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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Escutas mostram conversas sobre reformas e que Ney Suassuna teria contato com grupo; ele nega
PF investiga ação de quadrilha em hospitais
ADRIANO CEOLIN
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Investigações da Polícia Federal
indicam que a quadrilha desbaratada na Operação Sanguessuga
tentou expandir seus negócios
além da compra de ambulâncias e
veículos com equipamentos para
programas de inclusão digital. Integrantes do grupo, flagrados em
escuta telefônica autorizada pela
Justiça, conversavam também sobre reforma e ampliação de prédios hospitalares.
Há indícios ainda de que o grupo contava com pelo menos mais
dois funcionários infiltrados no
governo, além de Maria da Penha
Lino lotada no gabinete do ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe
desde o início do ano passado.
Segundo as conversas gravadas
pela PF, um deles trabalharia no
FNS (Fundo Nacional da Saúde)
-que é vinculado ao ministério- e o outro na Finep (Financiadora de Estudos e Projetos),
empresa pública ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Em outra conversa obtida pela
Folha, é revelado que o senador
Ney Suassuna (PMDB-PB) manteve contato direto com a quadrilha, segundo Penha, que diz ter falado com o senador ao telefone.
Na quinta passada, a PF prendeu 47 pessoas acusadas de fazer
parte de uma quadrilha que, por
meio de emendas apresentadas
por parlamentares ao Orçamento,
direcionavam compras de ambulâncias fraudadas e superfaturadas por prefeituras de mais de
cem municípios (a maioria de
Mato Grosso). Os ex-deputados
federais Carlos Rodrigues (PL-RJ)
e Ronivon Santiago (PP-AC), assessores de parlamentares e empresários estão entre os presos.
A pedido da Justiça Federal do
Mato Grosso, a PF produziu uma
lista com nomes de 62 deputados
e um suplente que podem ter recebido propina para atuar em favor da quadrilha. No documento,
há também o nome de Suassuna,
único senador suspeito de participar do esquema. Na quinta, o assessor do gabinete dele Marcelo
Cardoso Carvalho também foi
preso. O senador da Paraíba, que
é líder do PMDB no Senado, nega
envolvimento no caso.
Infiltrada no Ministério da Saúde para agilizar a aprovação dos
convênios para as compras de
ambulância, a assessora de gabinete Maria da Penha Lino, que
chegou anteontem à sede da PF de
Cuiabá, aparece em diálogos gravados pela PF conversando sobre
reformas hospitalares com o líder
da quadrilha, o empresário Darci
José Vedoin, também preso.
"Tem que pedir para o pessoal
analisar que ali tem planta, fiação,
reforma e equipamento, e que
primeiro aprova a parte de engenharia e arquitetura, para depois
mexer com os equipamentos", diz
Penha a Vedoin. Num dos diálogos, Lino afirma ter recebido telefonemas do próprio Suassuna nos
quais trataram de emendas sobre
compra de ambulâncias.
Na conversa com Luiz Antônio
Trevisan Vedoin (sócio da Planam, principal empresa usada pelo esquema), em dezembro de
2005, Penha diz que o senador ligou para tratar do empenho de
recursos para a aquisição de unidades móveis da Paraíba.
Ela ainda relata que Suassuna
telefonou numa outra oportunidade para dizer que assinou "sem
ver" os pedidos de empenho e que
a prioridade na compra de ambulâncias deveria ser mantida.
Segundo Penha, vale "R$ 80
[mil] cada" unidade móvel das
emendas de Suassuna à Paraíba.
As investigações apontam para
um superfaturamento de pouco
mais de 100% em cada ambulância, que teria um custo real de R$
40 mil e mais tarde eram revendidos por R$ 80 mil às prefeituras.
Investigação
A PF vai ouvir assessores e ex-funcionários de congressistas
presos, mas aguarda autorização
do STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar deputados federais. Prefeitos também serão alvo de ação do Ministério Público
Federal em Brasília, afirmou ontem o procurador da República
de Cuiabá Mário Lúcio Avelar.
O delegado Tardelli Boaventura
pediu ontem a prorrogação das
prisões temporárias dos envolvidos por mais cinco dias. Anteontem à noite, chegaram algemados
à PF assessores que trabalhavam
com os deputados Vieira Reis
(PRB-RJ), Elaine Costa (PTB-RJ),
Nilton Capixaba (PTB-RO), Reginaldo Germano (PP-BA) e com o
senador Ney Suassuna. Algemado
e num camburão, o ex-deputado
Carlos Rodrigues (PL-RJ) chegou
ontem a Cuiabá. Ele negou participação no esquema.
Colaborou a Agência Folha, em Cuiabá
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