São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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MICROFONE FECHADO

Candidato se diz contrário a cotas para negros em universidades e impede estudante de falar

Ciro discute com estudante em Brasília

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidenciável Ciro Gomes (PPS) perdeu a paciência ontem durante debate na UnB (Universidade de Brasília), no momento em que se discutia a política de cotas para alunos negros em universidades.
Ciro disse não estar convencido de que a política de cotas é a solução para ampliar o acesso de negros às universidades. "A universidade tem caráter meritocrático. Entra nela quem tem mérito. Não me convenci [da política de cotas], mas estou aberto para discutir", afirmou o presidenciável.
O estudante de artes cênicas Rafael dos Santos, 27, tentou questionar a posição de Ciro, mas o presidenciável não permitiu que ele falasse ao microfone. O público (cerca de 500 pessoas, entre alunos, professores da UnB e integrantes do PPS de Brasília) pedia que o estudante se manifestasse no microfone. "Não dá o microfone para ele", gritou Ciro.
"Ninguém falou no microfone. Só porque ele é um negro lindo vai falar no microfone? Isso é demagogia, isso é o que discrimina o negro. Só porque é negro, fica com peninha e dá o microfone?", completou o candidato do PPS, afirmando que conversaria com o estudante no final do debate.
O estudante saiu do auditório e não falou com o candidato. "Não tem que debater com Ciro Gomes, ele é direita disfarçada", afirmou Santos, que usava adesivo do PT. Nenhuma das pessoas que fez perguntas por escrito teve direito de contestar as respostas do presidenciável -motivo pelo qual Ciro não deu a palavra a Santos.
Ciro foi o primeiro presidenciável a participar do fórum "Brasil em Questão - A Universidade e a Eleição Presidencial". Ao chegar ao auditório na UnB, ele foi tanto vaiado como aplaudido por estudantes. Ciro foi vaiado novamente ao defender um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), sem detalhar suas bases, para evitar a volta da inflação.
"Com atitudes de joão valentão, de "abaixo FMI" e "fora FHC", teremos de volta a inflação", disse.
Durante o debate, o candidato disse que está sendo comparado ao ex-presidente Fernando Collor porque fere "interesses do sistema financeiro".
Adversários do candidato, especialmente os tucanos, têm apontado semelhanças entre Ciro e Collor.
"Eu era o garoto prodígio da política, agora tentam me fazer um novo Collor porque estou claramente ferindo os interesses do setor financeiro brasileiro, que sempre ganhou tudo", disse Ciro.
Ele defendeu a autonomia das universidades, o fim do vestibular (que seria substituído por uma avaliação durante o segundo grau) e o tratamento diferenciado para usuários de drogas, mas se disse contra mudanças na legislação para evitar "contemporização com o narcotráfico".
Ciro atribuiu ao "candidato oficial" (numa referência ao tucano José Serra) informações de que ele iria acabar com as contas CC-5 (usadas para enviar dinheiro para o exterior). Disse ainda que, se for eleito, não privatizará os bancos oficiais.
No final da tarde, depois de se reunir com autoridades da França e do Chile, Ciro fez caminhada na área central de Brasília e participou de comício com candidatos do PPS do Distrito Federal.
A reportagem da Folha pediu à assessoria de Ciro que o candidato respondesse sobre as contradições do candidato em declarações recentes. A assessoria recomendou que a Folha procurasse as respostas na página do candidato na internet.


Colaborou LUCIO VAZ, da Sucursal de Brasília



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