São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008

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Delegado se diz vítima de "banqueiro bandido"

Protógenes Queiroz afirma que "o bandido do Daniel Dantas vai ser condenado"; advogado do banqueiro não se manifesta

Delegado diz que pensa em deixar a PF e revela que não conseguirá concluir a tese, pois os agentes levaram seu texto durante a apreensão

LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alegando ser vítima de uma ação planejada pelo banqueiro Daniel Dantas, preso por ele em julho, na Operação Satiagraha, o delegado Protógenes Queiroz afirmou ontem, em palestra em Brasília sobre corrupção, que o momento político no Brasil é de "proteger bandido".
Com críticas veladas às atuações do STF (Supremo Tribunal Federal) e da cúpula da Polícia Federal, com quem trava uma batalha nos bastidores, Protógenes disse estranhar o fato de o inquérito da Satiagraha não ter ido ao Supremo e se referiu várias vezes ao dono do Opportunity como "bandido".
"Já foi uma vitória ter conseguido colocar esse banqueiro bandido na cadeia, ainda que por 48 horas", disse e completou: "De gênio financista a gênio fraudador".
Segundo o delegado, "há pessoas com foro privilegiado" no inquérito da Satiagraha, isso explicaria o envio do caso ao STF. "Estranhei o fato de o inquérito não ter subido [para o STF]. Havia elementos para isso." Ele não nomeou as supostas autoridades envolvidas.
Em palestra de mais de três horas a estudantes de pós-graduação em direito da Universidade Católica de Brasília, Protógenes se emocionou ao receber carta de um jovem que o apontou como "herói".
Ao comentar o que chamou de "estratégia sórdida" arquitetada por Daniel Dantas, com o objetivo de criar uma "confusão processual", Protógenes disse esperar que o banqueiro seja condenado e que vá para a "cadeia", caso contrário, pode ocorrer no país um "efeito multiplicador" da impunidade.
"O bandido do Daniel Dantas vai ser condenado, tenho absoluta convicção. Isso se não afastarem antes o doutor Fausto De Sanctis", disse. De Sanctis é o juiz da 6ª Vara Federal da Justiça de São Paulo que decretou as duas prisões do banqueiro.
Ele deve concluir ainda neste mês inquérito relatado por Protógenes em que Dantas é acusado de tentar subornar um policial federal durante as investigações da Satiagraha.
A Folha não conseguiu falar ontem com Nelio Machado, advogado de Dantas. Ele estava em reunião e não ligou de volta até a conclusão desta edição.
Protógenes contou ter pensando em trocar a PF pela advocacia, pressão que disse sofrer da família há anos.
Ele retorna ao trabalho na PF no próximo dia 26. Seu trabalho de conclusão de curso sobre inquérito policial, requisito para concluir a especialização na Academia de Polícia, não será concluído, pois a tese foi apreendida na ação realizada em seus endereços: "Também faltam condições psicológicas".
O delegado afirmou que vai tomar providências contra o cumprimento dos mandados judiciais de busca e apreensão de documentos, realizado pela PF na quarta com o objetivo de apurar o vazamento de dados sigilosos durante a execução da Satiagraha. "Foi uma ação armada para dar sustentabilidade à patranha", disse, referindo-se ao fato de o STF ter julgado o mérito do habeas corpus concedido a Dantas no dia seguinte. "O poder desse bandido já chegou ao extremo neste país -o poder dele e de seus tentáculos no poder."
O presidente do STF, Gilmar Mendes, não quis comentar a afirmação de Protógenes. "Não discuto com delegado", disse.


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