São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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OPERAÇÃO ABAFA

Bancada de RO temia perda de empréstimo de US$ 70 mi

Verba, cargo e influência convencem a barrar CPI

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A coleta de assinaturas para a CPI da corrupção esbarrou num obstáculo já conhecido -o apego dos parlamentares governistas aos cargos e às verbas federais- e em outros menos usuais.
A fidelidade da bancada de Rondônia, por exemplo, foi garantida pelo temor da perda de um empréstimo externo de US$ 70 milhões para a construção de estradas no Estado.
Um parlamentar de Rondônia relatou à Folha que o governador José Bianco (PFL) fez um apelo a deputados que pretendiam assinar o pedido. O gesto poderia inviabilizar o aval da União ao empréstimo que está sendo negociado com o banco japonês JBIC.
A Cofiex (Comissão de Financiamentos Externos) já decidiu, em 4 de dezembro do ano passado, que não há impedimentos técnicos para a aprovação do empréstimo. Mas o projeto ainda precisa ser aprovado pelo Senado, além de ganhar o aval da União.

Alerta
Os parlamentares de Rondônia também foram alertados de que poderia haver o corte de verbas federais. Só as emendas da bancada ao Orçamento da União para este ano totalizam R$ 123 milhões.
No Senado, as assinaturas de Fernando Matusalem (PPB) e Moreira Mendes (PFL), ligados ao governador José Bianco, completariam o número mínimo exigido para a criação da CPI. Nenhum deles assinou.
Na Câmara, apenas os oposicionistas Agnaldo Muniz (PPS) e Eurípedes Miranda (PDT) assinaram o pedido de CPI.
Na maioria dos casos não chegou a haver uma ação direta do Palácio do Planalto. A pressão já estava implícita. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), afirmou que o convencimento do governo se deu "não por palavras, mas por atitudes e negócio".

Cargos e verbas
Na Bahia, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) sentiu o peso dos cargos e das verbas federais. Num primeiro momento, quando o senador ainda apostava na CPI como instrumento para fustigar o presidente Fernando Henrique Cardoso, seus seguidores chegaram a ameaçar a assinar o requerimento.
Mas os antes fiéis aliados do senador pefelista acabaram se rendendo às benesses do governo federal.
Apenas quatro deputados do PFL baiano -Ariston Andrade, Luiz Moreira, Paulo Magalhães e Ursicino Queiroz- assinaram o pedido de CPI. Desses, Queiroz era o único que tinha um afilhado em cargo federal no Estado. Os outros seis deputados do PFL que contam com cargos federais não assinaram o pedido.
José Carlos Aleluia (PFL-BA), que conta com dois cargos e consegue sempre a liberação de verbas, explicou à cúpula carlista que não poderia abrir mão dos instrumentos que garantem recursos aos prefeitos da sua base eleitoral.
Em 2000, Aleluia garantiu o empenho e a liquidação de R$ 1,5 milhão para obras de habitação e saneamento básico em 11 municípios baianos. Teve um aproveitamento de 100% no atendimento das suas emendas individuais.

Esquecidos
A bancada do PL na Câmara, esquecida pelo governo federal e desprestigiada pelo oposição, aproveitou a mobilização pela criação da CPI para tentar negociar espaços no governo.
O deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) argumentou que, se os deputados do PL assinassem o pedido da comissão mista, poderiam esquecer cargos e verbas federais.
A maioria seguiu o conselho. Houve poucas exceções, como os deputados Cabo Júlio (MG) e Eujácio Simões (BA), que é ligado a ACM. Valdemar Costa Neto (SP) assinou na condição de líder da bancada.
O deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), segundo a Folha apurou, depois de assinar o pedido de CPI, teria tentado negociar vantagens para a TV Record, como verbas de publicidade do governo.
Ele comanda o grupo evangélico do PL, que não assinou o pedido. Rodrigues negou à Folha ter tentado fazer barganha.
O deputado Alberto Fraga (PMDB-DF) tentou negociar o repasse do reajuste das Forças Armadas para a Polícia Militar do Distrito Federal.
Esperou durante dias um chamado do Palácio do Planalto. Fraga não assinou o requerimento.


Colaboraram DENISE MADUEÑO e LUIZA DAMÉ, da Sucursal de Brasília



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