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INVESTIGAÇÃO
Ex-prefeito diz que não se lembra de ter assinado documento de abertura de conta, mas nega ter dinheiro na Suíça
Maluf atribui denúncia a interesse eleitoral
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
O ex-prefeito Paulo Maluf atribui a interesses político-eleitorais
a divulgação de um documento
em que sua assinatura aparece na
abertura de uma conta bancária
na Suíça, em 1985. Maluf não admite que a assinatura seja sua:
"Não sei, não me lembro".
Segundo ele, deve-se perguntar
quem se beneficiaria com seu enfraquecimento na corrida pela
prefeitura paulistana.
Segundo a última pesquisa do
Datafolha, do final de março, Maluf aparece na liderança, tecnicamente empatado com o tucano
José Serra (24% contra 22%). Nesse cenário, a prefeita Marta Suplicy (PT) tem 17%. A margem de
erro é de três pontos percentuais.
Embora não admita publicamente, a Folha apurou que Maluf
será candidato à sucessão em São
Paulo e apenas aguarda o momento adequado de dizê-lo.
Folha - O senhor viu o "Jornal Nacional"?
Paulo Maluf - Eu não vi porque
estou aqui com visita, mas o Adilson [Laranjeira, assessor] me
contou que a única coisa que
mostraram foi um cartão de assinatura bancária.
Folha - Uma assinatura que seria
do senhor.
Maluf - Eles atribuem a mim, e
eu não sei se é minha.
Folha - É ou não é?
Maluf - Não sei. Não sei. Não sei.
Folha - O senhor não se lembra de
ter assinado isso?
Maluf - Não, não tenho nenhuma lembrança de ter assinado. A
assinatura é de dez anos atrás.
Não lembro. Em primeiro lugar é
o seguinte: não tenho conta na
Suíça. E tem mais: desafio -desafio fica um pouco forte-, eu assumo o compromisso do primeiro que encontrar qualquer depósito na minha conta na Suíça a ficar com o dinheiro.
Folha - O sr. diz isso?
Maluf - É. Desafio parece uma
bravata. Mas você está autorizado: passo uma escritura para o
primeiro que encontrar meu dinheiro na Suíça. Vai ficar com ele.
Estou há sete anos fora da prefeitura, não recebi sobre esse assunto nenhum processo de improbidade administrativa. A primeira
pergunta que eu faço é a seguinte:
por que o promotor Silvio Marques não me processa?
Folha - Por que não o denuncia
formalmente, é isso?
Maluf - Por que ele não me denuncia? Por que que ele fica num
ato de covardia e de crime funcional dando documentos eventuais,
que ninguém sabe a procedência,
que nem eu sei, porque meus advogados não têm acesso ao processo? Na Justiça, o advogado tem
acesso. Lá [no Ministério Público]
o promotor Silvio Marques esconde o processo. Mas, muito
bem, por que que não me denuncia? Há sete anos estou fora. Agora, por que eu causo inveja?
Folha - O senhor é candidato à sucessão de Marta Suplicy?
Maluf - Aí vai a história: o Datafolha faz uma pesquisa e me dá
24%, 22% para o Serra [José, presidente do PSDB] e 17% para a
Marta. Não tenho nenhum processo de improbidade administrativa aberto pelo senhor Marques, mas o que eles fazem? Fazem política eleitoral, o que é lastimável. Porque eu tenho o maior
apreço pelo Ministério Público.
Inclusive no governo do Estado,
quis a isonomia entre o Ministério Público e a Justiça, para elevar
o salário dos membros do Ministério Público.
E o Ministério Público tem promotores e procuradores maravilhosos. Um ou outro usa o Ministério Público de maneira política e
se esconde atrás da sua estabilidade no emprego para dar com exclusividade -deu para a Rede
Globo e para "Veja"- documentos a que eu não tive acesso. Então, isso, no meu entender, não é
um ato de investigação. É um ato
de covardia.
Folha - O senhor vê algum interesse político, alguém por trás dessa denúncia?
Maluf - Sim. Eu recebi, não vou
dar o nome, mas se precisar eu
dou, um telefonema, faz duas horas, de um deputado federal de
Brasília que me disse exatamente
quem estava por trás disso.
É um dos políticos mais conhecidos deste país. O deputado me
disse: "Eu sei quem esteve na revista "Veja", dando os dados. E sei
quem esteve há dois dias na Rede
Globo. É o mesmo fulano".
Folha - Quem é?
Maluf - Eu não posso lhe dar o
nome, porque eu não tenho provas. Se eu tivesse provas eu processaria o fulano. Mas eu acho que
os leitores da Folha e você vão intuir quem é que tem interesse.
Folha - Interesse na eleição de
São Paulo, alguém com interesse
no processo eleitoral?
Maluf - Muito bem, tem um velho ditado em latim que diz Cui
prodest? [A quem beneficia?]: A
quem isso beneficia? Se eu estivesse em último lugar nas pesquisas,
ninguém estaria preocupado em
dizer mentiras a meu respeito.
Agora, quero que você diga o seguinte: faço por meio desta declaração gravada na Folha de S.Paulo uma escritura: o primeiro que
achar o dinheiro é dele.
Folha - Será registrado. O sr. vai
ser candidato?
Maluf - Eu não posso dizer hoje,
neste minuto, que eu sou candidato, porque parece que eu sou
candidato porque me provocaram. Se eu for candidato, eu tenho
outras razões. Primeiro: porque
eu amo São Paulo. Segundo: por
tudo que eu estou vendo, no orçamento, nas nomeações, no trânsito horroroso, na saúde pública
ruim.
Folha - O sr. tem uma avaliação
negativa da gestão Marta?
Maluf - Eu não, o Datafolha tem.
Então, por tudo isso, por meu
amor a São Paulo, eu tendo estímulo de ser candidato. Vou decidir entre o fim de maio e o começo de junho. Não tem porque eu
me decidir antes. Agora, não é
porque me agrediram, não é essa
provocação que me estimula. O
que me estimula não é o ódio,
nem o rancor. O que me estimula
na minha vida foi sempre o amor
que eu tive por São Paulo.
Fiz uma administração que não
sou eu quem avalia, quem avaliou
foi o Datafolha que quem fez por
São Paulo foi Paulo Maluf. Isso
me estimula.
Folha - O sr. disse "Cui prodest?".
Aos tucanos?
Maluf -Ah, não sei. Eu acho que
os leitores da Folha são gente da
mais alta categoria, de Q.I. intelectual. A gente vê pela qualidade das
cartas de leitores que a Folha recebe e publica no "Painel do Leitor". Eles saberão a quem essa
campanha sórdida beneficia.
Folha - O "JN" exibiu um documento de um alemão, Gunther
Woernle, de março de 1989, que teria dito que estaria abrindo uma
subconta no nome do filho do sr.
Flávio Maluf, de US$ 375 mil.
Maluf - Coitado do Flávio [rindo]. Você tira três zeros, põe em
cruzeiros antigos, ele não tem isso. O Flávio é um empresário profissional, que trabalha na empresa
na qual eu sou acionista majoritário.
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