São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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REAÇÃO
Presidente aproveita comemoração para pedir "mais animação"
FHC cobra preocupação da igreja com "convivência"

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem as comemorações do 7 de Setembro para fazer uma crítica indireta à igreja. No dia em que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) promoveu o "Grito dos Excluídos" em todo o país, o presidente cobrou preocupação das religiões com a "convivência entre as pessoas".
A manifestação da CNBB engrossou os protestos contra o governo e teve como um dos objetivos pressionar por mudanças na política econômica.
"Nós precisamos que as religiões se preocupem com a convivência das pessoas. É fundamental que as pessoas entendam que é preciso uma base de coesão moral, base de relação humana, sem o quê, por mais que o país cresça, que haja progresso, por mais que nós possamos até enriquecer, nós não vamos resolver as questões que aqui estão sendo pedidas, que são questões fundamentais do ser humano", disse FHC.
O discurso foi feito em cerimônia nos jardins do Palácio da Alvorada para entrega dos prêmios dos 20 estudantes e 20 professores da rede pública que participaram do concurso "Ética e Cidadania". Cerca de 2.600 escolas participaram do concurso, com frases a respeito do tema.
Antes da cerimônia, FHC foi vaiado pelo público que assistiu ao desfile militar de 7 de Setembro. A manifestação de apoio ao presidente, organizada pelo governador Joaquim Roriz (PMDB-DF), não impediu os protestos. FHC foi vaiado ao chegar (9h05) ao desfile e ao sair (10h45).
Roriz convocou servidores do governo local para engrossar uma manifestação de apoio a FHC, mas acabou sendo o único aplaudido. Quando o presidente chegou ao palanque oficial, as pessoas gritavam: "Roriz, cadê você, eu vim aqui só para ter ver".

Discurso de oposição
FHC fez um discurso com palavreado típico da oposição. "O Brasil cansou de ser uma sociedade onde exista muita pobreza e onde exista falta de compromisso das pessoas com a melhoria da vida. Cansou de ver descaso, corrupção, falta de atenção e falta de dignidade, no fundo. Ética na cidadania quer dizer dignidade para cada um dos brasileiros e brasileiras", afirmou.
O presidente convocou o povo a contribuir para que o país avance. "Os de cima têm de fazer, mas, se cada um de nós não fizer, não vai dar certo. Se não sentirmos dentro de nós a vontade de mudar, de fazer com que as coisas caminhem, não vai dar certo."
Para FHC, o avanço depende de "um clima de fraternidade" no país. Ele pediu união entre os brasileiros em torno de propostas para melhorar o país.
Sem se referir diretamente ao "Grito dos Excluídos", o presidente disse que o "grito geral no nosso país" é por direitos humanos -segundo ele, o novo nome da ética e da democracia.
O presidente terminou o discurso com um pedido inusitado. "A gente precisa de mais animação."


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