São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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ELIO GASPARI
O ministério da caveira de burro

A nomeação do empresário Alcides Tápias para o Ministério do Desenvolvimento acabará na soma do nada com coisa nenhuma. O melhor que o governo teria a fazer seria acabar com esse ministério. Não devia tê-lo criado. Não ganhou nada criando-o e nada ganhará mantendo-o aberto. É um despropósito propagandístico que virou caveira de burro.
Esse ministério não deveria ter sido criado porque falsifica a essência do pensamento econômico do governo de FFH. Por mais que diga o contrário, sua administração nega ao Estado o papel de indutor do desenvolvimento. Essa é uma crença profunda de seu mandarinato e, sempre que foi testada, prevaleceu. Quem votou nele supondo o contrário, enganou-se. Para dizer a verdade, foi enganado e voltará a ser enganado sempre que acreditar em slogans como o "Avança Brasil" ou em sopa de letras, como o PPA.
Desenvolvimento é uma coisa que FFH não trará. Isso não significa que seu governo será, necessariamente, um fracasso. Significa apenas que, se tudo der certo, criará as bases para aquilo que o ministro Pedro Malan chama de "desenvolvimento sustentado". Se der errado, resultará naquilo que o professor Pedro Malan chamava de "recessão inútil".
Por ser uma contrafação publicitária, o Ministério do Desenvolvimento tornou-se um cemitério. Foi concebido à imagem e semelhança de Luiz Carlos Mendonça de Barros. FFH chegou a convidá-lo para a função, antes que os grampos do BNDES o eletrocutassem. O presidente contava com a personalidade forte e o voluntarismo de Mendonça. Perdido o amigo, nomeou o embaixador Celso Lafer, pessoa reservada e sensível. Ao passar de Mendonça a Lafer, FFH agiu como quem se programou para ir ver o desfile das escolas de samba, mudou de idéia e foi a um concerto de violoncelo, achando que não há diferença entre uma coisa e outra, pois tudo é música. A falta de ouvido de FFH custou dissabores a Lafer e levou-o a uma amarga demissão, ofendendo-lhe as boas maneiras que tanto preza.
Como a escola de samba de Mendonça dissolveu-se na concentração e o violoncelo de Lafer tocou muito baixo, o bumbo de Clóvis Carvalho pareceu uma boa escolha. Deu errado, como dará errado qualquer outra mágica. O problema não está na pessoas, mas na função inexistente, destinada a produzir engodos.
No esplendor de sua campanha pela reeleição, FFH dizia que se considerava uma mistura de Campos Salles com Juscelino Kubitschek. Ele sabe que essa mistura não existe. Campos Salles saneou as finanças nacionais no início do século. Produziu ruína e saiu vaiado do Catete. Juscelino iniciou um processo de desenvolvimento e de ruína financeira. Saiu do Planalto depois de entregar o cargo a Jânio Quadros, um maluco desonesto que tivera como símbolo de campanha a vassoura.
Quando o presidente diz que gostaria de ser uma mistura do impossível, pode-se acreditar que uma das duas fontes de inspiração é falsa. Essa conclusão, por fácil, é precária. O que não existe, e FFH sabe disso, é a viabilidade da mistura.
Raciocinando pela ousadia, ou até mesmo pelo absurdo, o presidente só tem um nome consistente para ocupar o Ministério do Desenvolvimento. É o do professor Pedro Malan. Pode não dar em nada, mas pelo menos teria a sinceridade do silêncio.


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