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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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GOVERNO LULA
cem dias


Em seu primeiro pronunciamento em cadeia de rádio e TV, presidente admite "tropeços" no Fome Zero e critica herança que recebeu

"Remédio amargo" é a única saída, diz Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou ontem, em seu primeiro pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, as medidas "amargas" que precisou tomar na economia, admitiu "tropeços" na área social e pediu à população que, ainda assim, continue confiando em seu governo.
Entre as medidas duras, citou o aumento na taxa de juro e o corte de gastos públicos que, segundo ele, chegaram a tirar sua tranquilidade. Classificou o reajuste do salário mínimo para R$ 240 como o "máximo que a prudência e a cautela me recomendavam".
"Internamente, tomamos medidas firmes que, creiam, me custaram algumas noites de sono. (...) Foi um remédio amargo? Eu sei que foi. Mas, para mudar o país de verdade, muitas vezes o remédio amargo é a única alternativa", afirmou, durante nove minutos de uma espécie de prestação de contas dos primeiros cem dias de seu mandato.
Lula preferiu caracterizar o pronunciamento como uma "conversa" com os brasileiros, a quem saudou como "meus amigos e minhas amigas". Disse que adotará o procedimento periodicamente.
No pronunciamento, que começou às 20h e foi gravado no sábado, sob direção do publicitário Duda Mendonça, no Palácio do Planalto, o presidente fez um rápido mea culpa a respeito da conturbada implantação do Fome Zero, programa social que é o carro-chefe de sua administração.
"É verdade que tivemos alguns tropeços no início, mas este é um programa complexo, que implica várias mudanças estruturais no país", disse, sem responder às críticas de lentidão na implantação.
Prometendo que o governo está "no caminho certo", Lula insistiu que, apesar de seguir receita econômica parecida com a do governo anterior, seu governo é de "mudança" -termo que foi usado 16 vezes. Procurou capitalizar a trajetória descendente do dólar e do risco-país. "O sacrifício não está sendo em vão. O dólar caiu, o risco Brasil caiu mais da metade, a inflação está caindo."
Ele também pediu paciência à população. "Estamos apenas começando. (...) Só tenho uma coisa a pedir: continuem confiando no seu presidente. E o mais importante, continuem confiando no seu país". Apesar de comemoração, Lula buscou um tom realista. "Agora é seguir em frente, com cuidado, sem otimismo exagerado, com os pés no chão."
Em contraste com a situação favorável, o presidente fez questão de afirmar que quando assumiu o governo a economia brasileira vivia "um momento dramático".
"O dólar [estava] chegando a R$ 4. O risco Brasil, disparando. A inflação, voltando a crescer e o crédito internacional para as empresas brasileiras, praticamente a zero. Alguns diziam que o Brasil estava à beira da falência", afirmou.
Apesar de colocar na cota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parte das dificuldades, Lula assegurou que não pretende ficar "reclamando". "Não se trata de jogar a culpa em ninguém. Trata-se apenas de deixar bem claro como recebemos o país."
Vestindo um terno verde-oliva, que já havia usado em uma visita ao comando do Exército, Lula também defendeu a realização das reformas tributária e previdenciária, que vão "corrigir distorções, combater a corrupção e incentivar o desenvolvimento, única forma de gerar empregos que tanto precisamos". Ele assegurou que mandará os projetos ao Congresso ainda neste mês.


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