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REFORMA TRIBUTÁRIA
Para não arcar com ônus de ter inviabilizado o projeto, o ministro Pedro Malan culpa o Congresso
Intransigência barra votação de proposta
ANDRÉ SOLIANI E
DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A intransigência do governo
impediu o acordo para votação da
reforma tributária neste ano. Para
não arcar com o ônus de inviabilizar o projeto, o ministro Pedro
Malan (Fazenda) responsabilizou
o Congresso.
O presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), um dos principais defensores da proposta de
reforma tributária, afirmou ter
desistido de lutar para tentar colocá-la em votação neste ano.
"Não houve acordo e perdi o
otimismo. Quando o governo não
quer, a luta solitária fica difícil. Tenho os pés no chão e não quero ficar como o Dom Quixote."
A afirmação de Temer foi feita
depois de sua última tentativa de
costurar com o governo federal
um acordo para votar o projeto da
reforma.
O encontro entre os líderes do
governo no Congresso e a equipe
econômica, que aconteceu anteontem em jantar na casa do próprio Temer, foi classificada como
o "enterro elegante" da reforma
tributária pelos parlamentares
aliados ao presidente Fernando
Henrique Cardoso.
"A reforma morreu. Só está faltando a missa de sétimo dia. É um
espírito morto andando entre
nós", ironizou o deputado Delfim
Netto (PPB-SP).
Para ele, Malan foi o "ácido sulfúrico" que corroeu a reforma tributária.
Ontem, para não ficar com a
culpa do fracasso e para tentar
evitar uma reação negativa dos
empresários, que solicitam uma
reforma tributária com urgência,
os principais ministros da área
econômica convocaram entrevista para dizer que o governo está
empenhado em aprová-la.
"Se a reforma tributária não
avançar, e nós estamos empenhados em fazê-la, será porque existem aqueles que insistem na constitucionalização dessa matéria",
disse Malan.
O ministro se referia ao ponto
central da reforma e da divergência com os parlamentares.
O governo não aceita incluir no
texto da Constituição o fim da cobrança em cascata das contribuições sociais, a chamada cumulatividade. Os parlamentares não
aceitam colocar a proposta em
votação sem isso.
Esse artifício é o mesmo que
tem feito o governo bater recorde
de arrecadação.
A encenação do governo aconteceu depois que já havia sido
cancelada uma reunião da equipe
econômica com parlamentares da
oposição e Temer para tentar
avançar na negociação, encerrada
na noite anterior.
"Cancelei a participação do ministro (Malan) porque não valia a
pena gerar expectativa inadequada. Não ia reunir para não acontecer nada", disse Temer.
O governo admite no máximo
incluir no texto da emenda constitucional a promessa de eliminar
gradualmente esse tipo de tributação -considerada perversa por
deixar os produtos brasileiros
mais caros.
O interesse de FHC é manter
nos próximos anos a arrecadação
verificada em 99, que foi de mais
de 30% do PIB (soma das riquezas
produzidas no país).
A longo prazo, a equipe econômica quer ter a liberdade de voltar
a editar impostos em cascata sem
a limitação da Constituição.
O governo argumenta também
que a inclusão do dispositivo na
Constituição poderá gerar ações
na Justiça de empresários pedindo para não pagar impostos considerados cumulativos.
"Não queremos engessar a administração tributária nem aumentar a insegurança jurídica,
que já não é pequena no país", argumentou Malan.
Para o líder do PT na Câmara,
Aloizio Mercadante (SP), o governo não tem interesse em fazer a
reforma porque nos últimos anos
aprovou as leis necessárias para
conseguir engordar o cofre do Tesouro.
"A reforma tributária do governo já está feita: conseguiu aumentar as alíquotas de diversos impostos. Agora, a reforma necessária para a sociedade não foi aprovada", afirmou o petista.
A intransigência do governo e a
tentativa de culpar o Congresso
pelo fracasso da discussão da proposta de reforma tributária irritaram os deputados.
O presidente da extinta comissão especial da reforma, deputado
Germano Rigotto (PMDB-RS), se
rebelou e afirmou que votará contra qualquer projeto do governo
que trate de assuntos tributários
de agora em diante.
O líder do PMDB na Câmara,
Geddel Vieira Lima (BA), afirmou
que o governo terá dificuldades
para aprovar outros projetos de
seu interesse.
"Falta de sinceridade no trato
das questões não é bom", disse o
líder.
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