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GOVERNO
Com FHC como o árbitro, idéia é evitar divergências públicas
Tápias e Malan firmam
"pacto de não-agressão"
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
RUI NOGUEIRA
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local
O novo ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, 56, fez um
pacto com presidente Fernando
Henrique Cardoso e a equipe econômica para assumir o cargo: o de
que FHC funcione como árbitro
de eventuais disputas e que elas
nunca se tornem públicas.
Conforme a Folha apurou, o
pacto foi selado entre FHC, Tápias e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, na reunião do Palácio
da Alvorada que precedeu o
anúncio do nome de Tápias.
Os ministros Pedro Parente
(Casa Civil) e Martus Tavares
(Orçamento e Gestão) foram informados do acerto depois.
Também ficou combinado que
as decisões, depois de tomadas,
deveriam ser seguidas à risca por
todo o ministério.
Tápias recebeu a primeira sondagem no último domingo à noite, por meio de um telefonema do
ministro José Serra (Saúde). Na
segunda-feira cedo foi procurado,
primeiro pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e logo
em seguida por Malan.
Tudo acertado, pouco antes de
meio-dia ele falou diretamente
com FHC e acertou sua vinda a
Brasília às 17h.
Na reunião com FHC e Malan,
porém, insistiu em saber da autonomia que teria no Desenvolvimento e dos limites da convivência da sua pasta com as demais da
equipe econômica.
Malan criticou os conflitos tornados públicos e enfatizou muito
a necessidade de o governo ter um
pensamento afinado, evidentemente, em torno da idéia de que o
desenvolvimento só é possível
com a estabilidade.
O novo ministro do Desenvolvimento abriu o jogo de forma diplomática: disse que entrava no
governo para trabalhar e expor
suas idéias, não necessariamente
iguais às dos demais membros da
equipe econômica.
Tápias, que deve tomar posse na
próxima terça-feira, deixou claro
que assumia justamente para provocar debates, discussões, questionar rumos.
Ante o espanto dos presentes,
Tápias acrescentou que considerava as divergências positivas e
que o problema era quando se
tornavam públicas, prejudicando
a imagem do governo. E emendou o pedido para que FHC fosse
o árbitro dessas eventuais divergências.
O pedido de Tápias e o reforço
para que a decisão de FHC venha
a ser cumprida têm um antecedente recente, envolvendo exatamente FHC, Malan e Clóvis Carvalho, a quem Tápias substitui.
Numa reunião, o Desenvolvimento pediu à Fazenda mais R$
80 milhões para o Proex (programa de incentivo às exportações).
FHC concordou e mandou acertar a liberação do dinheiro com a
Fazenda. A ordem presidencial
não foi cumprida até hoje.
Na reunião de anteontem, FHC
pediu também a todos os presentes que, a partir de agora, a equipe
toda esqueça a disputa entre "desenvolvimentistas" (os que querem o crescimento econômico e o
aumento de empregos) e "monetaristas" (os que continuam mais
preocupados com a estabilidade e
o ajuste fiscal).
FHC vai passar essa preocupação na reunião ministerial de hoje, às 15h, no Palácio do Planalto.
O assunto principal é acertar as
regras para cumprimento das
metas estabelecidas no PPA (Plano Plurianual/2000-2003) e apresentar os gerentes dos principais
programas.
Na avaliação de FHC e de seus
ministros, o lançamento do PPA
marcou uma nova fase no governo, que passou a trabalhar numa
direção definida, com metas
preestabelecidas e a partir de hoje
com gestores que têm missões
muito claras.
Tudo isso, lamentou o presidente na reunião com Tápias e a
equipe econômica, acabou ficando em segundo plano na semana
passada em função da crise aberta
com o discurso em que Clóvis
Carvalho insinuava que a política
""monetarista" seria covarde -e
que ocasionou sua queda.
A intenção é usar a reunião ministerial de hoje para retomar a
"agenda positiva" e as discussões
sobre o PPA e tentar mostrar qual
é de fato a importância do plano
para o governo.
Tápias, que ainda está se desvencilhando de compromissos
em São Paulo -até o convite,
ocupava a presidência da Camargo Corrêa-, não deverá estar
presente. O representante do Ministério do Desenvolvimento será
o secretário-executivo, Milton Seligman, que ocupa a função de
ministro interinamente.
Conforme a Folha apurou, Pedro Parente fez um relato para Tápias sobre as dificuldades que o
governo enfrenta para recrutar
bons quadros da iniciativa privada. Por isso, defendeu, o novo ministro deveria tentar manter as
pessoas consideradas essenciais
na equipe de Clóvis Carvalho.
Além do próprio Milton Seligman, Parente citou pelo menos
dois outros colaboradores de Clóvis: Hélio Mattar, secretário de
Política Industrial, e Lytha Spíndola, secretária de Comércio Exterior.
Segundo o relato de Parente para Tápias, há duas dificuldades
básicas para a contratação de quadros de elite: os baixos salários do
serviço público e o "risco elevadíssimo".
Isso significa, segundo ele, que
os funcionários públicos estão
sempre sujeitos a críticas, suspeitas e denúncias que, mesmo não
comprovadas, podem prejudicar
seus currículos para sempre. Tápias se disse impressionado com a
descrição feita pelo futuro colega
de ministério.
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