São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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COMENTÁRIO
"Mitos" sobre escolha não resistem a análise

FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local

A escolha de Alcides Tápias para o Ministério do Desenvolvimento ressuscitou velhos mitos que não resistiriam a uma análise mais rigorosa.
O primeiro é o de que um executivo com experiência apenas na iniciativa privada, neófito na máquina estatal, seria um peixe fora d'água no mundo das pressões políticas.
Seria ingênuo esquecer que os bancos e as empreiteiras -áreas onde Tápias atuou- são os maiores contribuintes das campanhas eleitorais.
O financiamento eleitoral, como se sabe, é uma seara que requer apurado faro político, avaliações precisas de custo-benefício e de reciprocidades.
O segundo mito supõe que o cargo de promover o desenvolvimento se ajustaria melhor a um empresário ligado à produção, um industrial, e não a um ex-banqueiro.
Não custa lembrar que o ministério que Tápias vai comandar foi idealizado para acolher Luiz Carlos Mendonça de Barros, cuja biografia também está ligada ao sistema financeiro.
O terceiro mito funciona no sentido inverso: é aquele, estimulado pela valorização do mercado financeiro, que atribui aos executivos dessa área dons que faltariam aos de outras atividades, como saber a melhor forma e o melhor momento de aplicar recursos e ter uma certa capacidade de ousar.
O histórico das relações entre bancos e indústrias, envolvendo esses dois técnicos, sugere que nem sempre essas qualidades prevaleceram.
Mendonça de Barros, por exemplo, era diretor do Planibanc, um banco envolvido no escândalo Nahas, episódio que quebrou as Bolsas brasileiras.
O caso, por ironia, trouxe fortes prejuízos aos sócios capitalistas daquele banco, os industriais José Ermírio de Moraes Filho, Cláudio Bardella e Hugo Miguel Etchenique (além de Abílio dos Santos Diniz, empresário do comércio).
Tápias também não escaparia do rigor de uma análise semelhante. Ele era alto executivo do Bradesco e participou do frustrado lançamento de ações da Cobrasma, em 1986.
Trata-se do maior "mico" da história do mercado brasileiro de ações, uma controvertida operação baseada em projeções artificiais de lucro da empresa do então presidente da Fiesp, Luis Eulalio de Bueno Vidigal Filho.
Os dois episódios, contudo, não impediram que Mendonça de Barros e Tápias tivessem, cada um a seu modo, uma ascendente trajetória na iniciativa privada.


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