indicaram os representantes, o que, na prática, impede a instalação da comissão de investigação.
Para Alencar, a manobra de esvaziamento da CPI dos bingos deve ter tido "alguma razão superior", já que o PT "sempre primou pela vontade férrea de investigar todos os casos". "O PT é o mesmo, e obviamente esse caso pode merecer tratamento especial", disse o vice.
Sem citar o nome de Dirceu, o vice-presidente saiu em defesa de Lula e do PT. "O Lula prima pela marca da honestidade absoluta no trato da coisa pública. Eu não fiz aliança com o PT a não ser porque, em primeiro lugar, conhecia esse aspecto." Segundo Alencar, "a verdade é que o Brasil inteiro conhece a honorabilidade do presidente da República".
Alencar afirmou ainda que "ninguém demonstrou mais interesse pelas investigações [sobre o caso Waldomiro Diniz] do que o presidente Lula".
Sobre a mudança no comando do Ministério dos Transportes, onde o prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, assumirá em substituição a Anderson Adauto, Alencar disse que o PL mineiro pediu que o cargo continuasse no Estado, mas não impôs nomes. "Não colocamos nomes, porque isso não nos caberia." O vice-presidente negou que tenha indicado Adauto para o posto.


Texto Anterior: Regime militar: Grupo escava trechos em busca de corpos de guerrilheiros do Araguaia
Próximo Texto: Funcionalismo: Governo é acusado de favorecer entidade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.