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REFORMA SOB PRESSÃO
Concessões visaram preservar tributação de inativos
Governo cede ao Judiciário, e
Câmara aprova subteto maior
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo patrocinou na madrugada de ontem mais uma série
de concessões na reforma da Previdência para assegurar o apoio
necessário para sua aprovação.
Em uma votação que terminou
às 4h, a Câmara dos Deputados
cedeu à pressão para elevar o subteto salarial dos juízes como desejava o Judiciário, mexeu nas regras da idade mínima de aposentadoria e deixou acordado que, na
semana que vem, subirá a faixa
isenta de contribuição previdenciária para os inativos federais.
Todas as alterações foram negociadas com a oposição e com a base aliada e tiveram como objetivo
principal minimizar rebeliões entre os aliados e garantir que a tributação dos inativos não fosse
derrubada.
Com isso, a proposta entregue
pessoalmente à Câmara pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em 30 de abril já foi modificada
em seus principais pontos antes
de ter sido concluída sua votação
em 1º turno na Câmara. Ainda
restam algumas emendas para serem votadas, além do 2º turno e
de toda a tramitação no Senado.
A principal modificação da madrugada foi a modificação no subteto salarial do Judiciário nos Estados, que subiu de 85,5% para
90,25% (R$ 15.650) do salário de
um ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) -exatamente
como queriam os juízes e parte da
base aliada, liderada pelo PL.
O governo batia o pé na questão, mas acabou se rendendo aos
argumentos de que não conseguiria manter a proposta original.
No início, a reforma previa que
o subteto salarial nos Estados seria o mesmo para os três Poderes:
o salário do governador. Os juízes
chiaram e patrocinaram um
lobby que conseguiu alterar na
Comissão de Constituição e Justiça a proposta, estabelecendo três
subtetos diferenciados, um para
cada Poder.
Mesmo assim, não ficaram satisfeitos, já que o texto substituto
previa que o subteto dos magistrados nos Estados não poderia
ultrapassar 75% do salário do ministro do STF. Depois de muitas
negociações, o governo cedeu para 85,5% e, na madrugada de ontem, acabou aceitando os 90,25%
exigidos pela magistratura, que
ameaçou entrar em greve e barrar
a proposta com ações no STF.
As outras duas mudanças significativas acordadas ontem atendem à CUT, ao PT e aos outros
partidos de esquerda que compõem a base aliada. Por 481 votos
a 10, foi criada uma regra de transição que flexibiliza o impacto da
nova idade mínima de aposentadoria, que sobe sete anos com a
reforma: de 48 para 55 anos, no
caso das mulheres, e de 53 para 60
anos, no caso dos homens.
Pela proposta, para os servidores que reúnam até 31 de dezembro de 2005 as condições para se
aposentar pelas regras atuais (48/
53 anos) será diminuído de 5%
para 3,5% ao ano o redutor do benefício caso eles optem pela aposentadoria antes da nova idade
mínima. "A esquerda dizia ser
importante que, ao mexer no andar de cima [subteto dos juízes],
teríamos que compensar para os
de baixo", argumentou o deputado Professor Luizinho (PT-SP),
vice-líder do governo.
Outra concessão para "os de
baixo" já tem acordo para ser votada na semana que vem e vai ao
encontro de reivindicação de vários partidos da base. Pela proposta, haverá duas faixas distintas
de isenção para a tributação dos
inativos. O funcionalismo nos Estados e municípios terá desconto
dos 11% da contribuição previdenciária só na faixa que ultrapassar R$ 1.200. Já o funcionalismo
federal terá isenção até R$ 1.440.
Segundo os governistas, como
os salários nos Estados e municípios são mais baixos, um aumento da faixa isenta para eles acabaria inviabilizando a redução de
despesas prevista no caixa dos governadores.
(RANIER BRAGON)
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