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MÍDIA
Tereza Cruvinel, de "O Globo", não vê falha ética em produzir livro para a Casa
Câmara paga colunista por projeto
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A jornalista Tereza Cruvinel,
responsável pela principal coluna
de informação e opinião sobre
política do jornal "O Globo",
mantém um contrato de prestação de serviços com a Câmara dos
Deputados -foco freqüente do
que escreve na página 2 do jornal
do Rio de Janeiro.
"Já entreguei o trabalho, ainda
não recebi. É R$ 12 mil. Acho muito mal pago para um trabalho tão
grande como o que eu fiz", disse
Cruvinel. Ela foi contratada pela
Casa por R$ 15,68 mil para elaborar um perfil da ex-deputada federal de Pernambuco Cristina Tavares, morta em 1992.
O processo administrativo que
deu origem ao contrato começou
em 8 de abril de 2003 por iniciativa do gabinete do presidente da
Casa, João Paulo Cunha (PT-SP).
A contratação foi fechada sem um
procedimento licitatório, sob alegação de notória especialização
(artigo 25 da Lei de Licitações).
O contrato começou a vigorar
em novembro de 2003 e valerá até
o próximo dia 29. Nesse período,
Cruvinel continuou exercendo
suas funções na coluna política.
Ela também faz comentários sobre política na "Globonews",
emissora de TV a cabo de notícias
da Rede Globo.
Independência
A jornalista disse ontem que
não considera falha ética manter
contrato com a Câmara ao mesmo tempo em que comanda a coluna em "O Globo".
"Do ponto de vista da relação
com o Congresso, não vejo como
[o contrato] possa interferir na
minha independência ou no meu
distanciamento", disse a colunista. "Eu acho que o trabalho é sobre uma pessoa que já morreu,
não é sobre uma pessoa viva. Não
estou fazendo um trabalho sobre
João Paulo ou qualquer outro deputado", argumentou.
O Código de Ética do jornalista,
em seu artigo 10, proíbe ao profissional "exercer cobertura jornalística pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas e privadas, onde seja funcionário, assessor ou empregado".
Procurado quatro vezes ontem
pela Folha, por telefone, no Rio, o
diretor de redação de "O Globo",
Rodolfo Fernandes, não retornou
a ligação. Sua secretária informou
que ele estava em reunião.
O chefe-de-gabinete do deputado João Paulo, José Umberto Almeida, informou, por meio da assessoria da presidência da Casa,
que "a pessoa é escolhida pela sua
capacidade técnica e afinidade
com o personagem a ser retratado" na coleção de livros editados
pela Casa chamada "Perfis Parlamentares". Ele não comentou os
aspectos éticos da contratação.
Viagens
A relação de viagens pagas pelo
governo federal em 2003, entregue ao Congresso a pedido do deputado federal Luiz Carlos Hauly
(PSDB-PR), incluiu registro de
duas passagens aéreas para que os
jornalistas de economia Luís Nassif, colunista da Folha, e Miriam
Leitão, de "O Globo", participassem de um seminário sobre reforma da Previdência do governo federal. O evento foi organizado em
Brasília pelo Ministério da Previdência, em outubro passado.
Nassif disse não ver problema
na sua viagem para o seminário.
Afirmou também não ter informado o convite à Secretaria de
Redação do jornal porque desconhecia a necessidade, prevista no
"Manual da Redação".
"Já recebi passagens de associações de magistrados para palestras para juízes; de associações de
procuradores para palestras para
o Ministério Público; de universidades para palestras para universitários. Na maioria absoluta dos
casos, sem remuneração", informou Nassif. Procurada pela Folha, Miriam Leitão não deu retorno a um pedido de informações.
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