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SOCORRO A BANCOS
PF conclui inquérito sem reafirmar suspeita de que ministro tomou conhecimento prévio da ajuda a Marka e FonteCindam
Polícia não prova participação de Malan
LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de mais de um ano de investigação, a Polícia Federal não
conseguiu provas de que o ministro Pedro Malan (Fazenda) soubesse da operação de socorro aos
bancos Marka e FonteCindam.
A suspeita -levantada internamente na PF- era um dos pontos considerados mais sensíveis
do inquérito 4.008/99, que apurava o suposto envolvimento de servidores do BC (Banco Central) no
vazamento de informações sigilosas sobre o mercado financeiro.
No relatório final de seu trabalho, enviado à 6ª Vara Federal do
Rio de Janeiro, o delegado responsável pela investigação, Luiz
Pontel de Souza, não aponta o envolvimento de Malan no caso.
Em tese, o Ministério Público
ainda pode insistir em que a PF
continue apurando se o ministro
teve participação na operação de
socorro aos dois bancos.
A Folha apurou, no entanto,
que procuradores e delegados que
fazem parte da investigação consideram que não há elementos
que dêem suporte a novos pedidos de diligência nesse sentido.
Venda de dólares
No dia 14 de janeiro de 99, a diretoria do Banco Central decidiu
vender dólares, no mercado futuro, ao Marka e ao FonteCindam
em condições privilegiadas.
Ao decidir por essa medida, o
BC optou por não liquidar as duas
instituições. As operações deram
prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.
Na época, o ministro Malan negou que soubesse da operação,
versão confirmada pelo então
presidente do BC, Francisco Lopes, e por diretores da instituição.
"Eu desafio a quem quer que seja a comparecer a uma acareação
na qual tenha a coragem e a desfaçatez de dizer na minha frente que
participou de uma reunião comigo na qual tenham sido discutidas, negociadas e aprovadas as
operações dos bancos Marka e
FonteCindam", disse o ministro à
época, por meio de nota oficial.
Reuniões simultâneas
Na investigação da PF, funcionários do BC declararam que Malan esteve na sala onde foram
acertados os detalhes finais da
operação de socorro aos bancos.
Nenhum deles afirmou, entretanto, que Malan sabia das medidas do BC para permitir que o
Marka e o FonteCindam tivessem
condições privilegiadas na compra de dólares.
O cruzamento de cinco depoimentos dados à PF demonstra
que, na manhã do dia 15 de janeiro de 99, foram realizadas simultaneamente duas reuniões no gabinete da diretoria de Política Monetária, então acumulada por Lopes, no 20º andar do prédio do BC
em Brasília.
Numa das reuniões, discutia-se
a versão final do voto que justificou a ajuda aos dois bancos.
Em outra, numa sala contígua,
no mesmo gabinete, o tema em
debate era a possibilidade de deixar o câmbio flutuar, decisão tomada naquele dia. Malan teve
contato com integrantes das duas
reuniões.
A procuradora do Banco Central Fátima Regina Maximo Martins disse à PF que chegou antes
das 10h à sala, onde "tomou conhecimento de que o BC estava
realizando operações para socorrer o referido banco Marka".
No depoimento, a funcionária
do BC afirmou que "com certeza
avistou a pessoa do ministro Pedro Malan, o qual estava observando telas de alguns terminais
de microcomputadores instalados no recinto".
As afirmações da funcionária
do Banco Central sobre a presença de Malan no gabinete de Francisco Lopes fizeram a PF suspeitar
de que o ministro tivesse tomado
conhecimento da operação de socorro ao Marka e ao FonteCindam antes que ela fosse efetivada.
A DCOIE (Divisão de Combate
ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais da PF) buscou comprovar sua tese de várias formas.
Uma delas foi investigar qual a senha utilizada por Malan para consultar os terminais de computador no gabinete de Lopes.
A apuração, no entanto, não
chegou a nenhum elemento concreto contra o ministro.
Ontem a PF divulgou nota oficial sobre o inquérito, na qual o
nome de Malan não é citado. "O
caso agora ficará sob a responsabilidade do Ministério Público Federal e da Justiça, para fins de
prosseguimento da ação penal",
diz a nota.
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