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Especialistas atacam quebra de privacidade por parte da PF
ANA FLOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas na área constitucional criticaram o fato de a
Polícia Federal ter obtido, sem
autorização judicial, informações que dizem respeito à privacidade de cidadãos.
O delegado responsável pela
investigação de vazamento da
Satiagraha, Amaro Vieira Ferreira, disse ontem que a informação solicitada à Nextel foi a
das antenas que atendem áreas
onde se localizavam os jornalistas avisados da operação.
Para o advogado constitucionalista João Antonio Wiegerinck, "mapear" ou "cercar"
uma região, descobrindo que
antenas atendem a área, não
deixa de ser quebra da privacidade do indivíduo, mesmo que
os dados obtidos não informem
números telefônicos. "Falou
em telefone, só com autorização judicial", disse.
Para o advogado Afrânio Affonso Ferreira Neto, "é óbvio"
que o pedido de rastreamento
das antenas se configura quebra de sigilo sem a autorização
do Judiciário. "A norma constitucional não se restringe ao telefone propriamente dito, mas
à comunicação", afirmou.
Sobre a constitucionalidade
ou não da tentativa da PF de
descobrir a fonte dos jornalistas que foram avisados da operação, os especialistas dizem
que é garantido na Constituição que o jornalista proteja sua
fonte. Não há, entretanto, previsão legal que obrigue a PF a
respeitar este sigilo. Segundo
Wiegerinck, a decisão de respeitá-la ou não é uma decisão
"moral" da autoridade policial.
"Essa [o sigilo da fonte] é
uma garantia do jornalista. O
delegado está na função dele",
comentou Ferreira Neto.
O presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Mozart Valadares Pires,
afirmou que se for confirmada
a quebra de sigilo "em qualquer
grau", a PF cometeu um crime.
Entidades que defendem o
direito à livre imprensa foram
cautelosas. A ANJ (Associação
Nacional de Jornais) preferiu
não se manifestar. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa)
afirmou apenas que manterá
sempre uma posição em defesa
do sigilo da fonte.
Sobre a PF investigar paralelamente, por meios legais, o autor do vazamento de informação, o presidente da entidade,
Maurício Azêdo, afirmou que
"a investigação à parte escapa
ao controle das disposições
constitucionais".
Por meio de nota, Sandro
Torres Avelar, presidente da
ADPF (Associação Nacional
dos Delegados de Polícia Federal), afirmou que a associação
não irá "emitir juízo de valor".
A nota diz que as diligências da
PF "posicionaram em lados
opostos, no papel de investigados e de investigadores, colegas
da corporação".
Para o advogado Fábio Konder Comparato, a operação deve provocar reflexões. "Casos
assim mostram que a polícia judiciária [que cuida de investigações, como a PF e a Polícia Civil] precisa ter ampla autonomia em relação ao Executivo."
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