São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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MÍDIA

Tereza Cruvinel, de "O Globo", não vê falha ética em produzir livro para a Casa

Câmara paga colunista por projeto

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A jornalista Tereza Cruvinel, responsável pela principal coluna de informação e opinião sobre política do jornal "O Globo", mantém um contrato de prestação de serviços com a Câmara dos Deputados -foco freqüente do que escreve na página 2 do jornal do Rio de Janeiro.
"Já entreguei o trabalho, ainda não recebi. É R$ 12 mil. Acho muito mal pago para um trabalho tão grande como o que eu fiz", disse Cruvinel. Ela foi contratada pela Casa por R$ 15,68 mil para elaborar um perfil da ex-deputada federal de Pernambuco Cristina Tavares, morta em 1992.
O processo administrativo que deu origem ao contrato começou em 8 de abril de 2003 por iniciativa do gabinete do presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP). A contratação foi fechada sem um procedimento licitatório, sob alegação de notória especialização (artigo 25 da Lei de Licitações).
O contrato começou a vigorar em novembro de 2003 e valerá até o próximo dia 29. Nesse período, Cruvinel continuou exercendo suas funções na coluna política.
Ela também faz comentários sobre política na "Globonews", emissora de TV a cabo de notícias da Rede Globo.

Independência
A jornalista disse ontem que não considera falha ética manter contrato com a Câmara ao mesmo tempo em que comanda a coluna em "O Globo".
"Do ponto de vista da relação com o Congresso, não vejo como [o contrato] possa interferir na minha independência ou no meu distanciamento", disse a colunista. "Eu acho que o trabalho é sobre uma pessoa que já morreu, não é sobre uma pessoa viva. Não estou fazendo um trabalho sobre João Paulo ou qualquer outro deputado", argumentou.
O Código de Ética do jornalista, em seu artigo 10, proíbe ao profissional "exercer cobertura jornalística pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas e privadas, onde seja funcionário, assessor ou empregado".
Procurado quatro vezes ontem pela Folha, por telefone, no Rio, o diretor de redação de "O Globo", Rodolfo Fernandes, não retornou a ligação. Sua secretária informou que ele estava em reunião.
O chefe-de-gabinete do deputado João Paulo, José Umberto Almeida, informou, por meio da assessoria da presidência da Casa, que "a pessoa é escolhida pela sua capacidade técnica e afinidade com o personagem a ser retratado" na coleção de livros editados pela Casa chamada "Perfis Parlamentares". Ele não comentou os aspectos éticos da contratação.

Viagens
A relação de viagens pagas pelo governo federal em 2003, entregue ao Congresso a pedido do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), incluiu registro de duas passagens aéreas para que os jornalistas de economia Luís Nassif, colunista da Folha, e Miriam Leitão, de "O Globo", participassem de um seminário sobre reforma da Previdência do governo federal. O evento foi organizado em Brasília pelo Ministério da Previdência, em outubro passado.
Nassif disse não ver problema na sua viagem para o seminário. Afirmou também não ter informado o convite à Secretaria de Redação do jornal porque desconhecia a necessidade, prevista no "Manual da Redação".
"Já recebi passagens de associações de magistrados para palestras para juízes; de associações de procuradores para palestras para o Ministério Público; de universidades para palestras para universitários. Na maioria absoluta dos casos, sem remuneração", informou Nassif. Procurada pela Folha, Miriam Leitão não deu retorno a um pedido de informações.


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