São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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JANIO DE FREITAS

Limites ausentes


Uma distorção tão cedo e tão óbvia, quando só o telejornal é transmitido pela TV Brasil, vale como mau prenúncio

JÁ O PRIMEIRO incidente na produção do telejornalismo da TV Brasil (ou TV Pública?), criada formalmente no mês passado, revela uma situação interna incompatível com a proclamada independência da emissora em relação ao governo, para ser um serviço público "independente como a BBC". Uma distorção tão cedo e tão óbvia, quando o telejornal ainda é a única produção transmitida por essa TV, vale como mau prenúncio.
A situação crítica foi revelada por Luiz Lobo, demitido do cargo de editor-chefe da TV, em breve passagem ao narrar a Daniel Castro, na Folha, que "todo texto sobre Planalto, Presidência, política e economia" tem que passar por um crivo que "muda os textos dos repórteres freqüentemente", no sentido presumidamente mais apropriado para a Presidência ou o governo. Veto ao uso da palavra "dossiê", por exemplo, em noticiário a respeito dele. Restrições negadas pela diretoria de jornalismo como interferência de fins políticos, mas não como fatos.
A anomalia imprópria à "TV independente e pública" está em uma exigência ética não cumprida na estrutura dada ao seu jornalismo. Não é o caso de habilitação profissional, de integridade pessoal, e muito menos de nomes, mas é indiscutível que nenhum nível de decisão do jornalismo pode ser ocupado, sem impropriedade ética e política, por profissional pessoalmente ligado a nível alto do governo, quanto mais à Presidência da República.
Na TV Brasil, o crivo do telejornalismo e a elaboração de textos que antecedem a notícia, e nisso encaminham o seu sentido, estão entregues à mulher de um assessor de imprensa da Presidência da República. Tal situação na emissora dispensa discutir se é ou não intencional: é, por si mesma, passível de suspeita, simplesmente. Haja ou não limitações informativas e domesticações textuais, todo deslize e toda carência sujeitam-se a ser interpretados como manipulação política. Com os efeitos de praxe.
A independência da TV Brasil só pode partir da inexistência de conexões inconvenientes ao jornalismo, mesmo que não cheguem a ser matrimoniais. Nesse capítulo, os limites do admissível são estreitos.

Paguemos
Nem só de perdas são os efeitos, nos aeroportos, da greve de auditores da Receita Federal. Os depósitos e as áreas externas para contêineres estão superlotados, como imagem pesada dos prejuízos idem de exportadores e importadores. Mas a Infraero já encheu os cofres nesses 20 dias de greve dos auditores. A ocupação de área aeroportuária por carga paralisada é paga, segundo a duração, em percentuais sobre seu suposto valor.
O exportador perde, porque seu cliente estrangeiro não cobre o gasto imprevisto. O importador não precisa se preocupar: nós pagamos o seu gasto extra, que será incluído no preço, aqui, do produto importado.

Bom método
É curioso como os sucessivos governos de São Paulo erram nas contas que não os louvam. São sempre assim, entre outros, os levantamentos numéricos da criminalidade e de seus registros policiais. Agora são os 400 casos de dengue que aparecem na contagem dos municípios, mas não entraram na soma feita pelo Estado. Um pequeno corte de um terço dos casos municipais levantados pela Folha. O mau resultado das escolas paulistas no Enem talvez explique em parte as somas originais dos governos, mas o restante da explicação deve estar na auto-ajuda: o sucesso pelo método mais fácil.


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