São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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CRISE NA PF
Associação da Polícia Federal contesta última versão da medida provisória editada para sanear o órgão
Delegados federais tentam anular MP

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal tentará anular, na próxima semana, no Supremo Tribunal Federal a MP (medida provisória) editada pelo governo para sanear o órgão.
A entidade contesta a nova versão da MP, publicada no último dia 1º, por haver estendido a "suspensão preventiva" para os policiais que respondem a processos na Justiça por crimes contra a administração pública.
A MP faz parte da "operação-limpeza" iniciada em junho na PF pelo ministro Renan Calheiros (Justiça) devido às denúncias apresentadas pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, sobre 144 policiais suspeitos.
Brindeiro acusou o diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, de proteger policiais suspeitos após as ameaças de morte feitas a duas procuradoras da República. Uma delas investigava esses policiais com a ajuda do ex-delegado-corregedor Alcioni Santana, assassinado em 27 de maio.
Com a nova versão da MP, deverão ser afastados de suas atividades mais 40 policiais federais acusados de cometer crime de peculato (apropriação indevida de bem ou de dinheiro), corrupção, concussão (exigir vantagem indevida) e facilitação de contrabando.
Os crimes são previstos nos artigos 312, 313, 316, 317 e 318 do Código Penal. "É um crime apresentar esses episódios isolados na imprensa para denegrir instituições sérias e necessárias à democracia", disse o presidente da associação dos delegados, Bolivar Steinmtz, segundo a assessoria da entidade.
Calheiros não foi localizado ontem para comentar a decisão da entidade dos delegados da PF.
Com base na MP, já foram afastados 62 policiais. Desse total, 47 foram afastados pela MP. Outros 9 foram demitidos, 4 pediram licença e 2 foram destituídos de cargos de chefia -entre eles, Wilson Alfredo Perpétuo, amigo de Chelotti.
Na sua primeira versão, publicada em 30 de junho, a MP previa a suspensão obrigatória apenas para policiais acusados, em processos disciplinares, de cometer falta grave. Entre os novos afastados constará o nome de Perpétuo. Ele recorreu da condenação que recebeu na Justiça Federal por facilitação de contrabando, mas ficará afastado recebendo os salários até a conclusão do processo.
O ministro Calheiros pode ser processado por abuso de autoridade se insistir que a PF deve pedir à Justiça a prisão temporária dos agentes federais Hercílio Aquino e Dirceu Abreu Filho. No final de julho, eles feriram dois passageiros de uma Brasília ao confundi-los com assaltantes.



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