São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Candidata derrotada à prefeitura da capital paulista contrariou orientação da direção nacional do PSB, que pediu apoio a Marta

Erundina e PMDB decidem pela 'independência'

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contrariando decisão da Executiva Nacional, que ontem recomendou apoio a Marta Suplicy (PT) no segundo turno em São Paulo, a candidata derrotada Luiza Erundina (PSB) se declarou "independente" e disse que não apoiará a reeleição da prefeita nem do rival José Serra (PSDB).
Ao anunciar sua decisão, em São Paulo, Erundina estava acompanhada do presidente do PMDB, Michel Temer, que foi candidato a vice em sua chapa, do presidente estadual do partido, Orestes Quércia, e do presidente municipal do PSB, José Carlos Venâncio.
As duas siglas divulgaram nota na qual ratificam a disposição conjunta de ser "independentes" na disputa. As legendas evitaram usar a expressão neutros. "Decidimos não apoiar nenhum dos dois candidatos, deixando, porém, a decisão sobre em quem votar em aberto aos companheiros dos partidos", afirma o texto.
O presidente do PT, José Genoino, disse "não entender" a neutralidade de Erundina, que foi prefeita de São Paulo pelo partido. "Sou de uma geração que nunca aceitou a neutralidade, até porque sempre estive lá, escolhi o caminho e paguei todos os riscos por esses caminhos." Erundina respondeu de forma semelhante. "Não estou neutra, estou independente. Jamais serei neutra, nunca fui na vida e tenho pago preço alto por isso."
Pela manhã, a Executiva Nacional do PSB se reuniu em Brasília para tornar oficial o apoio da legenda à candidatura de Marta, mas o encontro não contou com a presença de Erundina. Para ela, "não há incoerência no fato de o PSB nacional ter uma decisão, e o municipal, outra".
Em carta enviada para o encontro, a candidata derrotada do PSB disse ter sido prejudicada por ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador tucano Geraldo Alckmin e classificou as campanhas do PT e do PSDB de "artificiais" e "meramente publicitárias".
O presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, argumentou que não podia "obrigar" Erundina a declarar apoio a Marta e que a decisão da Executiva se deu pela oposição ao PSDB.
"Não temos ligação com o campo de ação do Serra, do Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Sempre combatemos a política que eles fizeram", afirmou Arraes.
O apoio da Executiva Nacional da legenda, sem a participação da candidata, foi classificado de a "decisão possível" pelo secretário-geral do partido e líder da bancada de deputados federais, Renato Casagrande (ES).
"Foi a decisão possível em um quadro de primeiro turno com muitos atritos [entre Marta e Erundina]", afirmou ele.
Na carta que enviou, Erundina disse torcer para que haja um debate politizado no segundo turno. "O tratamento meramente publicitário que opôs um "Serra do bem" a uma "Marta coragem" abortou o debate sobre os graves problemas que vive nossa cidade", disse. Ela criticou ainda a ausência de vontade de Marta e Serra para liderar "um movimento político nacional de reversão" da atual política econômica.

Voto útil
Tanto Erundina como Michel Temer insistiram na crítica à política econômica adotada pelo atual governo federal e pelos tucanos. "Os dois candidatos representam uma política que não serve a São Paulo e ao Brasil", afirmou a deputada federal.
O texto assinado pela candidata derrotada, por Temer, Quércia e Venâncio, afirma que "as duas candidaturas não questionaram, durante a campanha, a política econômica do país como principal causa dos graves problemas de São Paulo e de todas as cidades brasileiras".
Apesar das críticas, o presidente nacional do PMDB disse que "não há incoerência" por parte dos dois partidos, que apóiam Lula no Congresso. "Só porque participamos da base de apoio, não significa que tenhamos de aderir a todas as teses do governo e que não podemos ter candidatos."
Temer disse que "desde o primeiro turno houve [a pregação do] voto útil". Para ele, o apoio do PMDB ao governo federal não está comprometido por causa da opção do partido de não apoiar a candidata do PT.
Michel Temer chegou a desafiar o governo federal. "A decisão de manter o PMDB no governo é do próprio governo."
Mesmo sem a declaração de voto de Temer, o Marta ganhou o apoio do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em Porto Alegre, porém, o PT não conseguiu a adesão do governador Germano Rigotto (PMDB), que já disse que vai apoiar José Fogaça (PPS) contra Raul Pont (PT).

PL
PT e PL não se entenderam, ontem, numa reunião marcada para acertar a participação do PL na campanha do segundo turno das eleições municipais de São Paulo.
Partido da coligação que sustenta a candidatura de Marta Suplicy, o PL não está satisfeito com os que os seus dirigentes classificam de posição "decorativa" da legenda na campanha.
Na opinião de líderes do PL, "falta humildade ao PT para admitir que precisa dos aliados para ganhar votos em regiões nas quais José Serra superou Marta".
O PL elegeu três vereadores -Antonio Carlos Rodrigues (9º mais votado), Toninho Paiva (17º) e Aurélio Miguel (25º).
Juntos, ele tiveram 141.310 dos 283.163 da legenda, já somados os recebidos pelo PTN, com o qual o PL se coligou na eleição proporcional. É mais da metade da diferença entre Serra e Marta.
Na avaliação do PL municipal, o relacionamento entre os partidos "retrocedeu" após o encontro.
A principal intenção do PT era contar com algumas lideranças da base aliada para tentar somar influência na aproximação com Paulo Maluf e seus eleitores. Até agora, porém, nada foi acertado.


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