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SÃO PAULO
Candidata derrotada à prefeitura da capital paulista contrariou orientação da direção nacional do PSB, que pediu apoio a Marta
Erundina e PMDB decidem pela 'independência'
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contrariando decisão da Executiva Nacional, que ontem recomendou apoio a Marta Suplicy
(PT) no segundo turno em São
Paulo, a candidata derrotada Luiza Erundina (PSB) se declarou
"independente" e disse que não
apoiará a reeleição da prefeita
nem do rival José Serra (PSDB).
Ao anunciar sua decisão, em
São Paulo, Erundina estava acompanhada do presidente do PMDB,
Michel Temer, que foi candidato a
vice em sua chapa, do presidente
estadual do partido, Orestes
Quércia, e do presidente municipal do PSB, José Carlos Venâncio.
As duas siglas divulgaram nota
na qual ratificam a disposição
conjunta de ser "independentes"
na disputa. As legendas evitaram
usar a expressão neutros. "Decidimos não apoiar nenhum dos
dois candidatos, deixando, porém, a decisão sobre em quem votar em aberto aos companheiros
dos partidos", afirma o texto.
O presidente do PT, José Genoino, disse "não entender" a neutralidade de Erundina, que foi prefeita de São Paulo pelo partido. "Sou
de uma geração que nunca aceitou a neutralidade, até porque
sempre estive lá, escolhi o caminho e paguei todos os riscos por
esses caminhos." Erundina respondeu de forma semelhante.
"Não estou neutra, estou independente. Jamais serei neutra,
nunca fui na vida e tenho pago
preço alto por isso."
Pela manhã, a Executiva Nacional do PSB se reuniu em Brasília
para tornar oficial o apoio da legenda à candidatura de Marta,
mas o encontro não contou com a
presença de Erundina. Para ela,
"não há incoerência no fato de o
PSB nacional ter uma decisão, e o
municipal, outra".
Em carta enviada para o encontro, a candidata derrotada do PSB
disse ter sido prejudicada por
ações do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e do governador tucano Geraldo Alckmin e classificou as campanhas do PT e do
PSDB de "artificiais" e "meramente publicitárias".
O presidente nacional do PSB,
Miguel Arraes, argumentou que
não podia "obrigar" Erundina a
declarar apoio a Marta e que a decisão da Executiva se deu pela
oposição ao PSDB.
"Não temos ligação com o campo de ação do Serra, do Fernando
Henrique Cardoso, do PSDB.
Sempre combatemos a política
que eles fizeram", afirmou Arraes.
O apoio da Executiva Nacional
da legenda, sem a participação da
candidata, foi classificado de a
"decisão possível" pelo secretário-geral do partido e líder da
bancada de deputados federais,
Renato Casagrande (ES).
"Foi a decisão possível em um
quadro de primeiro turno com
muitos atritos [entre Marta e
Erundina]", afirmou ele.
Na carta que enviou, Erundina
disse torcer para que haja um debate politizado no segundo turno.
"O tratamento meramente publicitário que opôs um "Serra do
bem" a uma "Marta coragem"
abortou o debate sobre os graves
problemas que vive nossa cidade", disse. Ela criticou ainda a ausência de vontade de Marta e Serra para liderar "um movimento
político nacional de reversão" da
atual política econômica.
Voto útil
Tanto Erundina como Michel
Temer insistiram na crítica à política econômica adotada pelo atual
governo federal e pelos tucanos.
"Os dois candidatos representam
uma política que não serve a São
Paulo e ao Brasil", afirmou a deputada federal.
O texto assinado pela candidata
derrotada, por Temer, Quércia e
Venâncio, afirma que "as duas
candidaturas não questionaram,
durante a campanha, a política
econômica do país como principal causa dos graves problemas
de São Paulo e de todas as cidades
brasileiras".
Apesar das críticas, o presidente
nacional do PMDB disse que "não
há incoerência" por parte dos
dois partidos, que apóiam Lula no
Congresso. "Só porque participamos da base de apoio, não significa que tenhamos de aderir a todas
as teses do governo e que não podemos ter candidatos."
Temer disse que "desde o primeiro turno houve [a pregação
do] voto útil". Para ele, o apoio do
PMDB ao governo federal não está comprometido por causa da
opção do partido de não apoiar a
candidata do PT.
Michel Temer chegou a desafiar
o governo federal. "A decisão de
manter o PMDB no governo é do
próprio governo."
Mesmo sem a declaração de voto de Temer, o Marta ganhou o
apoio do presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP). Em Porto Alegre, porém, o PT não conseguiu a adesão do governador Germano Rigotto (PMDB), que já
disse que vai apoiar José Fogaça
(PPS) contra Raul Pont (PT).
PL
PT e PL não se entenderam, ontem, numa reunião marcada para
acertar a participação do PL na
campanha do segundo turno das
eleições municipais de São Paulo.
Partido da coligação que sustenta a candidatura de Marta Suplicy, o PL não está satisfeito com
os que os seus dirigentes classificam de posição "decorativa" da
legenda na campanha.
Na opinião de líderes do PL,
"falta humildade ao PT para admitir que precisa dos aliados para
ganhar votos em regiões nas quais
José Serra superou Marta".
O PL elegeu três vereadores
-Antonio Carlos Rodrigues (9º
mais votado), Toninho Paiva
(17º) e Aurélio Miguel (25º).
Juntos, ele tiveram 141.310 dos
283.163 da legenda, já somados os
recebidos pelo PTN, com o qual o
PL se coligou na eleição proporcional. É mais da metade da diferença entre Serra e Marta.
Na avaliação do PL municipal, o
relacionamento entre os partidos
"retrocedeu" após o encontro.
A principal intenção do PT era
contar com algumas lideranças da
base aliada para tentar somar influência na aproximação com
Paulo Maluf e seus eleitores. Até
agora, porém, nada foi acertado.
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