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RUMO A 2002
Partido vê Lula como maior rival e tenta disputar discurso reformista
PSDB se articula para tomar bandeira ética do "novo PT"
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT será o grande adversário
do PSDB nas eleições do ano que
vem. E, para enfrentá-lo, será preciso que os tucanos retomem
duas grandes bandeiras políticas
que teriam sido apropriadas pelo
partido de Luiz Inácio Lula da Silva: a defesa da ética e da moralidade administrativa, por um lado, e
o compromisso com o reformismo social, por outro.
O diagnóstico do PSDB, que
identifica no PT seu maior rival
em 2002 e sugere os meios para
abatê-lo pela terceira vez consecutiva nas urnas, foi feito durante
a reunião de cúpula do tucanato,
no último final de semana, em Belém (PA).
A portas fechadas, ministros,
governadores e líderes do PSDB
esboçaram pela primeira vez em
conjunto um plano de ação pré-eleitoral. O resultado de mais de
cinco horas de conversas, às vezes
ásperas, veio a público num documento intitulado "PSDB: Partido
da Ética e das Transformações".
Nele, além da defesa protocolar
do adiamento do debate sobre
2002, os tucanos fazem um desagravo ao presidente Fernando
Henrique Cardoso, exaltando sua
"honestidade", e se comprometem a organizar seminários temáticos sobre a "questão urbana".
Nem Lula nem o PT foram citados no documento. Nenhum tucano também os mencionou em
público após o encontro. Não era
o caso. Mas foi neles, em Lula e sobretudo no novo PT, "light" e
pragmático, que os tucanos pensaram de forma mais detida antes
de redigir a sua peça programática visando a batalha de 2002.
Falou-se muito em Belém sobre
o avanço do "novo PT" nas classes médias das grandes cidades.
Esse avanço estaria simbolizado
com clareza na eleição de Marta
Suplicy à Prefeitura de São Paulo.
Por um lado, Marta venceu alavancada por um discurso contra a
corrupção e a falta de ética. Por
outro, deixou de lado o socialismo e outras bandeiras etéreas da
esquerda tradicional, para se dedicar às questões que afligem o
dia-a-dia da população: violência,
desemprego, saúde etc.
Um dos tucanos presentes à
reunião de Belém foi mais longe.
Disse que o PT "está se transformando aos olhos da população
naquilo que nós éramos antes de
94". Entenda-se: o partido da "ética e das transformações".
"É muito incômodo para o
PSDB ser confundido com partidos que não priorizam a ética. Esse discurso e prática não podem
ser monopólio de um partido, sobretudo o PT", diz o presidente da
Câmara, Aécio Neves (MG).
O sinal de alerta acendeu no tucanato num momento delicado
para FHC. A imagem de que o
presidente é pelo menos conivente com o "mar de lama" em seu
governo se difundiu na população. Até pesquisas encomendadas
pelo Planalto atestaram isso.
Jogo anunciado
Enquanto o PT procura explorar o desgaste na imagem de FHC
e ainda tenta ressuscitar a CPI da
corrupção, derrotada pela operação abafa, o presidente e seus aliados partiram para o contra-ataque. O documento de Belém é
apenas uma entre muitas ofensivas deflagradas pelo tucanato para limpar a imagem do governo.
O presidente saiu a campo pessoalmente para contestar, num
tom exaltado que não costuma ser
o seu, o "denuncismo irresponsável" de que estaria sendo vítima.
Na batalha dos factóides, criou a
Corregedoria Geral da União.
A guerra da ética, que ocupou o
centro da política nacional com a
conflagração da guerra envolvendo Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e Jader Barbalho
(PMDB-PA), já havia sido decisiva nas eleições municipais de
2000. Comentando à época o resultado do pleito, FHC disse que
as urnas "revelaram profunda
preocupação com a moralidade".
O PT, por sua vez, tinha o mesmo diagnóstico. Durante o segundo turno das eleições, antes da vitória de Marta, Lula publicou um
artigo no jornal "Gazeta Mercantil". O título: "A honestidade como vantagem comparativa".
O texto foi distribuído pela cúpula petista com a recomendação
de que orientasse as campanhas
municipais. Detalhes: a expressão
"vantagem comparativa" pertence ao jargão liberal; e o tema da
"honestidade", içado ao primeiro
plano da discussão política, sinaliza a inflexão pragmática do PT,
moralizante e desideologizado.
Ser ou não ser
O dilema do PSDB, segundo algumas de suas principais lideranças, consiste em reconquistar sua
boa imagem na opinião pública
sem desfazer a aliança que sustenta o governo FHC.
Ao mesmo tempo em que acreditam que PMDB e PFL são parceiros necessários para manter a
governabilidade e vencer a eleição
de 2002, os tucanos avaliam que
precisam se diferenciar dos aliados.
Enquanto o PSDB ensaia seus
malabarismos em busca da imagem ética perdida, o governo FHC
pretende investir agora em obras
sociais voltadas aos pobres e miseráveis das grandes cidades.
O Planalto prepara um projeto
que prevê a liberação de R$ 700
milhões até o fim do ano para
ações de inclusão social em favelas do Rio, São Paulo e Salvador. É
um complemento ao projeto Alvorada, voltado às populações
miseráveis de locais que registram
os piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do país.
O novo projeto do governo inclui investimentos em saneamento, infra-estrutura e uma polêmica idéia de regularização da posse
de terra nas favelas. Nos estudos
do grupo formado para discutir o
tema no Planalto, as favelas foram
rebatizadas como "áreas subnormais". Coisa de tucano.
Além de esperar dividendos
eleitorais pela atenção que pretendem dar às "áreas subnormais" das grandes cidades, os tucanos contam ainda com a rejeição de Lula, que vão explorar.
Na avaliação dos tucanos, mesmo reciclada, a imagem de Lula
está longe de se ajustar às veleidades do novo PT: de ser um partido
confiável para as classes médias.
O PSDB aposta que o calcanhar-de-aquiles de Lula continuará
sendo a incapacidade de se mostrar ao público como alguém credenciado para gerir o país e preservar a estabilidade da moeda.
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