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Delegado se diz vítima de "banqueiro bandido"
Protógenes Queiroz afirma que "o bandido do Daniel Dantas vai ser condenado"; advogado do banqueiro não se manifesta
Delegado diz que pensa em deixar a PF e revela que não conseguirá concluir a tese, pois os agentes levaram seu texto durante a apreensão
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alegando ser vítima de uma
ação planejada pelo banqueiro
Daniel Dantas, preso por ele
em julho, na Operação Satiagraha, o delegado Protógenes
Queiroz afirmou ontem, em palestra em Brasília sobre corrupção, que o momento político no
Brasil é de "proteger bandido".
Com críticas veladas às atuações do STF (Supremo Tribunal Federal) e da cúpula da Polícia Federal, com quem trava
uma batalha nos bastidores,
Protógenes disse estranhar o
fato de o inquérito da Satiagraha não ter ido ao Supremo e se
referiu várias vezes ao dono do
Opportunity como "bandido".
"Já foi uma vitória ter conseguido colocar esse banqueiro
bandido na cadeia, ainda que
por 48 horas", disse e completou: "De gênio financista a gênio fraudador".
Segundo o delegado, "há pessoas com foro privilegiado" no
inquérito da Satiagraha, isso
explicaria o envio do caso ao
STF. "Estranhei o fato de o inquérito não ter subido [para o
STF]. Havia elementos para isso." Ele não nomeou as supostas autoridades envolvidas.
Em palestra de mais de três
horas a estudantes de pós-graduação em direito da Universidade Católica de Brasília, Protógenes se emocionou ao receber carta de um jovem que o
apontou como "herói".
Ao comentar o que chamou
de "estratégia sórdida" arquitetada por Daniel Dantas, com o
objetivo de criar uma "confusão processual", Protógenes
disse esperar que o banqueiro
seja condenado e que vá para a
"cadeia", caso contrário, pode
ocorrer no país um "efeito multiplicador" da impunidade.
"O bandido do Daniel Dantas
vai ser condenado, tenho absoluta convicção. Isso se não afastarem antes o doutor Fausto De
Sanctis", disse. De Sanctis é o
juiz da 6ª Vara Federal da Justiça de São Paulo que decretou
as duas prisões do banqueiro.
Ele deve concluir ainda neste
mês inquérito relatado por
Protógenes em que Dantas é
acusado de tentar subornar um
policial federal durante as investigações da Satiagraha.
A Folha não conseguiu falar
ontem com Nelio Machado, advogado de Dantas. Ele estava
em reunião e não ligou de volta
até a conclusão desta edição.
Protógenes contou ter pensando em trocar a PF pela advocacia, pressão que disse sofrer da família há anos.
Ele retorna ao trabalho na
PF no próximo dia 26. Seu trabalho de conclusão de curso sobre inquérito policial, requisito
para concluir a especialização
na Academia de Polícia, não será concluído, pois a tese foi
apreendida na ação realizada
em seus endereços: "Também
faltam condições psicológicas".
O delegado afirmou que vai
tomar providências contra o
cumprimento dos mandados
judiciais de busca e apreensão
de documentos, realizado pela
PF na quarta com o objetivo de
apurar o vazamento de dados
sigilosos durante a execução da
Satiagraha. "Foi uma ação armada para dar sustentabilidade à patranha", disse, referindo-se ao fato de o STF ter julgado o mérito do habeas corpus
concedido a Dantas no dia seguinte. "O poder desse bandido
já chegou ao extremo neste
país -o poder dele e de seus
tentáculos no poder."
O presidente do STF, Gilmar
Mendes, não quis comentar a
afirmação de Protógenes. "Não
discuto com delegado", disse.
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