São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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PERSONALIDADE
Filólogo, que esteve internado por 69 dias, deixa interrompido projeto de dicionário de 350 mil verbetes
Antônio Houaiss morre aos 83 no Rio

Patrícia Santos/Folha Imagem
Evandro Lins e Silva, Tarcísio Padilha e Arnaldo Niskier, no velório


RITA FERNANDES
free-lance para a Folha

O filólogo, acadêmico e ex-ministro da Cultura (governo Itamar Franco) Antônio Houaiss, 83, morreu ontem às 7h55 no Hospital Adventista Silvestre, em Santa Teresa (zona sul do Rio), devido a falência múltipla de órgãos.
Houaiss estava na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) havia 69 dias. O acadêmico foi internado em 29 de dezembro para tratamento de uma pneumonia de aspiração (infecção por entrada de alimentos nos pulmões, via traquéia).
Daí em diante, o quadro clínico do acadêmico foi se agravando gradativamente. Nas últimas semanas, ele pesava 45 kg, segundo o médico, Renato Kovach.
Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, partido ao qual Houaiss era filiado, disse que o acadêmico apresentava anorexia (perda do apetite) e que estava "desencantado com os rumos da nação".
O corpo de Houaiss foi levado no início da tarde para a sede da ABL (Academia Brasileira de Letras), no centro do Rio, para o velório. Ele ocupava desde agosto de 1971 a cadeira número 17 da instituição.
Houaiss será enterrado às 12h de hoje no mausoléu da Academia, no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul). O acadêmico era viúvo desde 88 e não tinha filhos.

Dicionário
Houaiss deixa interrompido seu maior projeto: um dicionário que previa 350 mil verbetes, o maior da língua portuguesa. Segundo seu irmão Maurício Houaiss, 79, um sobrinho do acadêmico, Mauro Vil-lar, assumirá o projeto.
Houaiss nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1915. Filho de Habib Assad Houaiss e Malvina Farjalla Houaiss, formou-se em letras clássicas em 1942. No mesmo ano, casou-se com Ruth Marques de Salles.
Lecionou português, latim e literatura antes de se tornar diplomata, em 1945, carreira precocemente encerrada em 1964, durante o regime militar (1964-85).
Foi cogitado para ser candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989.
No governo Itamar Franco, foi ministro da Cultura. Deixou o ministério para retomar as atividades diplomáticas como representante brasileiro na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Entre 1994 e 1995, foi vice-presidente do Conselho Nacional de Política Cultural.
Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 1996, mas foi afastado depois de fraturar a perna.
Houaiss foi um dos maiores defensores de uma reforma ortográfica que unificasse o português escrito e falado nos diversos países lusófonos. O projeto foi aprovado pelo Senado em 1995.


Colaborou Claudio Cordeiro, do Banco de Dados


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