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Órgãos negam apreensão de fitas durante operação
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal e o Ministério
Público Federal afirmaram que as
42 fitas de escuta telefônica sobre
o assassinato do prefeito de Santo
André Celso Daniel (PT), morto
em janeiro de 2002, não foram
apreendidas durante a Operação
Anaconda, megainvestigação sobre venda de sentença judicial.
A declaração feita pelos dois órgãos -responsáveis por todas as
buscas e apreensões de documentos- contradiz a versão do juiz
federal João Carlos da Rocha Mattos, que ontem foi afastado do
cargo e preso pela Polícia Federal.
Ele afirmou que as gravações foram aprendidas pela PF no apartamento de sua ex-mulher Norma
Regina Emílio Cunha, que também está presa.
A afirmação causou repercussão por dois motivos. Primeiro,
porque as escutas atingem petistas diretamente ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo, porque foi o próprio
Rocha Mattos que, em abril, considerou as gravações ilegais e determinou a destruição delas.
"Recebi as fitas da Justiça estadual e pedi a Norma que as guardasse em sua casa, que era mais
seguro", afirmou o juiz afastado.
A juíza-corregedora Ivana David Boriero, do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais),
afirmou ontem que encaminhou
as 42 fitas à secretaria da 4ª Vara
Criminal, de Rocha Mattos, às
11h30 do dia 29 de abril deste ano.
Boriero tinha o material porque
foi seu antecessor no cargo, Maurício Lemos Porto Alves, que autorizou a quebra dos sigilos telefônicos solicitados pela PF para investigar o assassinato do prefeito
Celso Daniel.
A Polícia Federal afirma que, no
apartamento de Cunha, apreendeu outras fitas cassete com conversas gravadas pela ex-mulher
de Rocha Mattos com pessoas ligadas ao grupo investigado. Ela
afirmou que vinha recebendo
ameaças e queria se proteger.
Se a declaração feita por Rocha
Mattos não for confirmada, o juiz
afastado estará sujeito a dois tipos
de denúncias: a) falsidade ideológica, porque mandou destruir,
porém manteve cópias das escutas telefônicas; b) denunciação caluniosa, ao sugerir que a Polícia
Federal "sumiu" com as fitas
apreendidas no apartamento de
sua ex-mulher.
O advogado de Cunha, Paulo
Esteves, foi procurado ontem pela
reportagem para comentar o assunto. Ele afirmou desconhecer se
sua cliente mantinha as fitas de
Santo André em seu apartamento, como afirma Rocha Mattos.
O juiz afastado mantinha ainda
um outro documento relacionado ao PT. Na última terça-feira, ao
receber jornalistas em seu gabinete na Justiça Federal, tinha sobre a
mesa um pedido de abertura de
inquérito contra o ministro José
Dirceu (Casa Civil).
Esse pedido, também relacionado ao caso da prefeitura petista de
Santo André, foi arquivado há pelo menos um ano e quatro meses
por determinação do ministro
Nelson Jobim, do STF (Supremo
Tribunal Federal).
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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