São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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ENERGIA POLÍTICA

Segundo ministro, só o Brasil sofre inspeções em instalações militares"

Viegas pede tratamento "digno" ao país

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Defesa, José Viegas, disse ontem que o Brasil deve ser tratado de uma maneira "digna" em relação ao seu programa nuclear. Ele afirmou que a "mudança de regras" das inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) prejudica o país e "expõe nossas tecnologias".
A AIEA vem pressionando o Brasil para que assine um protocolo adicional ao acordo de não-proliferação de armas nucleares. Esse protocolo permitiria que os técnicos da agência tivessem mais acesso às instalações brasileiras onde ocorre o processo de enriquecimento de urânio.
"O que nós não queremos é uma mudança de regras que vai nos prejudicar e expor nossas tecnologias. É um nível de exigência comparado ao de países que tem programas clandestinos e locais não declarados [de produção]."
Segundo Viegas, o Brasil é o único país do mundo que sofre inspeções pela AIEA em instalações militares. "O Brasil cumpre de maneira absoluta as obrigações de não-proliferação. É legítimo que sejamos tratados de uma maneira digna", afirmou.
Viegas acrescentou que o país nunca escondeu nada do que faz e não tem projetos de uso da energia atômica para fins militares.
Para o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), os Estados Unidos não devem interferir no programa nuclear brasileiro. "O Brasil somente deve explicações a organismos como a Agência Internacional de Energia Atômica", disse ontem, em Salvador, logo após assinar dois convênios com o governador Paulo Souto (PFL).
Segundo o ministro, os Estados Unidos, que têm uma ótima relação política e comercial com o país, conhecem o propósito pacífico do programa nuclear do país. "Sinceramente, não sei quais as razões dos temores do governo norte-americano em relação ao nosso programa."
Anteontem, o Departamento de Energia norte-americano confirmou que o secretário Spencer Abraham virá ao Brasil para participar de reunião com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Dilma Roussef (Minas e Energia) e Eduardo Campos.
Segundo Campos, o Brasil gasta anualmente cerca de US$ 12 milhões só para enriquecer o urânio na Europa, antes de o produto ser utilizado nas usinas nucleares de Angra dos Reis. "Aí está a razão para enriquecermos o urânio aqui." Campos disse também que o urânio brasileiro apenas será usado para a geração de energia.

OAB
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, afirmou ontem que os Estados Unidos não podem tratar o Brasil como tratam os seus adversários, referindo-se à polêmica sobre a inspeção às tecnologias desenvolvidas internamente para o enriquecimento de urânio.
Busato falou que apóia a decisão do governo de não permitir essa inspeção. Para ele, "o princípio da soberania deve ser preservado a todo custo". Disse ainda que não há "nenhuma indicação na comunidade internacional de que o nosso país esteja fazendo mau uso da tecnologia envolvendo a utilização de urânio enriquecido".


Colaborou LUIZ FRANCISCO, da Agência Folha, em Salvador

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