São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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LEGISLATIVO

Levantamento feito pela Folha mostra que há menos candidatos com diploma universitário

Mais longe da escola

ROBERTO DIAS
TIAGO AGUIAR
DA REDAÇÃO

O batalhão que vai disputar uma vaga no Legislativo federal exibe escolaridade bem mais baixa que os candidatos da última eleição, há quatro anos.
Menos da metade dos postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados ou ao Senado declarou ter diploma universitário.
Levantamento feito pela Folha a partir de dados fornecidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que a proporção de "universitários" entre os candidatos é de 49,6%, mais de dez pontos percentuais abaixo do nível da eleição de 1998, que era de 60%.
A redução do nível de escolaridade dos políticos vai na contramão do aumento da parcela da população brasileira que conta com um diploma do ensino superior. Embora não haja ainda números oficiais, é certo que a base com grau universitário tem aumentado mais que o crescimento da população nos últimos anos -as taxas de matrículas no ensino superior têm subido anualmente ao redor de 10%.
"Uma explicação "otimista" seria supor uma maior representação das camadas populares -por exemplo, vinculadas a movimentos sociais-, já que a grande maioria da população brasileira tem baixo grau de escolaridade", diz Mercedes Maria Loguercio Cánepa, professora de ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Na mesma linha, aponta o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE: "Na medida em que a política fica menos elitista, que o controle não está mais nas mãos de uma elite muito fechada, é normal que se popularize. Não tem a ver a escolaridade da população em geral, mas com a democratização da política".
A explicação encontra eco nas palavras do professor José Augusto Guilhon Albuquerque, da USP. "É óbvio que está havendo uma democratização maior da participação política, isto é, uma participação maior de pessoas de baixa renda do que antes. É um amadurecimento e desalienação das classes populares, uma vez que mais eleitores reconhecem que a política não está reservada aos mais ricos", afirma ele.
O diploma universitário, na opinião de Fabiano Santos, professor de ciência política do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), tem mais peso na atuação dos assessores do que na dos próprios políticos.
"O importante é ter uma estrutura de assessoria muito qualificada. Quem vai fazer o trabalho é a assessoria", afirma ele.
Por outro lado, a professora de ciência política da USP Maria Hermínia Tavares de Almeida pondera que a formação escolar pode ser útil também para o próprio político. "Não resta a menor dúvida que o aumento do número de parlamentares com formação de economista melhorou a capacidade de interlocução do Congresso com o Executivo em matéria de política econômica."
Os dados coletados pelo TSE apontam ainda que duplicou a proporção de candidatos que dizem saber apenas ler e escrever -um degrau abaixo da opção "fundamental incompleto".
"É provável que quem não tenha o primeiro grau tenda, em tese, a apresentar limitações no exercício da função parlamentar. Mesmo assim, há muitos casos em que a falta de educação formal pode ser contrabalançada com outra formação", diz a professora Maria Hermínia.
Já Guilhon Albuquerque diz que não vê correlação entre a escola e a política profissional. "Pesquisas com amostras nacionais feitas por mim na USP mostram que a participação política é um importante corretor da escolaridade. Entre as pessoas com alto grau de participação política a escolaridade não é um diferencial de interesse e informação sobre política", afirma ele.
Apesar do decréscimo, a escolaridade dos candidatos ainda é bastante superior à da população em geral. Segundo os dados preliminares do Censo 2000, do IBGE, 4,1% da população brasileira acima de 10 anos estudou pelo menos 15 anos, indicativo de que têm curso superior completo -o índice dos candidatos é de 49,6%.
E, de qualquer forma, os caminhos atuais de uma e outra taxa não significam que os perfis dos políticos e da população brasileira dirijam-se para um encontro definitivo no futuro.
"Sempre vai ter um viés. Os indicadores demográficos dos deputados são sempre muito diferentes dos da sociedade", diz Fabiano Santos, do Iuperj.
O levantamento dos dados declarados pelos candidatos que registraram candidatura para disputar as 54 vagas no Senado e as 513 na Câmara (uma lista de 5.170 nomes) mostra ainda que:
1) Aumentou a participação dos que têm no máximo o primeiro grau completo, de 8% para 11%.
2) Três partidos da esquerda (PC do B, PCB e PSTU) são os que têm, proporcionalmente, mais candidatos que ingressaram numa universidade; separados, porém, apenas aqueles que terminaram o curso, a lista traz no topo agremiações de centro e de direita (PSDB, PFL e PPB).
3) No extremo oposto, ou seja, entre os partidos que têm um perfil menos escolarizado, a liderança fica para PTN, PST e PRP, os primeiros da lista que considera os candidatos que têm no máximo o ensino fundamental.
4) A escolaridade dos candidatos ao Senado é bem mais alta que a dos postulantes à Câmara: no primeiro, 67% têm ensino superior completo; no segundo, 48%.
5) A maioria (62%) dos que querem um lugar no Congresso declarou ser casada.
A tabela fornecida pelo TSE traz também informações sobre as profissões dos candidatos.
Como em 1998, o maior grupo é o dos advogados. O grande destaque porém, é a ascensão do bloco que diz se encaixar mais corretamente na definição "empresário": era o nono do ranking na última eleição, agora é o terceiro.


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