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MICROFONE FECHADO
Candidato se diz contrário a cotas para negros em universidades e impede estudante de falar
Ciro discute com estudante em Brasília
LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidenciável Ciro Gomes
(PPS) perdeu a paciência ontem
durante debate na UnB (Universidade de Brasília), no momento
em que se discutia a política de
cotas para alunos negros em
universidades.
Ciro disse não estar convencido de que a política de cotas é a
solução para ampliar o acesso de
negros às universidades. "A universidade tem caráter meritocrático. Entra nela quem tem
mérito. Não me convenci [da
política de cotas], mas estou
aberto para discutir", afirmou o
presidenciável.
O estudante de artes cênicas
Rafael dos Santos, 27, tentou
questionar a posição de Ciro,
mas o presidenciável não permitiu que ele falasse ao microfone.
O público (cerca de 500 pessoas,
entre alunos, professores da
UnB e integrantes do PPS de
Brasília) pedia que o estudante
se manifestasse no microfone.
"Não dá o microfone para ele",
gritou Ciro.
"Ninguém falou no microfone.
Só porque ele é um negro lindo
vai falar no microfone? Isso é demagogia, isso é o que discrimina
o negro. Só porque é negro, fica
com peninha e dá o microfone?", completou o candidato do
PPS, afirmando que conversaria
com o estudante no final do debate.
O estudante saiu do auditório
e não falou com o candidato.
"Não tem que debater com Ciro
Gomes, ele é direita disfarçada",
afirmou Santos, que usava adesivo do PT. Nenhuma das pessoas
que fez perguntas por escrito teve direito de contestar as respostas do presidenciável -motivo
pelo qual Ciro não deu a palavra
a Santos.
Ciro foi o primeiro presidenciável a participar do fórum
"Brasil em Questão - A Universidade e a Eleição Presidencial".
Ao chegar ao auditório na UnB,
ele foi tanto vaiado como aplaudido por estudantes. Ciro foi
vaiado novamente ao defender
um acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), sem
detalhar suas bases, para evitar a
volta da inflação.
"Com atitudes de joão valentão, de "abaixo FMI" e "fora FHC",
teremos de volta a inflação", disse.
Durante o debate, o candidato
disse que está sendo comparado
ao ex-presidente Fernando Collor porque fere "interesses do
sistema financeiro".
Adversários do candidato, especialmente os tucanos, têm
apontado semelhanças entre Ciro e Collor.
"Eu era o garoto prodígio da
política, agora tentam me fazer
um novo Collor porque estou
claramente ferindo os interesses
do setor financeiro brasileiro,
que sempre ganhou tudo", disse
Ciro.
Ele defendeu a autonomia das
universidades, o fim do vestibular (que seria substituído por
uma avaliação durante o segundo grau) e o tratamento diferenciado para usuários de drogas,
mas se disse contra mudanças
na legislação para evitar "contemporização com o narcotráfico".
Ciro atribuiu ao "candidato
oficial" (numa referência ao tucano José Serra) informações de
que ele iria acabar com as contas
CC-5 (usadas para enviar dinheiro para o exterior). Disse
ainda que, se for eleito, não privatizará os bancos oficiais.
No final da tarde, depois de se
reunir com autoridades da França e do Chile, Ciro fez caminhada na área central de Brasília e
participou de comício com candidatos do PPS do Distrito Federal.
A reportagem da Folha pediu
à assessoria de Ciro que o candidato respondesse sobre as contradições do candidato em declarações recentes. A assessoria
recomendou que a Folha procurasse as respostas na página do
candidato na internet.
Colaborou LUCIO VAZ, da Sucursal de
Brasília
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