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Saída de Lacerda desencadeou atritos entre PF e delegado
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação realizada na última quarta-feira pela Corregedoria Geral da Polícia Federal
contra policiais que atuaram na
Operação Satiagraha é o ponto
culminante dos atritos que
marcam a relação da cúpula da
PF com o delegado Protógenes
Queiroz, desde o final do ano
passado.
Após a saída do diretor-geral
da PF, Paulo Lacerda, em setembro de 2007, o delegado
passou a se queixar, intramuros, da falta de apoio institucional para a Satiagraha. A operação foi criada na gestão de Lacerda, um incentivador da carreira de Protógenes. Foi Lacerda quem o transferiu, em 2003,
de São Paulo para a Diretoria de
Inteligência Policial, em Brasília, uma das seis vinculadas à
direção geral.
Ciente do conteúdo explosivo da Satiagraha, Protógenes
esperava receber maior apoio
do novo diretor-geral, Luiz
Fernando Corrêa, homem de
confiança do ministro da Justiça, Tarso Genro -Corrêa, gaúcho como o ministro, era o secretário nacional de Segurança.
De certa forma, o apoio a
Protógenes começou a ruir antes, em março de 2007, quando
o então ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, deixou
o cargo. Ele era o avalista político de Lacerda, que permaneceu
no comando da PF por somente mais seis meses. Foi despachado logo depois que o irmão
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, Genival, o "Vavá", foi
indiciado pela PF de Mato
Grosso do Sul.
Protógenes passou a penar
com a "sua" Satiagraha. Comentou com colegas que nunca
foi recebido por Corrêa em audiência para falar do assunto,
um sinal de desprestígio. Dizia
precisar de mais policiais para
analisar os documentos e as
centenas de interceptações telefônicas dos investigados. Só
de Nova York, por exemplo, o
delegado recebeu 250 caixas de
papéis sobre o banqueiro Daniel Dantas e o Opportunity.
O delegado também começou a suspeitar de vazamentos.
A Folha apurou que ele temia
que isso pudesse partir de colegas da administração central
da PF. A prisão temporária do
número dois do órgão, Romero
Menezes, em setembro deste
ano, sob suspeita de vazamento
no Amapá, deu argumentos às
suspeitas de Protógenes.
Sentindo-se isolado, ele buscou apoio na Abin (Agência
Brasileira de Inteligência), então chefiada por Paulo Lacerda.
Obteve o apoio de quatro oficiais de inteligência da Abin,
em sistema de revezamento.
Ao todo, mais de 50 servidores
da Abin participaram das investigações.
Em entrevista a alunos de
jornalismo da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) de São
Paulo nesta semana, divulgada
pelo site "Terra Magazine",
Protógenes contou as dificuldades que disse ter encontrado
após a saída de Lacerda.
"Durante a gestão do doutor
Paulo Lacerda, ele fornecia todo o aparato necessário para a
investigação. (...) Sabíamos
que, se ele não permanecesse,
haveria dificuldades. Uma troca, ainda que planejada, sempre traz prejuízos. Vide o que
nos aconteceu, tivemos dificuldades que atribuo a essa troca
repentina em que o novo diretor-geral não teve oportunidade para conhecer o funcionamento da PF, atrapalhando o
andamento das operações."
A participação da Abin chegou à cúpula da PF de forma
fortuita -um chefe do delegado deu de cara com um conhecido da agência, Márcio Seltz,
trabalhando no prédio da PF.
Os chefes ficaram transtornados com a informação. Em
depoimento prestado à CPI
dos Grampos no dia 15 de outubro, em Brasília, Daniel Lorenz
de Azevedo, diretor da DIP (Divisão de Inteligência Policial)
da PF de Brasília, atacou duramente o Protógenes. "Isso nos
deixa extremamente chocados,
a forma desleal com que ele se
portou perante o Departamento de Polícia Federal, perante
mim, como diretor de Inteligência, e perante, principalmente, os seus comandados (...)
Isso parece mais uma conspiração do que uma compartimentação."
Quando Protógenes passou a
ser atacado por defeitos e exageros do inquérito, até em entrevista coletiva do ministro
Tarso Genro, a cúpula da PF
encontrou o momento para
pressioná-lo a deixar a investigação. A gravação da reunião
que selou seu afastamento é sigilosa.
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