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OPOSIÇÃO
Senador tucano diz que Lula é bem-intencionado, mas "não governa", e afirma que "nunca se fez tanta nomeação política"
Tasso vê governo "fisiológico e centralizador"
VALDO CRUZ
DIRETOR EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No momento em que o Senado
analisa a reforma da Previdência e
se prepara para receber a tributária, o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE), 54, um dos principais
líderes tucanos, se diz desapontado com o governo Lula. Em sua
opinião, trata-se de um governo
"centralizador" e o "mais fisiológico de todos".
As críticas partem de um tucano
que, num passado recente, foi
muito próximo de Luiz Inácio Lula da Silva. Chegou até a articular
uma aliança entre o PSDB e o PT
no ano de 1994 para as eleições
presidenciais, antes de lançar a
candidatura de FHC.
A reportagem da Folha apurou,
inclusive, que o ex-governador do
Ceará teria tido duas conversas
com o presidente, no Palácio da
Alvorada, o que ele nega. O certo é
que, no momento, Tasso não
poupa críticas ao petista. Quando
é questionado sobre o principal
defeito do presidente Lula, responde sem hesitar: "Não governar". Mas também faz elogios: "É
um homem bem-intencionado e
de grande sensibilidade"
Folha - Qual a expectativa do sr.
em relação à reforma tributária,
aprovada em 1º turno na Câmara e
que logo chegará ao Senado?
Tasso Jereissati - Ainda não digeri quais foram as modificações
nesses acordos da madrugada.
Mas a reforma como um todo é
muito ruim. É uma não-reforma,
um arranjo para atender a interesses de caixa momentâneo de
alguns entes da federação. Uma
reforma tributária que se preze
deveria começar discutindo a
questão do pacto federativo.
Folha - Ela aumenta a carga tributária?
Jereissati - Ah, com certeza.
Folha - O governo do PT quer fazer caixa?
Jereissati - Claro. É absolutamente centralizador. O mais centralizador de todos.
Folha - Os Estados perdem autonomia em relação à União?
Jereissati - Essa é a questão. Na
verdade, quando você não quer
ceder para os Estados e municípios, isso tem implicação política
profunda: significa a concentração na União, aumentar o poder
político da União, o que desestrutura inclusive os partidos.
Folha - Mas os governadores conseguiram algumas concessões.
Jereissati - Unidos. Mas tivemos
chicote pra lá, chicote pra cá. Tiveram de dar uma recuada. Mas
tiveram força no chicote ainda.
Folha - O sr. considera o governo
Lula fisiológico?
Jereissati - Extremamente. É o
mais [fisiológico] de todos. Nunca se fez tanta nomeação política.
Todos os derrotados do PT foram
nomeados. O critério número um
foi a nomeação de derrotados.
Depois, toda a política de alianças
foi feita em função de nomeação.
Folha - O governo tucano também fazia nomeações políticas.
Jereissati - Este é mais, surpreendentemente mais, porque
foi o partido que fez a sua história
contra isso. O surpreendente não
é que ele seja igual, é que seja mais
e use isso com uma desenvoltura
muito maior.
Folha - O PT está aparelhando o
Estado?
Jereissati - Tem as duas coisas: o
aparelhamento e a questão dos
cargos. A conjunção dos dois é
um desastre.
Folha - Dê exemplos.
Jereissati - A Funasa. Vocês sabem que um dos problemas do
país é a dengue. No governo FHC,
o ministro José Serra baixou uma
norma segundo a qual o representante [nos municípios] tinha
de ser técnico. É político hoje. A
não ser a área do Palocci, não é
nem área econômica, o resto é político. Difícil é dizer o que não é. O
BNDES é político, hoje tem um
aparelhamento lá dentro que, por
tudo que a gente ouve, é uma situação de muita confusão.
Folha - Quem é o responsável por
essa situação?
Jereissati - Não sei identificar. É
difícil personalizar, mas acho que
é uma atitude de governo...
Folha - Dirceu, por exemplo?
Jereissati - Tenho uma boa relação com o José Dirceu. É um homem competente, sério. Às vezes
acho que ele é muito atropelador,
joga duro. Por outro lado, não sei
o que seria do governo se não fosse ele. Me parece que ele faz as coisas acontecerem no governo.
Folha - Qual avaliação o sr. faz do
governo Lula?
Jereissati - O governo está parado. A não ser o Palocci, não aconteceu nada. Nós já estamos em setembro, fim de ano, é o primeiro
ano do governo, não aconteceu
nada. O que aconteceu?
Folha - As reformas foram aprovadas na Câmara.
Jereissati - Até agora não passou. Eu vi a entrevista do Lula dizendo que conseguiu aprovar as
reformas em tantos meses. Pegou
muito mal aqui ao Senado. A reforma da Previdência não tinha
chegado no Senado ainda. Criou
um clima: o pessoal vai ter de botar uma emenda agora, a proposta terá de voltar para a Câmara.
Folha - O acordo do governo com
o PMDB, que tem ampla maioria no
Senado, não vai facilitar a vida do
governo?
Jereissati - No Senado, a representação da federação tem um
sentido muito mais forte do que
na Câmara. Você representa o Estado. Se você enfraquecer o seu
Estado, de uma maneira ou de outra, você está enfraquecendo o Senado.
Folha - O sr. parece um pouco desapontado com o governo Lula.
Jereissati - Eu estou.
Folha - Qual a análise o sr. faz do
presidente?
Jereissati - Eu acho e continuo
achando o Lula um homem muito bem-intencionado, conheço
bem o Lula, não tenho a menor
dúvida sobre as intenções dele,
tem uma sensibilidade muito
grande , mas...
Folha - Essas são as qualidades.
Quais os defeitos?
Jereissati - Não governar.
Folha - O que o sr. acha de José
Serra vir a presidir o PSDB?
Jereissati - Eu acho que o Serra é
uma das lideranças do partido, foi
candidato à Presidência da República e tem todas as condições de
ser o presidente do partido.
Folha - É o candidato do sr.?
Jereissati - Eu não diria que ele é
o meu candidato porque eu acho
que a questão a gente tem de discutir mais. A gente não pode fechar o caminho assim de maneira
tão simples. Mas o Serra é hoje o
mais provável presidente do partido, tendo o meu apoio.
Folha - O que levou o PSDB a perder as eleições? Foi a divisão interna do partido?
Jereissati - Não. Qualquer candidato que fosse perderia a eleição. O poder é como um avião,
tem fadiga em determinado momento e é preciso haver uma renovação. Do ponto de vista histórico, foi fantástico para o país. Você ter um operário, de esquerda,
sindicalista, presidente da República. Para nós, foi bom porque
estava ficando muito desigual a
campanha. Eu ia para rua sempre
como o mau e eles como bons, era
a luta do bem contra o mal. O sujeito era mau porque não dava aumento de salário. Essa discussão
acabou, vamos ter uma discussão
política muito mais madura nas
campanhas de agora em diante.
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