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OPERAÇÃO ABAFA
Bancada de RO temia perda de empréstimo de US$ 70 mi
Verba, cargo e influência convencem a barrar CPI
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A coleta de assinaturas para a
CPI da corrupção esbarrou num
obstáculo já conhecido -o apego
dos parlamentares governistas
aos cargos e às verbas federais- e
em outros menos usuais.
A fidelidade da bancada de
Rondônia, por exemplo, foi garantida pelo temor da perda de
um empréstimo externo de US$
70 milhões para a construção de
estradas no Estado.
Um parlamentar de Rondônia
relatou à Folha que o governador
José Bianco (PFL) fez um apelo a
deputados que pretendiam assinar o pedido. O gesto poderia inviabilizar o aval da União ao empréstimo que está sendo negociado com o banco japonês JBIC.
A Cofiex (Comissão de Financiamentos Externos) já decidiu,
em 4 de dezembro do ano passado, que não há impedimentos técnicos para a aprovação do empréstimo. Mas o projeto ainda
precisa ser aprovado pelo Senado,
além de ganhar o aval da União.
Alerta
Os parlamentares de Rondônia
também foram alertados de que
poderia haver o corte de verbas
federais. Só as emendas da bancada ao Orçamento da União para
este ano totalizam R$ 123 milhões.
No Senado, as assinaturas de
Fernando Matusalem (PPB) e
Moreira Mendes (PFL), ligados
ao governador José Bianco, completariam o número mínimo exigido para a criação da CPI. Nenhum deles assinou.
Na Câmara, apenas os oposicionistas Agnaldo Muniz (PPS) e Eurípedes Miranda (PDT) assinaram o pedido de CPI.
Na maioria dos casos não chegou a haver uma ação direta do
Palácio do Planalto. A pressão já
estava implícita. O líder do PT na
Câmara, Walter Pinheiro (BA),
afirmou que o convencimento do
governo se deu "não por palavras,
mas por atitudes e negócio".
Cargos e verbas
Na Bahia, o senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL) sentiu o
peso dos cargos e das verbas federais. Num primeiro momento,
quando o senador ainda apostava
na CPI como instrumento para
fustigar o presidente Fernando
Henrique Cardoso, seus seguidores chegaram a ameaçar a assinar
o requerimento.
Mas os antes fiéis aliados do senador pefelista acabaram se rendendo às benesses do governo federal.
Apenas quatro deputados do
PFL baiano -Ariston Andrade,
Luiz Moreira, Paulo Magalhães e
Ursicino Queiroz- assinaram o
pedido de CPI. Desses, Queiroz
era o único que tinha um afilhado
em cargo federal no Estado. Os
outros seis deputados do PFL que
contam com cargos federais não
assinaram o pedido.
José Carlos Aleluia (PFL-BA),
que conta com dois cargos e consegue sempre a liberação de verbas, explicou à cúpula carlista que
não poderia abrir mão dos instrumentos que garantem recursos
aos prefeitos da sua base eleitoral.
Em 2000, Aleluia garantiu o empenho e a liquidação de R$ 1,5 milhão para obras de habitação e saneamento básico em 11 municípios baianos. Teve um aproveitamento de 100% no atendimento
das suas emendas individuais.
Esquecidos
A bancada do PL na Câmara, esquecida pelo governo federal e
desprestigiada pelo oposição,
aproveitou a mobilização pela
criação da CPI para tentar negociar espaços no governo.
O deputado Luiz Antonio de
Medeiros (PL-SP) argumentou
que, se os deputados do PL assinassem o pedido da comissão
mista, poderiam esquecer cargos
e verbas federais.
A maioria seguiu o conselho.
Houve poucas exceções, como os
deputados Cabo Júlio (MG) e Eujácio Simões (BA), que é ligado a
ACM. Valdemar Costa Neto (SP)
assinou na condição de líder da
bancada.
O deputado Bispo Rodrigues
(PL-RJ), segundo a Folha apurou,
depois de assinar o pedido de CPI,
teria tentado negociar vantagens
para a TV Record, como verbas
de publicidade do governo.
Ele comanda o grupo evangélico do PL, que não assinou o pedido. Rodrigues negou à Folha ter
tentado fazer barganha.
O deputado Alberto Fraga
(PMDB-DF) tentou negociar o repasse do reajuste das Forças Armadas para a Polícia Militar do
Distrito Federal.
Esperou durante dias um chamado do Palácio do Planalto. Fraga não assinou o requerimento.
Colaboraram DENISE MADUEÑO e LUIZA DAMÉ, da Sucursal de Brasília
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