São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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GOVERNADORES

MARANHÃO

Prestes a completar 38 anos no poder, família usa horário na TV e grupo de comunicação para tentar reverter quadro

Derrota no 1º turno ameaça "clã Sarney"

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O grupo familiar e político liderado pelo senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) está para completar 38 anos no governo do Maranhão. A 28 dias das eleições, o clã encara a possibilidade de ter que passar a faixa para a oposição -que tem chances de vencer ainda no 1º turno-, situação que acirrou os ânimos da campanha no Estado.
A disputa está polarizada entre o ex-prefeito da capital São Luís Jackson Lago (PDT), 67, e o sarneyzista e atual governador, José Reinaldo Tavares (PFL), 63, que assumiu o posto em abril depois da desincompatibilização de Roseana Sarney -pefelista filha do ex-presidente.
De acordo com pesquisa do Ibope divulgada na quarta-feira, Lago tem 41% das intenções de voto contra 44% de todos os outros candidatos somados, sendo que Tavares conta com 32%.
A possibilidade de derrota ainda em um primeiro turno levou as várias esferas maranhenses atreladas aos Sarney -que é senador pelo Amapá porque o PMDB-MA não lhe deu legenda quando ele disputou a eleição- a iniciarem uma reação em cadeia, o que ficou evidente com o horário eleitoral.
Nele, o clã transgride a legislação eleitoral e usa boa parte do horário reservado à apresentação dos candidatos a deputado federal da coligação para atacar Lago, mostrando supostas irregularidades que o rival teria cometido.
O minúsculo PRP, aliado a Tavares, nem chegou a apresentar candidatos. No lugar, era veiculado um filme com acusações de que Lago teria malversado dinheiro da companhia de limpeza urbana. No final, o locutor dizia: "Vote nos candidatos do PRP".
As atitudes já causaram diversas punições por parte do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), inclusive a Lago, que também se utilizou do tempo dos deputados para se defender das acusações.
A Câmara de São Luís, presidida por Ivan Sarney, irmão do ex-presidente, finaliza preparativos para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as suspeitas de irregularidades na administração do pedetista. As acusações foram levantadas pelo vereador Pedro Celestino (PV), ex-líder de Lago da Casa, hoje aliado de Tavares.
O rol de acusações dos adversários contra o candidato da Frente Trabalhista, que inclui também dispensa de licitação, favorecimento de empresas e desvios de repasses, são noticiados com destaque no sistema de comunicação Mirante, da família Sarney, que inclui a maior TV (retransmissora da Rede Globo), rádio e jornal ("O Estado do Maranhão").
O ex-prefeito nega todas as acusações. "É sinal de desespero. Quando a gente denuncia, ataca, eles dizem que é baixaria. Agora, eles estão apelando, sem nenhum critério, acusam qualquer um de qualquer coisa", diz o deputado estadual tucano Aderson Lago (que não é parente do ex-prefeito), que se opõe a Sarney.
A ativação do rolo compressor na campanha sarneyzista tem um motivo sólido, além da hipotética liquidação da disputa no 1º turno: o pedetista tem a tendência de receber o apoio dos outros candidatos (que somam 12% das intenções) em um segundo turno.
"A gente tem que ganhar com os votos de quem vota, não de quem acha que dirige os votos", disse o coordenador de comunicação da campanha de Tavares, Sérgio Macedo. Segundo a assessoria do ex-presidente Sarney, ele não falaria sobre o caso, mas ratifica as informações de Macedo.


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