São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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PIRATARIA

Presidente do PP, apontado por relatório de CPI como membro de grupo de contrabando de cigarros, diz que acusações são ilações

Em nota, deputado nega elo com quadrilha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), negou ontem, em nota à imprensa, "qualquer envolvimento" com uma quadrilha de contrabando de cigarros, como aponta relatório da CPI da Pirataria encaminhado à Corregedoria da Câmara.
Segundo o relatório, revelado pela Folha ontem, Corrêa teria o papel de dar proteção política à organização da qual também fariam parte familiares do deputado e o empresário Ari Natalino da Silva, que é investigado em dezenas de inquéritos e processos, acusado de sonegação fiscal e adulteração de combustíveis.
O documento, de 108 páginas, foi produzido pela área de inteligência da CPI a partir do trabalho da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. O assunto também é investigado pelo Ministério Público Federal de Brasília.
"Toda e qualquer alusão e referência a meu nome dizem respeito a situações que decorrem de meras e infundadas ilações ou a fatos que não dizem respeito ao contexto investigatório", afirmou Corrêa. Ainda na nota, ele reitera a "irrestrita confiança na seriedade dos trabalhos da referida Comissão Parlamentar de Inquérito", da qual estaria à disposição.
Ao finalizar o texto, o deputado afirma que só voltará a se manifestar sobre o assunto, "se necessário, após a conclusão dos respectivos trabalhos [da CPI]".

Trabalho "impossível"
O corregedor da Câmara, Luiz Piauhylino (PTB-PE), afirmou, em ofício ao presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), que é "impossível" continuar o processo aberto para investigar as relações entre Corrêa e Ari Natalino.
De acordo com Piauhylino, a apuração parou porque a Justiça Federal negou-lhe acesso a um conjunto de gravações nas quais haveria indícios de que o presidente do PP seria intermediário dos interesses de Ari Natalino.
Segundo o relatório da CPI, os maiores indícios do envolvimento de Corrêa com a suposta quadrilha estão no conjunto de 12 interceptações telefônicas feitas pela polícia entre janeiro e fevereiro de 2003. A Folha teve acesso à íntegra das gravações. Alguns diálogos sugerem que Ari Natalino teria no deputado um defensor de seus interesses no âmbito da ANP (Agência Nacional do Petróleo).
As fitas foram encaminhadas pela 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília em dezembro de 2003 ao STF (Supremo Tribunal Federal), foro para investigar Corrêa.

Sem "panos quentes"
O presidente da Câmara afirmou ontem que, se a CPI da Pirataria apresentar provas que incriminem Corrêa, a Casa não vai colocar "panos quentes" sobre a história. "Tudo o que a CPI apontar com provas, vamos evidentemente dar andamento. Ninguém aqui, por ter mandato ou por não ter mandato, terá panos quentes, todo mundo será investigado e, se for culpado, será punido", disse.
João Paulo afirmou que é preciso tomar cuidado para não julgar sem comprovações, mas, questionado, concordou que o caso de Corrêa constrange os deputados.
Já o líder da bancada do PP na Câmara, Pedro Henry (MT), disse que vai esperar o relatório final da CPI, que deverá ser entregue hoje, para fazer comentários. "Não vou falar em cima do que não existe, até porque sou membro [suplente] da comissão e desconheço o relatório", afirmou. De acordo com o deputado, não haveria, a princípio, fato novo sobre o caso.
Há grandes chances de Corrêa ser excluído do documento final.


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