|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Cenário reanimado
O TSE mandou à lixeira todas as transações patrocinadas pelo governo para impedir o PMDB de lançar candidato
ENQUANTO O MOVIMENTO de
Libertação dos Trabalhadores Sem Terra libertava a sua
fúria e deixava presos os seus trabalhadores, o Tribunal Superior Eleitoral liberava mais uma prova de
que a proibição de inovações nas regras eleitorais, a menos de um ano
da votação, é só uma brincadeira da
lei. Sob o rótulo de "interpretação"
de partes da legislação eleitoral, o
TSE, desde que Nelson Jobim o presidiu na eleição de 2002, tem lançado inovações que modificam substancialmente o sistema eleitoral.
A mais recente, de anteontem,
traz como mérito aparente o de ser
divertida. A maioria do TSE "interpretou" que o partido sem candidato próprio à Presidência não pode
fazer coligação com nenhum outro
nos Estados. Com isso, mandou à lixeira todas as transações patrocinadas pelo governo Lula no PMDB e
todas as manobras e sujidades a que
os peemedebistas-governistas se
dedicaram nos últimos meses, para
impedir o partido de lançar candidato próprio. O que permitiria, a um só
tempo, apoiar Lula e fazer, nos Estados, coligações com diferentes partidos, segundo as peculiaridades locais. Em síntese: o balcão peemedebista e sua caixa registradora ficaram de repente sem função. Bem
entendido, sem função temporariamente, que para tudo há solução.
Como complemento, uma liminar de ontem invalidou o truque dos governistas que adiava, do próximo
domingo para o dia 29, a convenção
do PMDB. Até o fim do mês, muitas
e diferentes coligações estaduais estariam feitas, assegurando margem
firme contra inesperada, mas possível, reanimação de uma candidatura
própria. Houve divergência quanto
a uma brecha para recurso duplo
dos governistas, em ambas as derrotas. E está visto visto que, em se tratando de Justiça Eleitoral, toda previsão é beira de abismo. Mas, até que
os ministros do TSE interpretem
sua interpretação, ou decidam não a
interpretar, a modificação no sistema eleitoral modificou o próprio cenário das disputas atuais.
A intenção do senador Pedro Simon de candidatar-se pelo PMDB
ganhou oxigênio. É tudo o que Lula
não deseja, porque uma candidatura
peemedebista impossibilita a decisão já no primeiro turno, ao que as
pesquisas têm indicado. Além disso,
os governistas do PMDB podem até
concluir que, uma vez posta como
exigência para coligações estaduais,
a candidatura própria lhes dê mais
alternativas em suas bases. A menos
que esse PMDB governista prefira
adotar uma espécie de caixa dois de
coligações. Ou, na nomenclatura do
PT, coligações de campanha não declaradas.
Se candidato, Pedro Simon teria
condições de montar uma coligação
numerosa, com partidos médios e
pequenos, para os quais poderia representar a solução ainda não encontrada. Em sentido mais amplo,
do ponto de vista da grande parcela
do eleitorado abatido, também seria
muito proveitoso: no mínimo, para
quebrar a mediocridade eleitoral até
agora posta diante de nós.
Texto Anterior: Prejuízo por quebra-quebra é de R$ 150 mil Próximo Texto: 507 sem-terra são levados a presídio após depoimento Índice
|