São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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ONG vira "laboratório" de petista

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto Florestan Fernandes ocupa um casarão de esquina num dos pontos mais elegantes e arborizados do bairro do Sumaré. Foi entre suas paredes -e não em discussões internas do PT- que se elaboraram as políticas que Marta Suplicy procurará implementar, caso vença Paulo Maluf no segundo turno paulistano.
O instituto é uma ONG (organização não-governamental) da qual Marta é presidente. Foi criado no ano passado por um grupo de petistas ligados a ela e de origem sobretudo acadêmica.
Com uma estrutura bastante leve -nove secretárias, seis coordenadores de áreas de estudos, três cargos executivos e um orçamento mensal de R$ 35 mil- ele não tem em seu conselho representantes de sem-terra ou sem-teto, sindicatos operários ou associações de moradores.
É o PT de colarinho branco, bem pouco parecido com aquele que Luiza Erundina levou em 1989 à Prefeitura de São Paulo.
Denominado em homenagem ao sociólogo e deputado federal petista Florestan Fernandes (1920-1995), o instituto não é um organismo que a rigor substituiria o partido. Mas, como fórum interno de discussões, ele preencheu o espaço aberto pela hibernação de boa parte dos diretórios zonais, aqueles que, dentro do PT, deveriam estatutariamente monopolizar a discussão entre os simples militantes.
Assim, não foi o instituto de Marta que atropelou o partido. Foi o partido que, menos operante em seus escalões inferiores, permitiu que se formasse um poder paralelo com menos rostos da periferia e mais rostos dos jardins.
Não há antagonismos para quem vê de longe. Felix Ruíz Sánchez, secretário-geral do instituto, integra o Diretório Municipal do PT e foi, na campanha, coordenador das propostas de Marta.
Ele se origina da DS (Democracia Socialista), corrente de esquerda que tem como expoentes nacionais Raul Pont, prefeito de Porto Alegre, e Heloísa Helena, senadora por Alagoas.
Uma das três correntes trotskistas que integrava o PT quando de sua fundação, a DS chegou a esboçar, no ano passado, o lançamento de uma candidatura que disputaria com Marta as prévias internas. Mas recuou sob o argumento de que a candidata estava acima das tendências internas.
Foi a aversão à discussão entre tendências que ela levou para o instituto.


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