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Ao dizer que juros reais são os menores dos últimos dez anos, partido usou metodologia que existe apenas desde 2001
Dados do BC contradizem propaganda do PT
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados do Banco Central põem
em xeque a afirmação de que os
atuais juros reais -ou seja, descontada a inflação- são os menores dos últimos dez anos, veiculada anteontem pelo programa
nacional do PT na TV, sob o mote
"isso é fato, isso é verdade".
Como é tradição na propaganda
política, o programa omitiu os
principais resultados negativos
colhidos pelo governo Luiz Inácio
Lula da Silva, como a queda do
PIB (Produto Interno Bruto) e o
aumento do desemprego.
Mas, mesmo no caso dos juros
reais, apresentado como conquista da gestão Lula, os números dão,
no mínimo, margem a dúvidas.
Há três critérios principais para
calcular juros reais. Por dois deles,
a afirmação de que as taxas são as
menores desde 1994 é insustentável, segundo estatísticas oficiais.
No terceiro critério, justamente
o adotado pelo programa petista,
o problema é a inexistência de números comparáveis no período
de dez anos mencionado pelo PT.
Aos fatos: os juros reais de hoje
superam os de 2002, último ano
do governo FHC, se o cálculo levar em conta o passado -ou seja,
as taxas do Banco Central acumuladas nos últimos 12 meses, descontada a inflação do período.
Segundo relatório do BC de
março último, a taxa de juros reais
medida dessa forma "manteve
trajetória ascendente" e chegou a
14% em fevereiro deste ano. Em
relatório de março do ano passado, o BC afirmou: "A taxa real
acumulada em 2002 situou-se em
5,9%, a menor desde 1991".
Outra forma de fazer a conta é
usar a taxa presente do BC -hoje
de 16% ao ano- e descontar a inflação projetada pelo mercado para os próximos 12 meses, a partir
de pesquisa feita diariamente pelo
banco. Por essa metodologia, os
juros reais estão em 9,8% ao ano.
Calculada dessa forma, a taxa
foi menor nos últimos dois meses
do governo FHC, quando, após a
eleição de Lula, as expectativas de
inflação do mercado dispararam
(ver quadro nesta página). Em
novembro e dezembro de 2002, os
juros reais foram de, respectivamente, 8,41% e 7,87%.
Terceiro critério
O terceiro critério para medir
juros reais é o mais sofisticado deles: comparar os juros projetados
para os próximos 12 meses -a
partir das operações do mercado
futuro- com a inflação esperada
para o período.
Com base nessa medida, governo e PT sustentam que as taxas
atuais, na casa dos 9% ao ano, são
as menores dos últimos dez anos.
Problema: a pesquisa do BC que
apura a inflação esperada pelo
mercado para os 12 meses seguintes só foi iniciada no final de 2001.
Não há dados, portanto, para a
enorme maioria do período mencionado pela propaganda petista.
Segundo o BC, foram feitas hipóteses para a inflação esperada
em períodos passados. Numa
economia instável como a brasileira, tal exercício é muito arriscado. Em 1999, por exemplo, na desvalorização do real, houve grande
dispersão das projeções de inflação -um banco, o Merrill Lynch,
chegou a prever um IPCA de 33%
naquele ano; acabou em 8,94%.
Exageros à parte, é fato que os
resultados colhidos por Lula na
política monetária -queda da inflação e dos juros reais- são melhores que os obtidos no estímulo
ao crescimento, na geração de
empregos e nos gastos sociais.
Não é por acaso: ao priorizar o
controle da inflação, com juros altos e aperto nas contas, Lula obteve reveses omitidos na propaganda: o PIB caiu 0,2% em 2003, primeira queda anual desde 1992 e o
desemprego manteve-se em alta.
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