São Paulo, Quinta-feira, 08 de Abril de 1999
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BUDISMO NO PLANALTO
Segundo o Planalto, visita foi "espiritual"
Presidente e Dalai Lama se encontram

Lula Marques/Folha Imagem
Dalai Lama cumprimenta ACM na casa deste, onde encontrou FHC


WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso improvisou ontem um encontro de 15 minutos com o líder espiritual e político do Tibete, o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, na casa do presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"A visita teve um caráter estritamente pessoal. O Dalai Lama é um líder espiritual que tem vários seguidores no Brasil. Em nenhum momento o presidente e ele levantaram qualquer questão sobre o estatuto político do Tibete", disse o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral.
Chefe supremo da religião budista e soberano espiritual dos lamas, o Dalai Lama falou sobre a situação do Tibete, a guerra na Iugoslávia, a democracia e a liberdade, segundo ACM.
O encontro foi discreto, sem a presença da imprensa, numa tentativa de evitar problemas diplomáticos com a China.
Conforme a Folha apurou, FHC foi convencido a se encontrar com o Dalai Lama por sua mulher, Ruth Cardoso, que, por sua vez, foi convencida a interceder na questão pela atriz e empresária Ruth Escobar.
Durante o encontro, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que estava presente, tentou obter de FHC uma posição sobre a questão do Tibete, mas o presidente encerrou o encontro de forma cordial, recusando-se a discutir o tema.
Falando para mais de mil pessoas no Congresso, em seguida ao encontro com FHC, o Dalai Lama disse que os tibetanos não lutam pela independência do Tibete, mas por uma "autonomia autêntica", capaz de preservar sua identidade cultural.
"O Tibete tem uma tradição cultural muito antiga, fortemente ligada ao budismo, que está correndo o risco de extinção", afirmou o Dalai Lama.
Ele disse que há anos busca uma solução intermediária, com concessões recíprocas, mas que nunca recebeu resposta do governo chinês.
O Dalai Lama repetiu o que havia dito de manhã para 5.000 pessoas (conforme estimativa da Polícia Militar), na Universidade de Brasília: "O mundo inteiro assiste a uma interdependência dos países. Não cabe mais a idéia de que o meu país derrotou o seu país. A derrota do seu país é uma perda para o meu país."
A autonomia do Tibete e a preservação de sua cultura, disse, interessa não só aos tibetanos, mas a milhares de chineses budistas e a pessoas do mundo inteiro interessadas em budismo e, em particular, no budismo tibetano.
O Dalai Lama reafirmou ontem que voltará a ser apenas um monge quando o Tibete ganhar autonomia e puder eleger seu presidente democraticamente.
Antes de sua chegada à Câmara, o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) havia criticado o antigo regime tibetano, que classificou de teocrático e feudal.


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