São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Sai livro sobre treinamento na ilha

DA SUCURSAL DO RIO

O patrocínio de Cuba a guerrilheiros brasileiros teve três movimentos essenciais:
1) antes de abril de 1964, com o apoio a militantes das Ligas Camponesas (movimento pró-reforma agrária concentrado no Nordeste) que montaram campos de treinamento no Brasil;
2) em seguida ao golpe que depôs o governo constitucional de João Goulart, com o adestramento militar e o financiamento do Movimento Nacionalista Revolucionário, de Leonel Brizola.
Nesse período (1966-67), nasce e morre a guerrilha de Caparaó, na divisa de Minas Gerais com o Estado do Espírito Santo, derrotada sem que seus aderentes tivessem tido um só confronto com as tropas oficiais;
3) a mais intensa operação foi o treinamento de ativistas da Ação Libertadora Nacional, grupo encabeçado por Carlos Mariguella (1912-1969). Quatro equipes da ALN -denominadas 1º, 2º, 3º e 4º Exércitos- frequentaram a escola cubana de guerrilha, às vezes acompanhadas por membros de outras organizações.

Apoio
O mais vigoroso inventário sobre o tema acaba de ser editado. Trata-se do livro ""O apoio de Cuba à luta armada no Brasil - O treinamento guerrilheiro" (Mauad, 96 págs., R$ 19,80), da historiadora Denise Rollemberg.
Professora-visitante de História Contemporânea da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Rollemberg, 38, dedicou-se por dois anos à investigação.
Durante o período, pesquisou arquivos com documentos da repressão, ouviu veteranos da guerrilha, desencavou histórias sobre o treinamento de mais de 200 homens e mulheres, alimentou dúvidas sobre delações de militantes em troca de sobrevivência.

Revelação
Sua principal revelação talvez tenha partido de um sobrevivente da ALN, Carlos Eugênio Sarmento da Paz, que narrou uma proposta feita em 1973 por Arnaldo Ochoa, comandante do Exército cubano em Havana.
Com a ALN e a guerrilha urbana aniquiladas, Ochoa queria entrar na Amazônia num barco com cem guerrilheiros cubanos ladeados de brasileiros. Na selva, dariam início a ações. O dirigente da ALN recusou, a ficha de Ochoa caiu, e o plano foi esquecido.
O estudo de Denise Rollemberg situa o princípio do apoio cubano à guerrilha no Brasil no governo João Goulart (1961-64). Embora tenha pesquisado no Arquivo Público do Rio, ela não teve acesso ao relatório segundo o qual já no governo de Jânio Quadros (janeiro a agosto de 1961) os cubanos ofereciam seus préstimos aos camaradas do Brasil. (MM)


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