São Paulo, Quinta-feira, 08 de Abril de 1999
Texto Anterior | Índice

ASSASSINATO
Deputado perde a imunidade parlamentar e não pode se candidatar por 8 anos
Câmara cassa mandato de Talvane

da Sucursal de Brasília

A Câmara cassou ontem o mandato do deputado Talvane Albuquerque (PTN-AL) por falta de decoro parlamentar. Com a cassação, Albuquerque perde a imunidade parlamentar e poderá ser julgado como mandante da morte da deputada Ceci Cunha (PSDB-AL), conforme concluiu o inquérito policial. O deputado também fica proibido de se candidatar a cargos eletivos por oito anos.
A Mesa da Câmara foi informada de que a Justiça de Alagoas deverá decretar hoje a prisão preventiva de Albuquerque. O placar registrou 427 votos a favor da cassação, 29 contrários, 21 deputados se abstiveram e 1 votou em branco. A votação foi secreta.
Na tribuna, Talvane pediu mais investigações. O deputado entregou à presidência um fax da Justiça de Alagoas, no qual o ministro Renan Calheiros (Justiça), o ex-governador Manoel Gomes de Barros (PTB-AL) e o ex-diretor da Polícia Federal Vicente Chelotti são arrolados como testemunhas de defesa do pistoleiro Maurício Novaes, o "Chapéu de Couro".
"É um absurdo uma coisa dessas. É uma total inversão de valores. Estou sendo cassado por ter falado com "Chapéu de Couro" e essas pessoas são testemunhas de defesa dele", disse Talvane.
O deputado revelou que seu plano é ficar em Brasília, onde pretende exercer a medicina. O deputado é ginecologista e obstetra. "Eu sou um bom médico", completou.
Com o atraso do parlamentar, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), foi obrigado a nomear um advogado de defesa durante a sessão. O julgamento da Câmara é político e disciplinar. O processo não analisou se Talvane foi ou não o mandante da morte de Ceci Cunha, negada por ele.
O parecer do deputado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) concluiu que Talvane faltou com o decoro parlamentar pelos três fatos apontados pela comissão.
Ou seja: por ter se relacionado com "Chapéu de Couro", por ter negociado com contrabandista e por ter auxiliado na fuga de seus assessores procurados pela polícia como executores de Ceci Cunha.
Até as 23h30 de ontem, cerca de dez homens da Polícia Federal estavam vigiando o edifício em que Talvane mora em Brasília. A PF informou que a Justiça estadual de Alagoas expediu um mandado de prisão contra Talvane pelo caso em que ele é acusado de ser o mandante da tentativa de assassinato do radialista Alves Correia, em 93.
Segundo a PF, Talvane será preso, mas não se sabe ainda quando. Hoje pela manhã, um delegado de Alagoas trará os originais do mandado e uma carta precatória para que seja efetuada a prisão. O advogado de Talvane diz que seu cliente não poderá ser preso antes que decorra um prazo de 24 horas após a publicação da cassação de seu mandato no "Diário Oficial".
(DENISE MADUEÑO, LUIZA DAMÉ e ABNOR GONDIM)


Texto Anterior: Liberação de verba de emenda pode mudar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.