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BINGO DA DISCÓRDIA
Para evitar choque com Senado e obrigar oposição a dar mais explicações, presidente adia medidas
Após derrota, Lula insiste em proibir jogo
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva decidiu insistir na proibição
dos bingos e exploração de máquinas caça-níqueis, mas adiou
para a próxima semana o anúncio
das "medidas jurídicas" -ainda
não há decisão sobre a edição de
uma nova medida provisória-
que tomará nesse sentido.
O adiamento teve razão política:
o temor de um novo enfrentamento no Senado, que na quarta-feira impôs a maior derrota já sofrida pelo governo no Congresso,
ao derrubar por 33 votos a 31 medida provisória idêntica editada
em fevereiro. Além disso, o Planalto quer que a oposição (PSDB
e PFL) carregue por mais algum
tempo o que um assessor do presidente chamou de "bóia de urtiga", ou seja, ficar se explicando
por ter derrubado no Senado uma
medida moralizadora.
Antes de anunciar as medidas,
Lula vai consultar os líderes aliados e os presidentes da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e
dos partidos governistas. As conversas com esse grupo começaram ontem. Lula não quer correr
o risco de uma nova derrota.
Lula estava decidido a editar ontem uma MP fechando os bingos
e a enviar projetos de lei ao Congresso regulamentando aspectos
mais polêmicos. De manhã, recebeu diversos pareceres jurídicos,
alguns favoráveis à fórmula que
pretendia adotar e outros com a
advertência de que a medida era
passível de contestação judicial.
Ainda assim, estava disposto a assinar a MP, mas recuou após fazer
uma análise política da questão.
A simples edição poderia transparecer uma decisão de confrontar o Senado, que derrubou a MP
de fevereiro por não considerá-la
urgente e relevante, requisitos
exigidos para a edição de MPs.
Na mensagem que enviou ao
Congresso, no início do ano, Lula
falava em regulamentar o funcionamento dos bingos. Decidiu
mudar de opinião em fevereiro,
numa resposta à crise política que
se seguiu à denúncia de que um
assessor graduado da Casa Civil,
Waldomiro Diniz, pediu propina
a um empresário de jogos em
2002. Quando o caso veio à tona,
ele foi demitido "a pedido".
O ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) disse ontem em
Belém (PA) que a atividade de
bingos é ilegal: "Já existe a proibição. A Advocacia Geral da União
está trabalhando para cassar as liminares eventualmente dadas".
Cachoeira
O empresário de jogos Carlos
Augusto de Almeida Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, afirmou ontem ter obtido da Justiça Federal
autorização para deslacrar anteontem o sistema de computadores que opera três loterias no
Rio. A informação de Cachoeira
foi confirmada pela assessoria da
Loterj (loteria do Rio de Janeiro).
O consórcio Combralog, que
pertence a Cachoeira e à empresa
sul-coreana Pico Soft, recebeu a
notificação anteontem e pretende
reativar as três loterias em 30 dias.
Cachoeira não quis dar entrevista.
A decisão de liberar os equipamentos é do juiz Abel Fernandes
Gomes, da 5ª Vara Federal do Rio,
disse Raimundo Barbosa, advogado do consórcio. A reportagem
não conseguiu localizar o juiz.
Os computadores tinham sido
lacrados, por ordem judicial, pela
PF (Polícia Federal), em 15 de fevereiro, dois dias após ser divulgada a fita onde o ex-assessor do
Planalto Waldomiro Diniz pede
propina a Cachoeira. O contrato
entre o Combralog e a Loterj foi
firmado em 2002, quando Waldomiro presidia a autarquia.
Colaborou a Agência Folha
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