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COMENTÁRIO
"Mitos" sobre escolha não resistem a análise
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
A escolha de Alcides Tápias
para o Ministério do Desenvolvimento ressuscitou velhos mitos que não resistiriam a uma
análise mais rigorosa.
O primeiro é o de que um executivo com experiência apenas
na iniciativa privada, neófito na
máquina estatal, seria um peixe
fora d'água no mundo das pressões políticas.
Seria ingênuo esquecer que os
bancos e as empreiteiras -áreas
onde Tápias atuou- são os
maiores contribuintes das campanhas eleitorais.
O financiamento eleitoral, como se sabe, é uma seara que requer apurado faro político, avaliações precisas de custo-benefício e de reciprocidades.
O segundo mito supõe que o
cargo de promover o desenvolvimento se ajustaria melhor a
um empresário ligado à produção, um industrial, e não a um
ex-banqueiro.
Não custa lembrar que o ministério que Tápias vai comandar foi idealizado para acolher
Luiz Carlos Mendonça de Barros, cuja biografia também está
ligada ao sistema financeiro.
O terceiro mito funciona no
sentido inverso: é aquele, estimulado pela valorização do
mercado financeiro, que atribui
aos executivos dessa área dons
que faltariam aos de outras atividades, como saber a melhor forma e o melhor momento de aplicar recursos e ter uma certa capacidade de ousar.
O histórico das relações entre
bancos e indústrias, envolvendo
esses dois técnicos, sugere que
nem sempre essas qualidades
prevaleceram.
Mendonça de Barros, por
exemplo, era diretor do Planibanc, um banco envolvido no
escândalo Nahas, episódio que
quebrou as Bolsas brasileiras.
O caso, por ironia, trouxe fortes prejuízos aos sócios capitalistas daquele banco, os industriais
José Ermírio de Moraes Filho,
Cláudio Bardella e Hugo Miguel
Etchenique (além de Abílio dos
Santos Diniz, empresário do comércio).
Tápias também não escaparia
do rigor de uma análise semelhante. Ele era alto executivo do
Bradesco e participou do frustrado lançamento de ações da
Cobrasma, em 1986.
Trata-se do maior "mico" da
história do mercado brasileiro
de ações, uma controvertida
operação baseada em projeções
artificiais de lucro da empresa
do então presidente da Fiesp,
Luis Eulalio de Bueno Vidigal Filho.
Os dois episódios, contudo,
não impediram que Mendonça
de Barros e Tápias tivessem, cada um a seu modo, uma ascendente trajetória na iniciativa privada.
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