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ELIO GASPARI
O ministério da caveira de burro
A nomeação do empresário
Alcides Tápias para o Ministério do Desenvolvimento acabará na soma do nada com coisa
nenhuma. O melhor que o governo teria a fazer seria acabar
com esse ministério. Não devia
tê-lo criado. Não ganhou nada
criando-o e nada ganhará
mantendo-o aberto. É um despropósito propagandístico que
virou caveira de burro.
Esse ministério não deveria
ter sido criado porque falsifica
a essência do pensamento econômico do governo de FFH.
Por mais que diga o contrário,
sua administração nega ao Estado o papel de indutor do desenvolvimento. Essa é uma
crença profunda de seu mandarinato e, sempre que foi testada, prevaleceu. Quem votou
nele supondo o contrário, enganou-se. Para dizer a verdade, foi enganado e voltará a ser
enganado sempre que acreditar em slogans como o "Avança Brasil" ou em sopa de letras,
como o PPA.
Desenvolvimento é uma coisa que FFH não trará. Isso não
significa que seu governo será,
necessariamente, um fracasso.
Significa apenas que, se tudo
der certo, criará as bases para
aquilo que o ministro Pedro
Malan chama de "desenvolvimento sustentado". Se der errado, resultará naquilo que o
professor Pedro Malan chamava de "recessão inútil".
Por ser uma contrafação publicitária, o Ministério do Desenvolvimento tornou-se um
cemitério. Foi concebido à
imagem e semelhança de Luiz
Carlos Mendonça de Barros.
FFH chegou a convidá-lo para
a função, antes que os grampos
do BNDES o eletrocutassem. O
presidente contava com a personalidade forte e o voluntarismo de Mendonça. Perdido o
amigo, nomeou o embaixador
Celso Lafer, pessoa reservada e
sensível. Ao passar de Mendonça a Lafer, FFH agiu como
quem se programou para ir ver
o desfile das escolas de samba,
mudou de idéia e foi a um concerto de violoncelo, achando
que não há diferença entre
uma coisa e outra, pois tudo é
música. A falta de ouvido de
FFH custou dissabores a Lafer
e levou-o a uma amarga demissão, ofendendo-lhe as boas
maneiras que tanto preza.
Como a escola de samba de
Mendonça dissolveu-se na
concentração e o violoncelo de
Lafer tocou muito baixo, o
bumbo de Clóvis Carvalho pareceu uma boa escolha. Deu errado, como dará errado qualquer outra mágica. O problema não está na pessoas, mas
na função inexistente, destinada a produzir engodos.
No esplendor de sua campanha pela reeleição, FFH dizia
que se considerava uma mistura de Campos Salles com Juscelino Kubitschek. Ele sabe que
essa mistura não existe. Campos Salles saneou as finanças
nacionais no início do século.
Produziu ruína e saiu vaiado
do Catete. Juscelino iniciou um
processo de desenvolvimento e
de ruína financeira. Saiu do
Planalto depois de entregar o
cargo a Jânio Quadros, um
maluco desonesto que tivera
como símbolo de campanha a
vassoura.
Quando o presidente diz que
gostaria de ser uma mistura do
impossível, pode-se acreditar
que uma das duas fontes de
inspiração é falsa. Essa conclusão, por fácil, é precária. O que
não existe, e FFH sabe disso, é a
viabilidade da mistura.
Raciocinando pela ousadia,
ou até mesmo pelo absurdo, o
presidente só tem um nome
consistente para ocupar o Ministério do Desenvolvimento. É
o do professor Pedro Malan.
Pode não dar em nada, mas
pelo menos teria a sinceridade
do silêncio.
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