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Líder sem terra é afastado da direção do PT
Um dia depois de invasão na Câmara, Bruno Maranhão perde cargo de secretário nacional de Movimentos Populares
Petistas temem que ato do MLST tenha efeito eleitoral e dão punição mais severa do que a dada a envolvidos
no escândalo do mensalão
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preocupado com os efeitos
eleitorais da invasão da Câmara, o PT começou ontem mesmo a punir seu dirigente Bruno
Maranhão, dando a ele tratamento mais duro do que foi reservado aos protagonistas do
escândalo do mensalão.
Maranhão, 66, que acumulava cargo na cúpula petista com
o de coordenador do MLST
(Movimento de Libertação dos
Sem Terra), foi sumariamente
afastado da Executiva e perdeu
o posto de secretário nacional
de Movimentos Populares.
Também será investigado
pela Comissão de Ética do PT, o
que nem o ex-ministro José
Dirceu (Casa Civil) nem os deputados que confessaram saque no "valerioduto" tiveram.
Segundo um membro da
coordenação de campanha petista, que pediu reserva de seu
nome, a invasão na Câmara
tem potencial de desgaste para
o partido maior até do que o escândalo do mensalão. O medo é
o ressurgimento de um velho
fantasma: a suposta relação do
PT com a "baderna".
Esse cálculo permeou as conversas do presidente do PT, Ricardo Berzoini, que resultaram
no afastamento de Maranhão.
O único petista envolvido no
mensalão a ser submetido a um
processo disciplinar pelo partido foi o ex-tesoureiro Delúbio
Soares, que acabou expulso.
Mesmo assim, ele só foi afastado um mês após o surgimento
das denúncias. Já o afastamento de Maranhão foi oficializado
em uma curta nota divulgada
pelo PT quase 24 horas após a
invasão da Câmara.
"Sem controle"
Ontem, alguns petistas mais
exaltados já pediam sua expulsão, caso do deputado Antônio
Carlos Biscaia (RJ). Mas uma
punição mais branda, como
suspensão, é mais provável.
Maranhão deverá ter alguns
atenuantes. Por uma questão
de isonomia, ficaria difícil expulsá-lo quando nenhum mensaleiro foi sequer investigado
pelo PT. A biografia de militante histórico da reforma agrária
e guerrilheiro contra o regime
militar também deve contar.
Se, como se espera, o dirigente pedir desculpas à Executiva
ou disser que perdeu o domínio
sobre os sem-terra, estará sacramentado o caminho para
que fique no partido.
"Eu tenho a impressão de
que ele [Maranhão] perdeu o
controle sobre os eventos, em
vez de ter dado a ordem", disse
Humberto Costa, candidato do
PT ao governo de Pernambuco.
Mesmo o tesoureiro petista,
Paulo Ferreira, que anteontem
havia sugerido a ida de Maranhão para o PSOL, moderou.
"Tem que haver punição, mas
após processo de investigação."
Desde a manhã, Berzoini
manteve contato telefônico
com os colegas da Executiva
para tentar uma posição de
consenso. Conseguiu. A nota,
redigida pelo secretário de Relações Internacionais, Valter
Pomar, foi aceita sem ressalvas.
"O envio do Maranhão para a
comissão de ética não teve polêmica", disse Joaquim Soriano, subsecretário-geral do PT.
"No caso do chamado mensalão, isso deveria ter ocorrido
com todos os envolvidos, mas
infelizmente a maioria interna
decidiu agir de outra forma."
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